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"UTOPÍSTICA"
Obra de sociólogo, discípulo de Fernand Braudel, analisa necessidade do Estado forte para capitalistas
Immanuel Wallerstein redefine cidadania em tempos neoliberais
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Discípulo do notável historiador Fernand Braudel, o
sociólogo Immanuel Wallerstein
escreveu "Utopística - As Decisões Históricas do Século 21", que
interessa particularmente a nós,
brasileiros, que estamos acostumados a repetir ou a requentar a
marmita feita alhures, principalmente na Europa e nos EUA.
Hoje a palavra da moda é "cidadania", conceito burguês que foi
colocado em pauta pela Revolução Francesa: toda nação tem
obrigação de fornecer direitos
participativos iguais para todos os
homens.
O problema é que a existência
de cidadania pressupõe um Estado vigoroso e a nação soberana. O
caminho da cidadania não leva a
nada se não houver soberania nacional. Escreve o autor: "A cidadania foi inventada como um
conceito de inclusão do povo nos
processos políticos. Mas aquilo
que inclui também exclui. A cidadania confere privilégios, e os privilégios são protegidos quando
não incluem a todos".
Muita gente que fala por aí em
cidadania acredita no entanto que
o conceito de Estado-nação já era.
Acontece que no século 21 há Estados poderosos com supercidadania, enquanto outros Estados,
fracos e derruídos, não possuem
cidadania alguma. É aquilo que
Braudel denomina de "zonas opacas" do capitalismo.
O sociólogo Wallerstein rema
contra a maré neoliberal quando
assevera que os produtores capitalistas precisam mais do Estado
que os próprios trabalhadores.
Segundo ele, não tem o menor
fundamento supor que a globalização das grandes empresas
transnacionais pode evitar os Estados, assim como é falsa a idéia
de que as corporações transnacionais querem Estados fracos. Essas
empresas não conseguem sobreviver sem estruturas estatais fortes, principalmente nos núcleos
centrais do capitalismo. "Estados
fortes são sua garantia, seu sangue
e o elemento crucial na criação de
seus grandes lucros", no dizer de
Wallerstein.
O curioso nesse processo é que
as máfias contemporâneas, empenhadas em obter lucros exorbitantes fora das normas legais e
dos impostos, estão interessadas
em solapar a força dos mecanismos estatais.
Do jeito que o mundo anda neste século 21, dividido entre pouquíssimos ricos e muitos pobres e
miseráveis, a tendência inevitável
é que os empresários capitalistas
terão de se preocupar com a redução de seus lucros. E mais: os empresários capitalistas terão de viver com a pulga atrás da orelha
por causa da insegurança pessoal,
e não apenas aqueles que sentem
volúpia em ostentar riqueza.
Hoje em dia é um alto risco ser
banqueiro na Rússia, na Colômbia e mesmo no Canadá e na Dinamarca. Os ricos privilegiados
que não estiverem informados
dessa situação irão se dar mal.
A previsão do autor, dizendo-se
realista, mas não pessimista, é que
a atitude "fundamentalista" vai se
espalhar cada vez mais como uma
"rejeição teórica da modernidade
ocidental e do ethos capitalista".
Utopística
Autor: Immanuel Wallerstein
Editora: Vozes
Quanto: R$ 18 (118 págs)
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e autor de "A Salvação da Lavoura" (ed. Casa
Amarela).
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