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TV ABERTA
"Durval Discos" reabre sessão "Cine Brasil"
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há um quê de ironia na volta
da sessão "Cine Brasil" à TV
Cultura. Fora da grade de programação do canal há quase oito meses, ela retorna hoje com o premiado "Durval Discos".
Ironia porque a faixa, que antes
ia ao ar nas tardes de domingo,
trazia comédias dos anos 50, amenidades da Vera Cruz ou os tropeços de Mazzaroppi. Para esses antigos telespectadores, "Durval"
deve provocar a mesma reação
que teve quando passou nos cinemas, em 2003. Para um público
mais desatento, "Durval" tem
duas faces, como um prato de comida que se imagina leve, mas
queima à boca, descendo pesado.
Há uma certa ironia involuntária também porque "Durval Discos" é a história de um fracasso,
de um processo inevitável de decadência -a sessão da TV Cultura, enfim, celebra o cinema brasileiro, certo? Assim é o quarentão
do título, sujeito boa-praça (ou
meramente tolo) que estacionou
sua vida lá pelos anos 70 e vive na
sua cápsula do tempo particular.
Na loja de discos, Durval empreenderá resistência à tecnologia
do CD; na casa anexada onde vive, conservará uma falsa juventude ao morar com a mãe. É um cenário de terror que já se prenuncia na leve primeira metade do filme, como se víssemos o angustiado Norman Bates de "Psicose".
E, por fim, o que é decadência e
o que é evolução? "Durval" mostra o fim de uma era, a descaracterização de Pinheiros, bairro célebre no passado pelas suas ruas residenciais calmas com nomes
hippies, reduto de artistas, hoje
atulhadas de bares e prédios impessoais. Algo parecido com a
própria realidade do cinema brasileiro, tão indeciso na busca por
um pretenso tom regional que
possa agradar aos "sofisticados"
estrangeiros. Durval, o personagem, negou-se à evolução, imaginando que aí pudesse haver negação de seu caráter. Desses conflitos, só podemos esperar um mundo de tintas expressionistas.
Durval Discos
Quando: hoje, às 22h45, na TV Cultura
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