São Paulo, Segunda-feira, 17 de Maio de 1999
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TELEVISÃO

E Chico Anysio ficou sem espelho

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

O paliteiro de homens e mulheres-traço da televisão vive um momento especial de pânico. Todo mundo só quer ver futebol, às vezes em programa duplo, com Romário, o mais artilheiro de todos, dando recado com a bola e com as camisetas. O Flamengo, isto é, o mundo delira.
Televisão, na semana passada, foi também o Uálber e o Edilberto, abalando tudo que era Bangu, em seu confronto com Lili Carabina e os troncudos asseclas que ela trouxe para o assalto. As gargalhadas foram tantas, e tão felizes, que se espera não tenha sobrado um só espelho para o Chico Anysio contemplar sua beleza e a Regina Casé depilar sua muvuca.
Diante desse rebuliço todo, a estréia de "Força de um Desejo" só não passou despercebida por causa da solenidade que o eco dos seus passos e respiração contêm. É a novela escrita por Gilberto Braga, talvez comemorando um aniversário particular, sobre escravas que não se chamam Isaura.
A novela parece ter como centro o barão Reginaldo Faria e, num cantinho à esquerda, a baronesa Sônia Braga, escurecida e assustada. Há quem acredite que esse retraimento seja decorrente do número de saias que ela tem para vestir. Como se sabe, a arte de Sônia Braga só se mostra leve e solta, quando não tem saia ou qualquer outra coisa para vestir.
A primeira cena situa tudo muito bem. Negros e jumentos trabalham com Selton Mello numa enorme fazenda de café. Cacheadinho, Selton é filho do barão. A paisagem é moderna demais para a arte de um Frans Post. Só a sede da fazenda mais parece, em seu gigantismo, com um cassino americano ou, com mais respeito, com um museu imperial.
Esse casal de barões tem um segredo bem trancado. De presente para o seu quarto, a baronesa acaba de ganhar grades para as janelas. Deve ser por causa do trem de muita fumaça e muitos vagões que chega à estação tão próxima. Nesse trem viaja o vilão Paulo Betti, que cobiça tudo o que o barão Reginaldo tem. E ele tem muita coisa. Até um filho galã, que, num descontentamento, embarcou para a corte. Para que assim se formasse o casal Fábio Assunção e Malu Mader, aquele que é o mais adorado pelos fãs. Ela usa saias rodadíssimas e, na cabeça, um diadema da ala das cortesãs. Muito bonitinho o "namoro" dos dois, quando disputam, num leilão, o mesmo rapaz escravo.
O ambicioso novo-rico do Paulo Betti é divertido como personagem, nunca como subtexto. Ele aprende esgrima na esperança frustrada de um elegante "en-garde" com o inimigo. Mas o barão sabe mais: "Esse é um Aubusson". "Notável pintor", diz o rival boçal. O barão se diverte e nós admiramos a perfeita reconstituição de época. Tem até Rosita Thomaz Lopes e Cláudio Corrêa e Castro no elenco.


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