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MÚSICA
Crítica
Álbum traz gravações históricas de Fournier
Grande instrumentista do século 20, francês tem recital de 1958 lançado em CD
SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA
Na primeira parte, "Sonata" op.99 de Brahms
(1833-1897) e "Sonata"
op.8 do compositor húngaro
Zoltan Kodaly (1882-1967); na
segunda parte, "Sonata" para
violoncelo e piano de Debussy
(1862-1918) e "Variações sobre
um Tema Rococó", de Tchaikovsky (1840-1893).
Esse foi o programa apresentado pelo violoncelista francês
Pierre Fournier (1906-1986)
em seu recital de estreia no
Festival de Salzburgo, no dia 3
de agosto de 1958, e que é agora
lançado em CD.
Fournier é um dos grandes
instrumentistas do século 20 e,
ao lado de Paul Tortelier (1914-1990) - pai de Yan Pascal Tortelier, atual regente titular da
Osesp-, o principal nome da
escola de cello francesa. Em
Brahms, Debussy e Tchaikovsky, ele atua ao lado do pianista austríaco Franz Holetschek.
O registro (realizado apenas
com a intenção de documentar
a performance) não tem a qualidade sonora dos discos gravados "oficialmente" por Fournier -como a imbatível versão
integral das seis "Suítes" para
violoncelo solo de Bach, que faria dois anos depois. Mas oferece para a crítica uma rara oportunidade de reflexão, não só
por surpreender um grande artista do passado no calor do espetáculo ao vivo, como também
pelos sentidos inesperados que
lança em direção ao presente.
Sua arte é marcada por uma
elegância constante, inabalável: do braço direito - o que
movimenta o arco-, emana
uma compreensão direta da
partitura, como se regesse a
obra por dentro, na própria raiz
do som. Mas não é só isso: ao
mesmo tempo, a mão esquerda
introduz um elemento de risco,
de excesso, um transbordamento que recarrega continuamente a energia da música.
É assombroso como Fournier consegue manter essa tensão em uma obra como a "Sonata" para violoncelo solo de Kodaly, na qual mãos e dedos assumem novas funções a cada
compasso.
Minúcia
O piano parece um pouco tímido diante dos rigores de
Brahms, traçados tendo em vista um diálogo entre instrumentos de igual força, mas soa na
medida em Debussy -que
aconselhava o pianista "a não
lutar contra o violoncelo, mas
acompanhá-lo". Fournier
constrói minuciosamente o
som de cada passagem -a peça
é carregada de evocações ibéricas-, enquanto Holetschek
sustenta a continuidade do discurso.
A crítica do recital feita à
época (há excertos transcritos
no encarte) aponta para o que a
escuta do disco não pode alcançar, como certo nervosismo
pairando no início de Brahms
ou o fato de Fournier ganhar
completamente a plateia durante o solo de Kodaly.
Separados por 52 anos do
som que ecoou no Grande Auditório do Mozarteum de Salzburgo, temos, por força, outras
demandas: e é a nós, hoje, que
toca confrontar elegância e coragem.
BRAHMS/KODÁLY/DEBUSSY/
TSCHAIKOWSKY
Artista: Pierre Fournier / Franz Holetschek
Gravadora: Orfeo D'Or
Quanto: R$ 79, em média
Avaliação: ótimo
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