São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

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SP 450

FOTOGRAFIA

Exposição na Pinacoteca do Estado reúne mais de cem fotos sobre São Paulo de artistas como Carlos Moreira

Mostra faz paulistano dialogar com SP

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um diálogo silencioso entre São Paulo e o cidadão que aqui habita ou trafega percorre a exposição do fotógrafo Carlos Moreira, que a Pinacoteca do Estado inaugura hoje, com outras três, para comemorar os 450 anos da cidade.
Na eloqüência dos gestos congelados, em contraposição às formas urbanas, um relacionamento de 40 anos, ou, como define o curador das exposições, Diógenes Moura, uma integração que elimina a tradicional composição fotógrafo-câmara-objeto.
De fato, o diálogo que Moreira estabelece entre a figura humana (destacando propositadamente seu olhar) e a arquitetura que a cerca revela uma abordagem íntima, interior do artista. Daí o nome da mostra, "São Paulo dos Olhos para Dentro".
Mas as mais de cem fotos expostas têm também um conteúdo informativo valiosíssimo, já que resgatam paisagens desaparecidas, modas e hábitos esquecidos, ou os que se estabeleceram no escaninho delicado que se forma na coexistência das figuras anônimas com o cenário concreto e identificável que as cercam.
"Trata-se de uma visão rara da cidade de São Paulo, a metrópole que exige delicadeza do olhar para não desaparecer", afirma Moura, para quem Moreira observa "serenamente" o contínuo relacionamento da cidade com o homem desde 1964.
As três outras mostras promovidas pela Pinacoteca, apesar da vida própria de cada uma, funcionam como excelente contraponto à contextualização poético/documental de Moreira.
A de José Bassit ostenta paralelo historiográfico, apesar do distanciamento cromático (cor total aqui, branco e preto predominante lá). Trata-se do resultado de uma garimpagem de anos em mais de 50 barbearias espalhadas pela cidade. Pincéis, cadeiras e senhores grisalhos a contar uma história que se esvai.
O outro trabalho exposto tem um link, digamos, arquitetônico com a mostra principal, porque Eduardo Girão explorou as texturas, os contrastes e as nuances de luz da paisagem predominantemente cinza. Há atenção especial com pisos e sinais ali afixados, como se estivesse em busca das impressões digitais de uma cidade de múltiplas personalidades.
Nos dípticos de Mario Fontes, o contraste maior, radical, instigante. Fontes exibe a não-São Paulo, uma cidade que ele abandonou provisoriamente, mas que não o deixou, permaneceu em seu imaginário, o que é denunciado na concretude das imagens colhidas ao redor do mundo -sobretudo na Austrália e na Espanha.
O fotógrafo perdeu sua melhor amiga em 1999, vítima da insanidade do rapaz que abriu fogo contra a platéia do cinema de um shopping. Inconformado, deixou a cidade e foi em busca de contextos que o fizessem assimilar o drama. O resultado tem expressiva vida própria e permite o contraponto com as demais fotos para que se tenha uma visão bastante rica de São Paulo e suas formas.


SÃO PAULO DOS OLHOS PARA DENTRO, de Carlos Moreira. Também em cartaz as exposições "Cortes Modernos", de José Bassit, "ponto.sp", de Eduardo Girão e "Paralelos Paradoxos", de Mario Fontes. Quando: a partir de hoje, de ter. a dom., das 10h às 17h30. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/229-9844). Quanto: de R$ 4 e R$ 2.


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