São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

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LITERATURA

Livro reúne Stephen King, Paul Auster e David Byrne, entre outros

Dicionário ironiza política e sociedade americana

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Como reunir textos assinados por nomes como Paul Auster, Stephen King e Kurt Vonnegut, somá-los às ilustrações de gente como Chris Ware e, no pacote, oferecer uma trilha sonora que inclui R.E.M., They Might Be Giants, Yeah Yeah Yeahs e David Byrne? Simples. Convoque-os para criticar a presente política americana.
O resultado desse coletivo inédito -que reúne mais 190 escritores, jornalistas, historiadores, músicos e cartunistas- é "The Future Dictionary of America" (O Futuro Dicionário da América), da editora McSweeneys.
Lançado em agosto de 2004 com o objetivo de arrecadar fundos para organizações de ativismo político, o livro é uma coleção de verbetes sobre termos que foram incorporados ao vocabulário americano a partir de 2016.
Todos eles foram inventados por seus autores, sob a premissa de uma data fictícia de publicação em algum ponto no final deste século, quando a era Bush é "um problema distante" e a "América" tem 11 bilhões de cidadãos.
Muitos (se não a maioria) dos verbetes soam como protestos. O sobrenome do atual secretário da Defesa, "Rumsfeld", por exemplo, é definido como "alguém que lida sem problemas com mortes", "questão rumsfeldiana" é aquela "feita de maneira retórica e respondida pelo próprio sujeito" e "geometria rumsfeldiana" é "uma pseudociência na qual os elementos se relacionam pela especulação e paranóia, e não pela lógica".
O vice-presidente, Dick Cheney, também se desdobra em três verbetes. Em um deles, o verbo "cheneyar" significa "explorar um emprego fácil para conseguir outro por meio de conexões pessoais", uma alusão ao passado do vice de George W. Bush como presidente de corporações.

"Ramakah"
Embora boa parte do gabinete de Bush em seu primeiro mandato figure no dicionário -estão listados Colin Powell (secretário de Estado), Condoleezza Rice (assessora de Segurança Nacional e indicada por Bush para substituir Powell) e John Ashcroft (ex-secretário da Justiça)-, o Partido Republicano não é o único alvo.
Sobram doses altas de ironia para o eterno candidato independente Ralph Nader (ralphnadar = atingir o ponto mais baixo de um processo, no qual a necessidade de revertê-lo o mais rápido possível se manifesta), o conflito árabe-israelense (Ramakah = feriado conjunto de judeus e muçulmanos celebrado em dezembro para marcar o fim dos conflitos entre as duas religiões; junção de ramadã com hannukah) e até com a mania de dietas (Plano Atkins = doutrina da política externa americana para disfarçar a decadente indulgência em forma de sacrifício e provação, de forma a poder fazer tudo que se quer e ainda assim se sentir virtuoso) e outras questões cotidianas, como terapia genética e celulares.
Além de divertidas ilustrações, no meio do livro há um encarte de cartuns do mundo futuro e, no final, apêndices como a Declaração de Independência dos EUA e o relatório Taguba -aquele que descreve os maus-tratos sofridos por prisioneiros iraquianos nas mãos de soldados americanos. Uma seção elucidativa ensina nós complexos batizados com o nome de países invadidos pelos EUA.


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