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ANÁLISE
Arte e política inseparáveis
MARIO CESAR CARVALHO
s
DA REPORTAGEM LOCAL
Ai Weiwei tem uma concepção muito particular do que é
ser artista. "Acho que todo artista é um ativista e um bom ativista pode ser um artista", disse
no mês passado.
No caso de Ai, a definição não
é um jogo de palavras. Arte e
política -especialmente a política de terra arrasada da ditadura chinesa em relação à tradição- são polos inseparáveis
de sua obra. A graça do trabalho
dele é que a política não elimina
as leituras infinitas da obra, não
é o panfleto de um sentido só.
A história pessoal de Ai talvez
ajude a entender essa concepção de arte. Quando era criança, seu pai, um dos grandes poetas da China moderna, foi mandado para o interior para limpar latrinas -era um castigo
que visava reeducar a família
"burguesa", nos tempos da Revolução Cultural (1966-1976).
Após cursar cinema em Pequim, Ai conseguiu uma bolsa
para estudar na Parson's
School de Nova York no início
dos anos 1980, quando a cidade
fervia com novos artistas, bandas punks e new wave e toda a
arte conceitual dos anos 60 estava ao alcance das mãos.
Não é por acaso que um dos
trabalhos de Ai cite frases de
Marcel Duchamp, o artista que
redefiniu a arte no século 20 ao
transformar objetos ordinários
em arte, e de Mao Tse-tung, o
ditador que tirou a China da
Idade Média.
É com esse mundo díspar,
que equilibra Duchamp e Mao,
que Ai faz o seu acerto de contas particular. Vem daí, talvez, o
peso dramático de alguns dos
seus trabalhos -e drama era
tudo que a arte conceitual e o
dadaísmo queriam matar. Ele
faz trabalhos com mochilas de
crianças mortas num terremoto, com madeira de templos budistas de mil anos que foram
demolidos por ordem do Partido Comunista, com pés de imagens budistas destruídas. Usa
tijolos de casas do século 14 que
foram derrubadas em Pequim
no ano passado para a cidade
abrigar a Olimpíada 2008.
Para quem estava acostumado a uma certa assepsia da arte
conceitual, é uma porrada. Para
quem acha que assuntos mundanos e de interesse imediato
não deveriam ser tratados pela
arte, é um lembrete de que tudo
pode ser arte; só depende da
ação do artista.
O rigor formal é uma das estratégias que Ai usa para fugir
do panfleto. Tudo é muito simples, mas quase nada é de entendimento imediato.
A faceta ativista de Ai não se
restringe à arte. Ele cutuca o
autoritarismo chinês em seu
blog, no Twitter, em exposições
que age como curador ou ao
criar um bairro de artistas independentes em Pequim.
Quando o governo chinês bloqueou seu blog, ele se recusou a
continuar a fazê-lo nos EUA.
Queria falar com os chineses. É
por isso que virou um dos mais
fortes candidatos ao exílio. A
China não tolera dissidentes
com seguidores.
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