São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

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TV ABERTA

"Durval Discos" reabre sessão "Cine Brasil"

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há um quê de ironia na volta da sessão "Cine Brasil" à TV Cultura. Fora da grade de programação do canal há quase oito meses, ela retorna hoje com o premiado "Durval Discos".
Ironia porque a faixa, que antes ia ao ar nas tardes de domingo, trazia comédias dos anos 50, amenidades da Vera Cruz ou os tropeços de Mazzaroppi. Para esses antigos telespectadores, "Durval" deve provocar a mesma reação que teve quando passou nos cinemas, em 2003. Para um público mais desatento, "Durval" tem duas faces, como um prato de comida que se imagina leve, mas queima à boca, descendo pesado.
Há uma certa ironia involuntária também porque "Durval Discos" é a história de um fracasso, de um processo inevitável de decadência -a sessão da TV Cultura, enfim, celebra o cinema brasileiro, certo? Assim é o quarentão do título, sujeito boa-praça (ou meramente tolo) que estacionou sua vida lá pelos anos 70 e vive na sua cápsula do tempo particular.
Na loja de discos, Durval empreenderá resistência à tecnologia do CD; na casa anexada onde vive, conservará uma falsa juventude ao morar com a mãe. É um cenário de terror que já se prenuncia na leve primeira metade do filme, como se víssemos o angustiado Norman Bates de "Psicose".
E, por fim, o que é decadência e o que é evolução? "Durval" mostra o fim de uma era, a descaracterização de Pinheiros, bairro célebre no passado pelas suas ruas residenciais calmas com nomes hippies, reduto de artistas, hoje atulhadas de bares e prédios impessoais. Algo parecido com a própria realidade do cinema brasileiro, tão indeciso na busca por um pretenso tom regional que possa agradar aos "sofisticados" estrangeiros. Durval, o personagem, negou-se à evolução, imaginando que aí pudesse haver negação de seu caráter. Desses conflitos, só podemos esperar um mundo de tintas expressionistas.


Durval Discos
   

Quando: hoje, às 22h45, na TV Cultura


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