MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Quando tinha sete anos, me levaram ao circo. Os palhaços me causaram um medo terrível. (...) Mas tive um sentimento estranho: eles me esperavam por lá. (...) Ainda não sabia que o futuro era o cinema: o circo-cinema."
A frase de Federico Fellini (1920-1993) é exemplar em revelar como a produção do célebre diretor italiano deve à arte circense. A exposição "Circo Fellini", aberta hoje para o público no Conjunto Cultural da Caixa (Paulista), em São Paulo, foi montada com tal espírito. Por isso, a cenografia de José Dias possui três lonas, nas quais destacam-se 36 reproduções de desenhos assinados pelo cineasta. O acervo pertence à Fundação Fellini, sediada em Rimini, cidade natal do diretor.
"Como Fellini não parava de fazer desenhos em todo material que encontrava, como guardanapos, papel de rascunho e diversos outros, a exibição de reproduções não faz com que se perca qualidade", afirma o curador da exposição, Antonio Cava, 40, dramaturgo e diretor.
A série de desenhos mostra todo o humor de Fellini na construção de seus personagens, com características que deixaram o cineasta famoso, como as mulheres de curvas expansivas, os palhaços de semblante tristonho e um sem-número de figuras que podem ser consideradas "excêntricas".
"Fellini trabalhou muito com chargistas em sua juventude. Aprendeu com eles esse traço característico e levou-o para a criação dos personagens de seus filmes", conta o curador, que tentou colocar figuras de cada um dos filmes do cineasta.
Outro segmento importante da mostra é a série de fotografias pertencentes à seção Rio do Istituto Italiano di Cultura, que possui um grande acervo de imagens de divulgação, em ótima qualidade, de nomes importantes da cultura italiana. Assim, aparecem colaboradores não tão conhecidos das empreitadas do diretor, como cenógrafos e figurinistas, mas também nomes mais célebres, como Anna Magnani, Pier Paolo Pasolini, Pietro Germi, e, claro, Marcello Mastroianni e Giulietta Masina.
Também são exibidos 23 cartazes dos filmes de Fellini, material cobiçado por cinéfilos e que dialoga com os desenhos do diretor na construção de um universo pleno de fantasia e de linhas exageradas. "Fellini tentava com que os cartazes fossem reflexos do que ele construía em seus filmes, por isso abdicava de fotografias de cenas."
Uma série importante exibida em "Circo Fellini" são 30 reproduções fotográficas de bastidores dos títulos, assinadas pelo renomado Tazio Secchiaroli.
Um ciclo de documentários sobre a obra felliniana, em DVD, vai ser exibido no Conjunto da Caixa - Sé, de 28 a 30 de setembro.