São Paulo, segunda, 17 de março de 1997.

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TELEVISÃO
Telejornais correm atrás da notícia alternativa

ESTHER HAMBURGUER
especial para a Folha

Em busca de captar as expectativas dos telespectadores, os telejornais vêm procurando diversificar sua pauta. Trazem assuntos menos institucionais para temperar os movimentos morosos da política. Daí a profusão de reportagens sobre cidades e as inúmeras sequências de prestação de serviços.
A pauta dos telejornais pode variar bastante em torno de curiosidades bizarras e nem sempre inéditas. Uma só edição do ``Jornal Nacional'' pode contemplar as lagartas venenosas que atacam uma cidadezinha do Paraná e imagens de elefantes em Sri Lanka.
Talvez na trilha do canal a cabo ``Discovery'', os animais tenham apelo especial nesse novo conceito de notícia. Na mesma noite, o ``TJ Brasil'' exibiu uma reportagem sobre o sacrifício diário de 250 cães pela carrocinha em São Paulo.
A busca da notícia alternativa contempla uma preferência pela exibição de experiências comunitárias que dão certo - um orfanato financiado pelo BID, uma creche para crianças com AIDS. A saúde também ocupa lugar de destaque, com o câncer de mama, de colo de útero e as cesarianas.
Existe uma sede por notícias relevantes. Espectadores vidrados em notícia têm sua programação interrompida durante os minutos que separam o ``TJ Brasil'' do ``Jornal Nacional''. O bom ``Jornal da Band'', de Paulo Henrique Amorim, poderia se beneficiar da ocupação desse espaço.
Há assuntos inevitáveis: a CPI dos Precatórios, as conexões de PC Farias com a máfia italiana, a visita de Jacques Chirac ao Brasil. E ainda é no tratamento desses temas clássicos que os telejornais demonstram maior competência.
O ``Jornal Nacional'' fez importantes revelações sobre os precatórios -em meio a uma ênfase reduzida ao caso PC e a varias notícias curtas que transformam o conflito na África do Sul em curiosidade.
Os telejornais estão se adaptando ao mundo globalizado em que as nações vão perdendo importância. Procuram se tornar sensíveis à realidade multicultural e fragmentada. Pulverizam a notícia. Abrem espaço para inúmeros depoimentos populares. O pedreiro poeta encontra sua representação de gente que faz em cadeia nacional.
Mas os casos são apresentados como coisas exóticas. São destacados do contexto de transformações que conta com cidadãos dispostos a prestar colaboração.
Em uma semana em que muitos espectadores se dedicaram a seguir os trabalhos da CPI dos Títulos Públicos, transmitidos ao vivo pela TV Senado (veja reportagem na página 3), o descompasso das pautas impressiona.

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