São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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NINA HORTA

Televisivos


O programa "Kitchen Nightmares" é muito bom para todos que gostam de cozinha e para futuros donos de restaurantes

VOCÊS ASSISTEM à televisão? Eu sou da minoria que assiste na sala e não no corredor ou no quarto da empregada.
Imagino que os quartos das empregadas no horário nobre devem ficar atopetados, a coitada espremida num canto. E morro de inveja da Silvia Poppovic, que tem uma TV sobre a banheira.
Acho incrível que ainda haja uma atitude depreciativa em relação à TV, mamma mia! Claro que tem muita coisa ruim, onde é que não tem? E muita coisa boa também. Já viram um programa no Futura de entrevistas feitas por Bia Corrêa do Lago? Às vezes tenho impressão que ela tem "insights" que o próprio autor do livro nunca teve. Sabe ouvir e, quando recebe alguém, tem sua lição de casa muito bem-feita, vê-se que leu tudo, raciocinou e preparou as perguntas. Sensacional.
E todo este falatório sobre TV só para contar sobre um programa novo de culinária, novo para nós. O cozinheiro Gordon Ramsay é um daqueles que experimentaram a TV e se deram tão bem quanto se dão com as panelas. Hoje é um dos homens mais poderosos da Inglaterra, e o que o tornou mais conhecido foi explorar sua imagem de "homem mau" e bom cozinheiro. A série em cartaz no momento no GNT é "Kitchen Nightmares" (quintas, às 22h30).
Quando fui à Inglaterra, há oito anos, quem fazia sucesso era Jamie Oliver, um ubíquo meninote que estava em todas. Encontramos com ele nos mais diversos restaurantes, onde parava com sua motocicleta e ia para a cozinha comer com o chef.
Na televisão não dava outra coisa, e Gordon Ramsay era somente o melhor cozinheiro de peixes, escocês, com três estrelas do "Michelin".
Já naquele tempo o que se falava dele é que era um carrasco, e quem tivesse no currículo mais que três meses na cozinha dele encontraria emprego em qualquer lugar pelo seu nível de exigência quanto aos empregados e à boa comida. Imaginei que, apesar de tudo, da braveza congênita, deveria ser um homem amável e justo, pois nos hospedávamos ao lado do Aubergine, de onde ele saíra e que andava às moscas, pois toda a brigada o seguira para o seu próprio restaurante. Se fosse o monstro sem educação do programa "Hell's Kitchen", série forçada e sem nada que fizesse o telespectador crescer em sabedoria culinária ou qualquer outra, não teria tanto ibope.
Assisti também a alguns episódios da série "The F Word", bons, e agora está no ar o "Kitchen Nightmares" .
Gordon Ramsay tem uns 41, mas parece mais, quando está sério. Cara de cansado, muitas rugas, vida de cozinheiro perfeccionista, que sempre manteve seus restaurantes nas alturas. Além disso, trabalhar na TV não é sopa. É loiro de cabelo meio arrepiado, escreveu livros de cozinha interessantes (só entrar na Amazon), estudou nos melhores restaurantes de Paris e da Inglaterra, aprendeu a pescar e a mergulhar com o pai, tem paixão por cozinha, sensibilidade... E não é que se saiu ótimo ator?
O programa "Kitchen Nightmares" é bastante bom, divertido, interessante. O assunto é recuperação de restaurantes em vias de falir, mas com possibilidades de boa comida. Extremamente bem-feito, consegue condensar o antes e depois de um restaurante aconselhado e ajudado por ele. Muito bom para todos que gostam de cozinha e para futuros donos de restaurantes.
Faz de tudo um pouco. Bola esquemas de marketing, reduz ou aumenta o pessoal, inspeciona cardápios, hora de entrar e sair da brigada, uniformes, lucros, perdas, distribui encargos, incute o espírito de hierarquia e de equipe, e se preocupa, apesar de exigente, com os problemas dos funcionários relapsos.
É incrível como o programa é bem bolado, nem consigo entender como conseguem que cozinheiros, maîtres e garçons atuem com toda aquela naturalidade, já que não são atores. Como se não existisse câmera, um "à vontade" impressionante.
Vale a pena.

ninahorta@uol.com.br


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