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FASHION TRIP
Designers de São Paulo fazem lançamento no Rio de Janeiro em clima de cooperativa e nada de glamour
Casa dos Estilistas aposta em "faça você mesmo"
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
"É um clichê, mas a união faz a
força." Sentado em volta da piscina de uma casa no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, o estilista J.
Pig, que desfila no Amni Hot
Spot, comentava isso com os colegas de profissão Eduardo Inagaki
e Fabio Gurjão. A felicidade era
por conta do sucesso da Fashion
House, que reuniu alguns dos
principais jovens estilistas de São
Paulo no Rio na semana passada
-tudo em esquema "faça você
mesmo" e com zero de glamour.
A turma -que teve também os
estilistas da Dudu Bertholini e Rita Comparato ( Neon), Carol Gold
e Pitty Taliani (Amapô), Rita
Wainer (Theodora), Carol Martins (Madalena), Melissa (De Preyer) e Karlla Girotto- viajou para o Rio de ônibus e passou o final
de semana morando e vivendo
em uma casa como se estivessem
em uma comunidade alternativa.
"Quem é pequeno precisa ser
criativo", explicava Rita Wainer,
da Theodora, a criadora do projeto. A idéia da moça, que, se materializou na semana passada, foi a
seguinte: "Por que a gente não
aluga uma casa, um ônibus e cria
uma casa de estilistas onde a gente
possa vender e ficar se divertindo?". Aconteceu exatamente isso.
Os estilistas abriram as portas
do andar de baixo da casa para
mostrar (e vender) suas coleções,
enquanto viviam uma experiência estilo "Big Brother". Toda a
equipe, mais o staff de produção,
dividiu os quatro quartos da casa.
"Aqui dorme o Dudu, a Karla Girotto, a Rita Comparato e o Fábio
Gujão", dizia Rita Wainer enquanto apontava para finos colchonetes largados pelo chão. "O
Dudu é grande, coitado, então
dorme com o pé para fora."
Para tomar banho, água fria. E,
para comer, quentinhas da padaria da esquina.
Às duas da tarde, o bazar abria
para o público. O que não significava "ficar sério" para agradar
clientes. Sábado, com o sol forte,
os estilistas tomavam banho de
piscina e deitavam um no colo do
outro, ao lado da piscina entre
uma venda e outra, para tomar
sol. Rita Comparato, da Neon,
atendia clientes de maiô. E, nas
horas mais animadas, os estilistas
criavam "ações promocionais",
que consistiam em desfilar sob
aplausos dos colegas usando suas
peças. Ou gritar "Adquire! Adquire!" ou "Ista, ista, ista, adote um
estilista", os gritos de guerra do final de semana. Cada cliente que
saía do provador improvisado
exibindo uma das peças era recebido com aplausos.
"Esse evento mostra que a gente
tem uma força maior do que pensava. Não temos ninguém por
trás, fizemos tudo sozinhos", comemorava Inagaki, que vende
suas peças na Ellus Second Floor e
em pontos de venda no Japão e
nos EUA. "É importante que as
pessoas vejam as roupas fora do
contexto de desfile e conheçam a
gente, porque o trabalho de todo
mundo que está aqui é muito pessoal", dizia Bertholini, que exibiu
suas criações no próprio corpo.
A falta de galmour, de acordo
com Rita, tem a ver com o jeito
dos estilistas escolhidos. "Tem
gente que finge que está cheio de
dinheiro, mas não é o nosso caso.
A gente trabalha, dá duro e não
tem dinheiro sobrando não", dizia Fábio Gurjão, que além de
criar sua própria grife, trabalha
como estilista da Ellus.
O "faça você mesmo" deu certo.
Na volta para São Paulo, enquanto carregavam cadeiras às cinco
da manhã para dentro do ônibus
alugado, os estilistas comemoravam as vendas -cerca de um terço do que levaram. Nos planos, fazer edições da Fashion House em
cidades onde não têm pontos de
venda, como Porto Alegre e Recife. Na bagagem, muitas histórias
engraçadas, como os apelidos que
ganharam na estada carioca. Foram chamados de "novos paulistas" por clientes, numa alusão aos
Novos Baianos e de "coloridinhos
de alma triste" por freqüentadores de um restaurante da Gávea.
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