São Paulo, sexta, 16 de outubro de 1998

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MUNDO DE BACO
Barbaresco pesa no bolso

JORGE CARRARA
Colunista da Folha

Uma degustação dedicada aos Barbarescos, tintos encorpados e vigorosos do Piemonte, norte da Itália, realizada recentemente em São Paulo, mostrou claramente, mais uma vez, que Angelo Gaja é um dos melhores produtores da região.
A prova foi organizada pela Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo como parte de um programa da entidade que leva aos copos, todos os meses, belos exemplares das mais famosas províncias vinícolas do planeta, disponíveis no mercado.
Depois dos Barbarescos, será a vez dos grandes "crus" de Bordeaux, ainda neste mês.
Os três Barbarescos de Gaja que entraram na degustação (Costa Russi e Sori San Lorenzo, ambos safra 90, e Sori Tildin 86) roubaram o show.
O Costa Russi agradou pelo aroma intenso e seu sabor rico (baunilha, cerejas, kirsch). Frutas secas e ameixas predominaram no aroma do Sori Tildin, um pouco mais redondo na boca, com boa textura e concentração de fruta.
Já o Sori San Lorenzo foi o mais complexo do trio. Alecrim e coco dominaram o aroma, rodeando um núcleo de fruta (cereja, como no Costa Russi) presente também no seu paladar -equilibrado, com taninos redondos e final longo com certo toque de chocolate.
Os três tintos de Gaja, porém, podem deixar uma sensação bastante amarga.
Não no paladar, mas no bolso, já que as suas performances, apesar de muito boas, não justificam seus preços, francamente exorbitantes.
O resto do painel deixou claro dois pontos. O primeiro é que uma boa parte dos mais renomados vitivinicultores de Barbaresco não conseguem extrair ainda da uva Nebbiolo (base destes tintos) toda a fruta, charme e concentração esperada num vinho (com esses preços) de bom nível internacional.
Representaram esta ala na degustação Bruno Giacosa (San Stefano 95, austero, sem fruta suficiente para sustentar os taninos, e Gallina di Neive 95, com leve aroma de barril sujo, um pouco rude na boca), Marchesi di Grésy (Martinenga 90, de aroma curto, áspero e de sabor pobre) e Ceretto (com seu Fasêt 95, de bom aroma, mas paladar curto).
O segundo ponto é que, no embalo da revolução iniciada no Piemonte por Gaja (um enólogo treinado na França, que introduziu na região técnicas modernas de vinificação e o uso de barris de carvalho novo para amadurecer os vinhos), alguns produtores estão emplacando exemplares bem modelados -felizmente, com preços mais em conta do que os do mestre.
Um exemplo é o Rio Sordo 95, dos irmãos Valerio e Saverio Giacosa (que completou o painel), um vinho de aroma agradável (nozes, pipoca, certo defumado, fruta) e paladar tânico, mas com bom conteúdo de fruta mesclada com uma deliciosa pitada de baunilha.



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