São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

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ANÁLISE

Grupo heterogêneo defende a igualdade pela diferença

DA REPORTAGEM LOCAL

A dureza e a aridez têm sido valores constantes do hip hop brasileiro, especialmente o praticado em São Paulo. Demarcam seu território, mas nisso mantêm afastadas camadas mais conservadoras do público de pop.
Se no Rio de Janeiro é comum rappers controversos como Marcelo D2 recusarem esses princípios, em São Paulo a postura menos obediente às regras tem de pular obstáculos ainda maiores.
Mas, sim, há quem os pule. É o caso, por exemplo, do Z'África Brasil, que pratica construções musicais sofisticadas -e bem brasileiras. Em termos políticos, não há nessa prática grupo mais importante que o SNJ, usina construída para arejar horizontes ainda comprimidos. Bom humor e musicalidade solta e misturada são seus principais recursos.
No álbum inaugural "Se Tu Lutas Tu Conquistas" (lançado em 2000 pela gravadora independente Atração), a faixa-título era musical, dramática, emocionante. A voz firme de Cris e os vocais trêmulos de Sombra (hoje afastado do SNJ) traziam estranhamento e novidade ao hip hop do B.
O farol era o rap de faroeste "Viajando na Balada". Consta que irritou rappers tradicionais, que teriam se sentido atingidos pela letra que zombava da vontade nacional de imitar os EUA. O nome daquilo era coragem.
O tino à provocação se mantém em "O Show Deve Continuar", lançado no final de 2003 pelo selo de rap Sky Blue (e encomendável pelo tel. 0/xx/11/6805-5131).
O novo farol é "Espelho", com arranjo pop balançado e declaração geral de que "ser humano é falho" -não se trata de ataque, mas de defesa. "Se você quer exigir que alguém seja totalmente igual a você, procure o espelho", aconselha Bastardo. Eles querem a igualdade fermentada na diferença. Faz sentido para você?
Colando cores na dureza do rap, o SNJ propõe, enfim, a descoberta e a entrega afetiva. "Se você tem um coração, abre/ se você tem uma opinião, fale", proclama "Se Você". O nome disso é atitude.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

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