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CRÍTICA
Violonista subestima o próprio talento de compositor
DA REDAÇÃO
Em "Cine Baronesa", seu
quinto CD, Guinga comete
um único pecado: subestima o
seu talento de compositor. Ricas
-embora engenhosamente simples- e sofisticadas -mas decifráveis pelo ouvinte médio-,
suas melodias passam mais informações que mil palavras.
E é justamente das canções que
prescindem do canto que o CD
extrai os atributos para se manter
a anos-luz do esquecimento.
Mas, antes de falar delas, vale a
pena jogar luz sobre outros aspectos do CD. Guinga está tocando
como nunca. Além de ter lapidado ainda mais seu jeito de sintetizar as suas heranças erudita e jazzística nos quadrantes da música
brasileira, a expressividade com
que ele toca reveste de significado
qualquer nota. Isso apesar de, no
CD, ele deixar brechas consideráveis para os arranjadores.
Dois desses arranjadores aproveitam muito bem os espaços.
Mais lírico, Gilson Peranzzetta
usa as orquestrações para realçar,
principalmente, as passagens dramáticas. Mais dinâmico, Nailor
"Proveta" Azevedo valoriza os
metais para dar um toque universal às composições.
Juntos, o violão de Guinga e os
arranjos tornam inesquecíveis as
sem-letra "Melodia Branca", "Vô
Alfredo" -frevo em que "Proveta" consegue a proeza de inserir
vocábulos das bandas de pífanos
nordestinas no vernáculo das big
bands jazzísticas-, "Cine Baronesa" e "Caiu do Céu" -exemplo
acabado da expressividade de
Guinga ao violão.
Entre as cantadas, apenas
"Orassamba" -parceria de
Guinga com Aldir Blanc- traz
uma letra que faz jus à melodia sobre a qual se derrama. Nas demais, sempre há algo a sugerir
que uma versão instrumental daria melhor resultado.
Isso ocorre em "Nem Mais um
Pio", recheada de chavões naturebas nas letras. Com seu ritmo lento, "Yes, Zé Manés" escancara demais as limitações do canto de
Chico Buarque. "No Fundo do
Rio" traz um trecho narrado por
Sergio Cabral, mera curiosidade.
Mas, inabalável, a riqueza harmônica dessas composições as
mantêm muito acima do nível da
produção média atual, mesmo
entre as obras de compositores do
primeiro time da MPB.
Assim, para o ouvinte, fica a sugestão: tente ouvir essas músicas
despidas, como se o canto viesse
de um instrumento de sopro, de
um quarteto de cordas ou do violão de Guinga. Pronto, é melhor
assim, o não dito pelo dito.
(EDSON FRANCO)
Cine Baronesa
Artista: Guinga
Lançamento: Caravelas
Quanto: R$ 25, em média
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