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SP 450
FOTOGRAFIA
Exposição na Pinacoteca do Estado reúne mais de cem fotos sobre São Paulo de artistas como Carlos Moreira
Mostra faz paulistano dialogar com SP
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Um diálogo silencioso entre São
Paulo e o cidadão que aqui habita
ou trafega percorre a exposição
do fotógrafo Carlos Moreira, que
a Pinacoteca do Estado inaugura
hoje, com outras três, para comemorar os 450 anos da cidade.
Na eloqüência dos gestos congelados, em contraposição às formas urbanas, um relacionamento
de 40 anos, ou, como define o curador das exposições, Diógenes
Moura, uma integração que elimina a tradicional composição
fotógrafo-câmara-objeto.
De fato, o diálogo que Moreira
estabelece entre a figura humana
(destacando propositadamente
seu olhar) e a arquitetura que a
cerca revela uma abordagem íntima, interior do artista. Daí o nome da mostra, "São Paulo dos
Olhos para Dentro".
Mas as mais de cem fotos expostas têm também um conteúdo informativo valiosíssimo, já que
resgatam paisagens desaparecidas, modas e hábitos esquecidos,
ou os que se estabeleceram no escaninho delicado que se forma na
coexistência das figuras anônimas com o cenário concreto e
identificável que as cercam.
"Trata-se de uma visão rara da
cidade de São Paulo, a metrópole
que exige delicadeza do olhar para não desaparecer", afirma Moura, para quem Moreira observa
"serenamente" o contínuo relacionamento da cidade com o homem desde 1964.
As três outras mostras promovidas pela Pinacoteca, apesar da
vida própria de cada uma, funcionam como excelente contraponto
à contextualização poético/documental de Moreira.
A de José Bassit ostenta paralelo
historiográfico, apesar do distanciamento cromático (cor total
aqui, branco e preto predominante lá). Trata-se do resultado de
uma garimpagem de anos em
mais de 50 barbearias espalhadas
pela cidade. Pincéis, cadeiras e senhores grisalhos a contar uma
história que se esvai.
O outro trabalho exposto tem
um link, digamos, arquitetônico
com a mostra principal, porque
Eduardo Girão explorou as texturas, os contrastes e as nuances de
luz da paisagem predominantemente cinza. Há atenção especial
com pisos e sinais ali afixados, como se estivesse em busca das impressões digitais de uma cidade
de múltiplas personalidades.
Nos dípticos de Mario Fontes, o
contraste maior, radical, instigante. Fontes exibe a não-São Paulo,
uma cidade que ele abandonou
provisoriamente, mas que não o
deixou, permaneceu em seu imaginário, o que é denunciado na
concretude das imagens colhidas
ao redor do mundo -sobretudo
na Austrália e na Espanha.
O fotógrafo perdeu sua melhor
amiga em 1999, vítima da insanidade do rapaz que abriu fogo contra a platéia do cinema de um
shopping. Inconformado, deixou
a cidade e foi em busca de contextos que o fizessem assimilar o drama. O resultado tem expressiva
vida própria e permite o contraponto com as demais fotos para
que se tenha uma visão bastante
rica de São Paulo e suas formas.
SÃO PAULO DOS OLHOS PARA
DENTRO, de Carlos Moreira. Também
em cartaz as exposições "Cortes
Modernos", de José Bassit, "ponto.sp",
de Eduardo Girão e "Paralelos
Paradoxos", de Mario Fontes. Quando: a
partir de hoje, de ter. a dom., das 10h às
17h30. Onde: Pinacoteca do Estado (pça.
da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/229-9844).
Quanto: de R$ 4 e R$ 2.
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