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LITERATURA
Livro reúne Stephen King, Paul Auster e David Byrne, entre outros
Dicionário ironiza política e sociedade americana
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Como reunir textos assinados
por nomes como Paul Auster, Stephen King e Kurt Vonnegut, somá-los às ilustrações de gente como Chris Ware e, no pacote, oferecer uma trilha sonora que inclui
R.E.M., They Might Be Giants,
Yeah Yeah Yeahs e David Byrne?
Simples. Convoque-os para criticar a presente política americana.
O resultado desse coletivo inédito -que reúne mais 190 escritores, jornalistas, historiadores,
músicos e cartunistas- é "The
Future Dictionary of America" (O
Futuro Dicionário da América),
da editora McSweeneys.
Lançado em agosto de 2004
com o objetivo de arrecadar fundos para organizações de ativismo político, o livro é uma coleção
de verbetes sobre termos que foram incorporados ao vocabulário
americano a partir de 2016.
Todos eles foram inventados
por seus autores, sob a premissa
de uma data fictícia de publicação
em algum ponto no final deste século, quando a era Bush é "um
problema distante" e a "América"
tem 11 bilhões de cidadãos.
Muitos (se não a maioria) dos
verbetes soam como protestos. O
sobrenome do atual secretário da
Defesa, "Rumsfeld", por exemplo, é definido como "alguém que
lida sem problemas com mortes",
"questão rumsfeldiana" é aquela
"feita de maneira retórica e respondida pelo próprio sujeito" e
"geometria rumsfeldiana" é "uma
pseudociência na qual os elementos se relacionam pela especulação e paranóia, e não pela lógica".
O vice-presidente, Dick Cheney,
também se desdobra em três verbetes. Em um deles, o verbo "cheneyar" significa "explorar um
emprego fácil para conseguir outro por meio de conexões pessoais", uma alusão ao passado do
vice de George W. Bush como
presidente de corporações.
"Ramakah"
Embora boa parte do gabinete
de Bush em seu primeiro mandato figure no dicionário -estão
listados Colin Powell (secretário
de Estado), Condoleezza Rice (assessora de Segurança Nacional e
indicada por Bush para substituir
Powell) e John Ashcroft (ex-secretário da Justiça)-, o Partido Republicano não é o único alvo.
Sobram doses altas de ironia para o eterno candidato independente Ralph Nader (ralphnadar =
atingir o ponto mais baixo de um
processo, no qual a necessidade
de revertê-lo o mais rápido possível se manifesta), o conflito árabe-israelense (Ramakah = feriado
conjunto de judeus e muçulmanos celebrado em dezembro para
marcar o fim dos conflitos entre
as duas religiões; junção de ramadã com hannukah) e até com a
mania de dietas (Plano Atkins =
doutrina da política externa americana para disfarçar a decadente
indulgência em forma de sacrifício e provação, de forma a poder
fazer tudo que se quer e ainda assim se sentir virtuoso) e outras
questões cotidianas, como terapia
genética e celulares.
Além de divertidas ilustrações,
no meio do livro há um encarte de
cartuns do mundo futuro e, no final, apêndices como a Declaração
de Independência dos EUA e o relatório Taguba -aquele que descreve os maus-tratos sofridos por
prisioneiros iraquianos nas mãos
de soldados americanos. Uma seção elucidativa ensina nós complexos batizados com o nome de
países invadidos pelos EUA.
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