São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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LITERATURA

Espanha dá início, no próximo ano, a série de festividades pelo quarto centenário da obra de Miguel de Cervantes

Quixote é celebrado com rota turística em La Mancha

IVAN PADILLA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE BARCELONA

A Espanha se prepara para homenagear um de seus maiores ícones culturais. Será comemorado em 2005 o quarto centenário da publicação da primeira parte das aventuras de Dom Quixote de la Mancha, o fidalgo que perde o juízo e sai mundo afora imaginando ser um cavaleiro medieval.
Uma ampla programação das festividades da obra do escritor Miguel de Cervantes foi uma promessa de campanha do primeiro-ministro José Luis Rodriguez Zapatero, eleito em março. O governo montou, no mês passado, uma comissão encarregada das comemorações, com representantes de todos os países de língua hispana. Entre as celebrações, destaca-se a construção de uma rota ecoturística pela região de Castela La Mancha, cenário de Dom Quixote, no centro da Espanha.
"A idéia é que essa rota venha a ser tão conhecida como o Caminho de Santiago", disse à Folha Mercedes Pastor, diretora da comissão. A via terá cerca de mil quilômetros e passará pelos povoados de Campo de Criptana e Muerta del Cuervo, onde estão os famosos moinhos de vento que Dom Quixote confunde com gigantes. Também está na rota a cidade de Argamasilla de Alba, onde diz a lenda que Cervantes começou a escrever a obra (outra versão diz que foi na prisão de Sevilha). O projeto representa um investimento de 40 milhões de euros, quantia que o governo pretende multiplicar com o turismo.
A obra de Cervantes é, ao mesmo tempo, uma paródia das novelas de cavaleiros e uma sátira da transição da Idade Média para a Idade Moderna. Num acesso de loucura, Alonso Quijaldo, um nobre quase falido e aficionado por livros de aventuras, incorpora Dom Quixote. Escolhe como musa a atarracada camponesa Dulcinea del Toboso, monta o velho cavalo Rocinante e toma como escudeiro o baixote Sancho Pança.
Depois de enfrentar manadas de ovelhas pensando que fossem Exércitos, entre outros inimigos irreais, de ser surrado, preso e roubado, Dom Quixote volta para casa, onde, doente e desiludido, acaba morrendo. Publicado em 1605, o livro não foi concebido para ter continuação, mas o sucesso imediato fez com que Cervantes escrevesse uma segunda parte, dez anos depois.
A história está bem delimitada no tempo, mas a dualidade entre pragmatismo e idealismo faz do livro uma obra atemporal. "Trata-se de um livro vivo, com múltiplas interpretações, e não significa necessariamente o triunfo da realidade sobre a loucura", afirmou José Luis Quirós, coordenador do congresso "O Quixote e o Pensamento Moderno", realizado em junho, durante o Fórum das Culturas de Barcelona.


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