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Crítica/"Música, Maestro!"
Ambicioso, Medaglia analisa história da música ocidental
Livro cobre período de 2.000 anos e inclui CD com produção pré-século 20
SERGIO MOLINA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Versatilidade e consistência são marcas registradas da atuação
musical do paulistano Julio
Medaglia. Essas qualidades, raras neste mundo de especialistas, estão presentes tanto em
seus programas de rádio, artigos e arranjos quanto nas palestras e debates de que participa. Grande parte do conhecimento adquirido em mais de 50
anos de atividades aparece agora no ambicioso "Música,
Maestro!", que percorre 2.000
anos da música ocidental, de
suas origens no canto gregoriano às tendências atuais.
Medaglia reserva justo espaço para as conquistas da música
popular urbana e coloca as
questões históricas em perspectiva, enfrentando e calculando riscos para além dos tradicionais pontos de fuga. Livre
dos preconceitos tão comuns
àqueles de formação incipiente, compara diferentes artistas
e épocas em alto nível, estabelece diálogos, caminha à frente.
Curiosamente, sua verve instigante e particular só se impõe
a partir da página 76, na acareação qualitativa que faz entre os
estilos barrocos de Bach e
Haendel. É aí que o livro começa de fato. Coincidentemente,
Medaglia toma a posse definitiva do pódio de seu próprio texto ao comentar a figura dos primeiros regentes, que passariam
a ser imprescindíveis com o
crescimento das orquestras no
período clássico. Acrescenta
em conteúdo ao olhar a ópera
italiana de Verdi pelo viés do
campineiro Carlos Gomes e faz
de seus capítulos destinados à
música brasileira de concerto
uma das melhores referências
bibliográficas disponíveis.
Salto artístico
Quanto mais se aproxima do
século 20, do qual foi testemunha e no qual foi criador, mais
estimulante fica a narrativa. Ao
analisar a ruptura entre o romantismo e a música moderna,
explica como a dança -impulsionada pela companhia de
Diaghilev e Nijinsky- foi um
dos maiores agentes de transformação, catalisando o salto
artístico que estaria por vir.
Do outro lado do Atlântico, a
erudição espontânea da música
popular está bem dissecada em
uma resumida história do jazz,
na qual atualiza o clássico livro
de J. Berendt que o maestro
traduziu nos anos 70 ("O Jazz:
Do Rag ao Rock").
O livro traz encartado um CD
com 13 exemplos de música
clássica que ilustram para o leitor amador a produção pré-século 20. O descompasso fica
por conta de um impreciso
glossário, vinculado principalmente à primeira parte do livro
(antes da pág. 76), que auxiliaria os leigos no entendimento
de termos musicais específicos.
Inexplicavelmente, dezenas
de termos definidos incorretamente no glossário são elucidados com simplicidade e maestria nos capítulos posteriores.
Como na execução de uma
grande sinfonia, o maestro voltará ao palco muitas vezes para
receber os merecidos aplausos,
mas terá de lidar com a responsabilidade pelos desacertos de
percurso. Regente experiente
que é, programará novas récitas e edições da bela obra, exigirá mais ensaios e erguerá a batuta para bradar: da capo!
SERGIO MOLINA é compositor e professor da
Faculdade Santa Marcelina e do Curso de Degustação Musical
MÚSICA, MAESTRO! DO CANTO
GREGORIANO AO SINTETIZADOR
Autor: Julio Medaglia
Editora: Globo
Quanto: R$ 49 (352 págs. + CD)
Avaliação: bom
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