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CRÍTICA
"Cidade" extrapola realismo com humor
ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA
"Aqui é a fronteira entre lá e
aqui. Lá é um país, aqui é
outro", filosofa Acerola (Douglas
Silva), ao descrever didaticamente as diferenças sociais inscritas na
geografia do Rio de Janeiro na estréia do imperdível seriado da
Globo "Cidade dos Homens", na
última terça-feira.
Lá é a zona sul, local onde trabalha sua mãe, cujo patrão é ironicamente classificado pelo narrador
como sua "ONG", a quem recorre
para pedir dinheiro.
"Coroa do Imperador", o primeiro episódio, foi dirigido por
César Charlone, experiente fotógrafo e diretor de publicidade,
atualmente na O2, a produtora de
Fernando Meirelles ("Cidade de
Deus") que vai deslocando o centro de suas atividades do universo
da propaganda em crise para o do
cinema e da TV, em parceria inédita com a Globo, que finalmente
abre espaço para a terceirização.
Na TV surge uma resposta ágil e
promissora às críticas do filme
"Cidade de Deus". Aqui o foco recai sobre o cotidiano de crianças
do morro. O roteiro do primeiro
episódio, de Jorge Furtado, Meirelles e Charlone, reflete a busca
de uma linguagem capaz de tratar
criticamente e de maneira inovadora as mazelas seculares do país.
O programa focaliza a violência
factual -que merece tratamento
documental nos depoimentos dos
meninos atores. Mas inova ao tratar da elaboração imaginária da
violência. Devaneios de Acerola
sobre batalhas napoleônicas aparecem em animações. Laranjinha
(Darlan Cunha) fantasia um assalto comunicando detalhes das
armas supostamente usadas pelo
rival em território do "patrão".
Acerola interpreta a vinda da família real portuguesa ao Brasil no
século 19 à luz de sua vivência da
guerra urbana contemporânea.
Os realizadores de "Coroa do
Imperador" ousam ao extrapolar
o realismo com humor no tratamento ficcional do universo popular cindido pelo tráfico.
Cidade dos Homens
Quando: hoje e sex. às 23h, na Globo
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