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LIVROS/LANÇAMENTOS
"GUERRA DO PARAGUAI"
Livro compila imagens que retratam o embate
Detalhes pouco explorados prejudicam obra sobre conflito
Divulgação
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Oficiais e um padre junto a gaiola de pombos-correios |
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Talvez o mais surpreendente
neste novo livro do historiador Ricardo Salles seja o fato de
algo assim ter demorado tanto
tempo para ser publicado. É o primeiro grande livro ilustrado sobre a Guerra do Paraguai (1865-1870), o maior conflito da história
da América Latina.
O interesse brasileiro pela guerra é pequeno. Contrasta, por
exemplo, com a mania americana
pela Guerra Civil, ocorrida na
mesma época (1861-1865). Em livrarias dos EUA é comum ver estantes devotadas à história militar, com metade das prateleiras
sobre a Guerra Civil.
A Guerra do Paraguai, Guerra
da Tríplice Aliança ou La Guerra
Grande, como se diz no país que a
provocou e que a perdeu, sempre
foi interpretada com pesados filtros ideológicos.
Antes havia a versão ufanista,
que falava das "glórias" do Exército que combateu um tirano autoritário. Depois veio a linha dita
"revisionista", que achava que a
guerra era uma mera conspiração
do imperialismo britânico para
sufocar o "autônomo" Paraguai.
Raras e saudáveis exceções fugindo dessas abordagens simplistas -e falsas, no caso da teoria
conspiratória- foram os excelentes livros de Francisco Doratioto, "Maldita Guerra" (Companhia das Letras, 2002), e André
Toral, "Imagens em Desordem"
(USP, 2002).
Quem quiser se aprofundar no
tema deve procurar esses livros.
Este de agora tem textos curtos,
precisos. Seu valor é a primorosa
seleção de imagens. As imagens
da guerra que o brasileiro médio
conhece são as dos quadros épicos, pinturas em geral encomendadas pelo governo imperial como uma espécie de propaganda.
As fotos contam outra história.
Em parte elas tinham a função de
souvenires. Álbuns de fotos eram
vendidos aos oficiais como "recuerdo". Muitas pertencem ao
acervo da Biblioteca Nacional e
são quase inéditas (o caderno
Mais! desta Folha publicou algumas em 1997, por exemplo).
Salles editou uma foto de cadáveres tomando duas páginas. Se
alguém quer saber o que é uma
guerra, basta ver essa foto. Diz o
velho clichê que uma foto vale por
mil palavras. Mas só para quem
entende a sua linguagem. A falha
do livro é não explorar melhor os
detalhes de algumas imagens.
Por exemplo, "oficiais e um padre posam para a fotografia", diz
legenda óbvia da foto na página
162. Mas a foto tem mais coisa, como diz o historiador Adler Homero Fonseca de Castro, que é curador de armas portáteis do Museu Militar Conde de Linhares.
Atrás dos oficiais um sargento do
Batalhão Naval está ao lado de um
pombal -pombos-correio eram
usados como meio de comunicação militar.
Outras fotos ilustram armas que
não foram usadas no Paraguai. A
"espingarda a minié" da página
151 é na verdade uma minié
Springfield modelo 1863 feita nos
EUA (até há no fecho uma águia
americana). A granada de canhão
Whitworth calibre 4 libras (página 152) não foi usada na guerra; o
Brasil empregava então a de calibre 32 libras, diz Adler.
Guerra do Paraguai - Memórias & Imagens
Autor: Ricardo Salles
Editora: Edições Biblioteca Nacional
Preço: R$ 80 (256 págs.)
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