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NINA HORTA
Televisivos
O programa "Kitchen Nightmares" é muito bom para todos que gostam de cozinha e para futuros donos de restaurantes
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VOCÊS ASSISTEM à televisão?
Eu sou da minoria que assiste
na sala e não no corredor ou
no quarto da empregada.
Imagino que os quartos das empregadas no horário nobre devem ficar atopetados, a coitada espremida
num canto. E morro de inveja da Silvia Poppovic, que tem uma TV sobre
a banheira.
Acho incrível que ainda haja uma
atitude depreciativa em relação à
TV, mamma mia! Claro que tem
muita coisa ruim, onde é que não
tem? E muita coisa boa também. Já
viram um programa no Futura de
entrevistas feitas por Bia Corrêa do
Lago? Às vezes tenho impressão que
ela tem "insights" que o próprio autor do livro nunca teve. Sabe ouvir e,
quando recebe alguém, tem sua lição de casa muito bem-feita, vê-se
que leu tudo, raciocinou e preparou
as perguntas. Sensacional.
E todo este falatório sobre TV só
para contar sobre um programa novo de culinária, novo para nós. O cozinheiro Gordon Ramsay é um daqueles que experimentaram a TV e
se deram tão bem quanto se dão
com as panelas. Hoje é um dos homens mais poderosos da Inglaterra,
e o que o tornou mais conhecido foi
explorar sua imagem de "homem
mau" e bom cozinheiro. A série em
cartaz no momento no GNT é "Kitchen Nightmares" (quintas, às
22h30).
Quando fui à Inglaterra, há oito
anos, quem fazia sucesso era Jamie
Oliver, um ubíquo meninote que estava em todas. Encontramos com
ele nos mais diversos restaurantes,
onde parava com sua motocicleta e
ia para a cozinha comer com o chef.
Na televisão não dava outra coisa,
e Gordon Ramsay era somente o
melhor cozinheiro de peixes, escocês, com três estrelas do "Michelin".
Já naquele tempo o que se falava dele é que era um carrasco, e quem tivesse no currículo mais que três meses na cozinha dele encontraria emprego em qualquer lugar pelo seu nível de exigência quanto aos empregados e à boa comida. Imaginei que,
apesar de tudo, da braveza congênita, deveria ser um homem amável e
justo, pois nos hospedávamos ao lado do Aubergine, de onde ele saíra e
que andava às moscas, pois toda a
brigada o seguira para o seu próprio
restaurante. Se fosse o monstro sem
educação do programa "Hell's Kitchen", série forçada e sem nada que
fizesse o telespectador crescer em
sabedoria culinária ou qualquer outra, não teria tanto ibope.
Assisti também a alguns episódios
da série "The F Word", bons, e agora
está no ar o "Kitchen Nightmares" .
Gordon Ramsay tem uns 41, mas parece mais, quando está sério. Cara de
cansado, muitas rugas, vida de cozinheiro perfeccionista, que sempre
manteve seus restaurantes nas alturas. Além disso, trabalhar na TV não
é sopa. É loiro de cabelo meio arrepiado, escreveu livros de cozinha interessantes (só entrar na Amazon), estudou nos melhores restaurantes
de Paris e da Inglaterra, aprendeu a
pescar e a mergulhar com o pai, tem
paixão por cozinha, sensibilidade...
E não é que se saiu ótimo ator?
O programa "Kitchen Nightmares" é bastante bom, divertido, interessante. O assunto é recuperação
de restaurantes em vias de falir, mas
com possibilidades de boa comida.
Extremamente bem-feito, consegue
condensar o antes e depois de um
restaurante aconselhado e ajudado
por ele. Muito bom para todos que
gostam de cozinha e para futuros
donos de restaurantes.
Faz de tudo um pouco. Bola esquemas de marketing, reduz ou aumenta o pessoal, inspeciona cardápios, hora de entrar e sair da brigada,
uniformes, lucros, perdas, distribui
encargos, incute o espírito de hierarquia e de equipe, e se preocupa, apesar de exigente, com os problemas dos funcionários relapsos.
É incrível como o programa é bem
bolado, nem consigo entender como
conseguem que cozinheiros, maîtres e garçons atuem com toda aquela naturalidade, já que não são atores. Como se não existisse câmera,
um "à vontade" impressionante.
Vale a pena.
ninahorta@uol.com.br
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