São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

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FASHION TRIP

Designers de São Paulo fazem lançamento no Rio de Janeiro em clima de cooperativa e nada de glamour

Casa dos Estilistas aposta em "faça você mesmo"

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

"É um clichê, mas a união faz a força." Sentado em volta da piscina de uma casa no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, o estilista J. Pig, que desfila no Amni Hot Spot, comentava isso com os colegas de profissão Eduardo Inagaki e Fabio Gurjão. A felicidade era por conta do sucesso da Fashion House, que reuniu alguns dos principais jovens estilistas de São Paulo no Rio na semana passada -tudo em esquema "faça você mesmo" e com zero de glamour.
A turma -que teve também os estilistas da Dudu Bertholini e Rita Comparato ( Neon), Carol Gold e Pitty Taliani (Amapô), Rita Wainer (Theodora), Carol Martins (Madalena), Melissa (De Preyer) e Karlla Girotto- viajou para o Rio de ônibus e passou o final de semana morando e vivendo em uma casa como se estivessem em uma comunidade alternativa.
"Quem é pequeno precisa ser criativo", explicava Rita Wainer, da Theodora, a criadora do projeto. A idéia da moça, que, se materializou na semana passada, foi a seguinte: "Por que a gente não aluga uma casa, um ônibus e cria uma casa de estilistas onde a gente possa vender e ficar se divertindo?". Aconteceu exatamente isso.
Os estilistas abriram as portas do andar de baixo da casa para mostrar (e vender) suas coleções, enquanto viviam uma experiência estilo "Big Brother". Toda a equipe, mais o staff de produção, dividiu os quatro quartos da casa. "Aqui dorme o Dudu, a Karla Girotto, a Rita Comparato e o Fábio Gujão", dizia Rita Wainer enquanto apontava para finos colchonetes largados pelo chão. "O Dudu é grande, coitado, então dorme com o pé para fora."
Para tomar banho, água fria. E, para comer, quentinhas da padaria da esquina.
Às duas da tarde, o bazar abria para o público. O que não significava "ficar sério" para agradar clientes. Sábado, com o sol forte, os estilistas tomavam banho de piscina e deitavam um no colo do outro, ao lado da piscina entre uma venda e outra, para tomar sol. Rita Comparato, da Neon, atendia clientes de maiô. E, nas horas mais animadas, os estilistas criavam "ações promocionais", que consistiam em desfilar sob aplausos dos colegas usando suas peças. Ou gritar "Adquire! Adquire!" ou "Ista, ista, ista, adote um estilista", os gritos de guerra do final de semana. Cada cliente que saía do provador improvisado exibindo uma das peças era recebido com aplausos.
"Esse evento mostra que a gente tem uma força maior do que pensava. Não temos ninguém por trás, fizemos tudo sozinhos", comemorava Inagaki, que vende suas peças na Ellus Second Floor e em pontos de venda no Japão e nos EUA. "É importante que as pessoas vejam as roupas fora do contexto de desfile e conheçam a gente, porque o trabalho de todo mundo que está aqui é muito pessoal", dizia Bertholini, que exibiu suas criações no próprio corpo.
A falta de galmour, de acordo com Rita, tem a ver com o jeito dos estilistas escolhidos. "Tem gente que finge que está cheio de dinheiro, mas não é o nosso caso. A gente trabalha, dá duro e não tem dinheiro sobrando não", dizia Fábio Gurjão, que além de criar sua própria grife, trabalha como estilista da Ellus.
O "faça você mesmo" deu certo. Na volta para São Paulo, enquanto carregavam cadeiras às cinco da manhã para dentro do ônibus alugado, os estilistas comemoravam as vendas -cerca de um terço do que levaram. Nos planos, fazer edições da Fashion House em cidades onde não têm pontos de venda, como Porto Alegre e Recife. Na bagagem, muitas histórias engraçadas, como os apelidos que ganharam na estada carioca. Foram chamados de "novos paulistas" por clientes, numa alusão aos Novos Baianos e de "coloridinhos de alma triste" por freqüentadores de um restaurante da Gávea.


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