São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

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ENTRELINHAS

O samba do Jabuti

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Devagar se vai ao longe. Ou pelo menos a algum lugar. O prêmio literário mais tradicional do país, o Jabuti, está indo. Em sua edição deste ano, o prêmio passará por algumas mudanças que parecem discretas como o andar do cágado, mas que fazem diferença.
O prêmio deixa de ser entregue durante as bienais para ganhar uma cerimônia própria, em setembro. O Jabuti também ganha mais uma categoria, a 17ª, que atende por "Arquitetura, Comunicação e Artes".
"Last but not least" o troféu em forma de tartaruga ganha nesta edição um manual de funcionamento, que estabelece mudanças nos critérios dos jurados.
"Vai funcionar como nas escolas de samba", conta o curador do prêmio, José Luiz Goldfarb. "Em vez de escolher simplesmente os livros, os jurados vão dar notas para vários quesitos." Os votos serão dados em envelopes lacrados que serão abertos em cerimônia pública, "como na apuração do Carnaval". "Fizemos isso para dar mais transparência ao prêmio."

JABUTI SEM PALCO
Se o Jabuti cresce (veja acima), seu guarda-chuva ainda não vale para todos. A editora Imago ficou desapontada ao tentar inscrever o livro "Abalou Bangu", de Flávio Marinho. Não há nenhuma categoria incluindo textos teatrais.

HIPOTECA
O site mais completo até então sobre prêmios literários internacionais colocou a plaquinha de vende-se no seu quintal. O literature-awards.com anuncia em seu próprio domínio que pode ser negociado no tel. 00/xx/1-904-260-7599.

CHUCRUTE
A prestigiada revista alemã "Lettre International" traz em seu número mais recente um poema do gaúcho Fabrício Carpinejar. "Novíssimo testamento", do livro "Biografia de uma Árvore" (2002), foi traduzido pelo veterano Curt Meyer-Clason, o mesmo que levou Guimarães Rosa ao alemão.

DÉBUT
Uma das principais editoras do país, Luciana Villas-Boas, da Record, vai estrear como autora. Ela prepara volume para a série de livros sobre profissões da própria Record. "O Que É Ser Editora" deverá ser antecedido por "O Que É Ser Cineasta", de Cacá Diegues , e "O Que É Ser Geógrafo", de Aziz Ab'Saber, entre outros.

TERRA À VISTA
A rede de livrarias Nobel está chegando a uma das praias mais badaladas do país, a baiana Trancoso. A loja deve ser aberta no final do mês no chamado Quadrado, no miolo do vilarejo histórico.

@-elek@folhasp.com.br

GUTEMBERG
Dizem os americanos que 2003 foi o primeiro grande ano para os livros eletrônicos, os chamados e-books. Nos primeiros três quartos do ano foram vendidos 1,04 milhão de "exemplares" nos Estados Unidos. Os números projetam crescimento de 64% em relação a 2002. Mas a festa do e-book não é generalizada. O número de editoras trabalhando com o formato diminuiu e os fabricantes ainda reclamam da dificuldade de exportar a tecnologia para outros países. O Brasil é um desses que engatinha no assunto.

FORA DA ESTANTE

Salvador Dalí dizia, categórico como tudo que sempre fez: "Sou melhor escritor do que pintor, sem dúvida". Sem dúvida. Seus ótimos livros atestam. Agora, no ano do seu centenário, o catalão (morto em 1989) tem toda sua obra relançada na Espanha. No pacote, entra seu único romance, "Rostos Ocultos", que ele publicou inicialmente na França e que até este ano só chegara aos espanhóis com 30 páginas picantes a menos. O livro, de 1943, é reflexo do sucesso de "Minha Vida Secreta", para muitos o melhor livro do homem dos bigodes retorcidos, que saiu originalmente nos EUA, em 1942. Como aperitivo, basta dizer que Dalí começa o livro assim: "Quando eu tinha seis anos, queria ser cozinheiro e já aos sete Napoleão. Desde então minha ambição vem aumentando sem parar". Bem que alguma editora brasileira poderia trazer um nasco dessas ambições para os tristes trópicos, que praticamente não viram nenhum de seus tantos livros.

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