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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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Autor de "Dancin" Days" e "Vale Tudo" volta ao horário nobre da Globo em outubro, com trama sobre celebridades

Pescador de ILUSÕES

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

O escritor Gilberto Braga, 57, está finalmente saindo da outrora espaçosa geladeira da Globo. Em outubro, nove anos depois de sua última novela das oito, "Pátria Minha", o autor, um dos mais respeitados do país, volta ao horário nobre, com "Celebridade".
Depois de 1994, o criador de "Dancin" Days" (1978) e "Vale Tudo" (1988) escreveu uma minissérie, "Labirinto" (1998), e uma novela das seis, "Força de um Desejo" (1999). Nesses nove anos, Manoel Carlos, Aguinaldo Silva e Benedito Ruy Barbosa emplacaram, cada um, três novelas das oito.
Gilberto Braga, que teria caído em "desgraça" após o relativo fracasso de "Força de um Desejo", não entra em divididas. Prefere admitir que sempre teve dificuldade em lidar com um público tão heterogêneo como o que assiste a telenovelas. "A gente quer agradar a todos. Isso sempre me pareceu a maior dificuldade na realização de novelas", diz.
"Celebridade" será sobre o universo da fama -tema já visitado no cinema por Woody Allen em "Celebridades" (98). Será protagonizada por Malu Mader, que viverá uma promotora de shows rodeada de candidatos à fama e de jornalistas, nem sempre éticos. A personagem de Malu, Maria Clara, terá como antagonista a vilã Laura (Cláudia Abreu).
A novela entraria no ar em junho do ano passado. Foi adiada duas vezes, e cedeu lugar para "Esperança" e "Mulheres Apaixonadas". Na primeira ocasião em que foi adiada, o problema teria sido a existência em sua trama de personagens que obtiveram fama instantânea em "reality shows". Depois, a Globo pediu a Braga que mudasse a profissão da protagonista, inicialmente uma estrela do telejornalismo, o que incomodou o departamento de jornalismo da emissora, que temia confusão entre a ficção e a realidade.
"Celebridade", segundo Gilberto Braga, não tem a pretensão de ser um retrato do Brasil como foi "Vale Tudo". É apenas mais uma novela centrada nos conflitos entre duas mulheres. Mas tem todos os elementos de suas novelas.
Na entrevista a seguir, por e-mail, o ex-jornalista Gilberto Braga fala de sua novela e das elites, que, segundo ele, estão mais éticas do que na época de "Vale Tudo".
 
Folha - Suas novelas são famosas por retratar conflitos entre classes sociais e temas (pelo menos outrora) polêmicos, como corrupção. O que teremos em "Celebridade"?
Gilberto Braga -
Acho que você está falando mais de "Vale Tudo" e "Pátria Minha", porque em "Dancin" Days", "Água Viva", "Corpo a Corpo" ou "O Dono do Mundo" não havia nada disso. Não tenho por objetivo repetir o universo de "Vale Tudo", apesar de ser minha novela preferida.

Folha - A imprensa foi coadjuvante em várias de suas novelas. Agora, aparentemente, ela será central. "Celebridade" terá uma abordagem crítica da imprensa? Até certo ponto, não seria uma autocrítica da própria Globo? Você não teme reações de veículos que eventualmente se sintam atingidos?
Braga -
A imprensa não me parece central e, sim, coadjuvante. Às vezes, com uma dose de crítica aos jornalistas que não respeitam privacidade. Felizmente, não se trata da maioria. A história deixa muito claro que a maior parte dos jornalistas é do bem, checa suas fontes etc. Já alguns são capazes de atitudes pouco éticas para ter matérias de impacto.
Apesar de o vilão (Renato, vivido por Fábio Assunção) ser editor de uma revista que lida com celebridades (e ele não é vilão só como jornalista, seu mau-caratismo abrange áreas distantes de sua vida profissional), e haver um repórter (Joel, André Barros) e um paparazzo (Ivan, Marcelo Laham) sem grandes escrúpulos, além de um segundo repórter agressivo, de participação secundária (Guilherme, Marcelo Valle), temos o dono da cadeia de revistas (Lineu, Hugo Carvana) totalmente ético no que toca à privacidade, o editor de uma outra revista, um semanário de nome "Palavra", um exemplo de ética (Queiroz, Otávio Muller), o jornalista admirável que, no início da história, passa por uma fase de decadência (Cristiano, Alexandre Borges), um fotógrafo glamouroso super do bem (Bruno, Sérgio Menezes) e uma repórter da revista "Fama" muitíssimo simpática, gente boa mesmo, que vibra com seu trabalho (Vitória, Débora Lamm).
Enfim, me parece haver um bom equilíbrio entre jornalistas éticos e não-éticos.

Folha - Uma das locações será um centro empresarial que representa a fictícia Editora Vasconcelos, dirigida pelo personagem de Hugo Carvana, que terá revistas e canais de TV. Não seria uma referência às Organizações Globo?
Braga -
Não, a Editora Vasconcelos não me parece ter nada a ver com a Globo.



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