São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

"Cidade" extrapola realismo com humor

ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA

"Aqui é a fronteira entre lá e aqui. Lá é um país, aqui é outro", filosofa Acerola (Douglas Silva), ao descrever didaticamente as diferenças sociais inscritas na geografia do Rio de Janeiro na estréia do imperdível seriado da Globo "Cidade dos Homens", na última terça-feira.
Lá é a zona sul, local onde trabalha sua mãe, cujo patrão é ironicamente classificado pelo narrador como sua "ONG", a quem recorre para pedir dinheiro.
"Coroa do Imperador", o primeiro episódio, foi dirigido por César Charlone, experiente fotógrafo e diretor de publicidade, atualmente na O2, a produtora de Fernando Meirelles ("Cidade de Deus") que vai deslocando o centro de suas atividades do universo da propaganda em crise para o do cinema e da TV, em parceria inédita com a Globo, que finalmente abre espaço para a terceirização.
Na TV surge uma resposta ágil e promissora às críticas do filme "Cidade de Deus". Aqui o foco recai sobre o cotidiano de crianças do morro. O roteiro do primeiro episódio, de Jorge Furtado, Meirelles e Charlone, reflete a busca de uma linguagem capaz de tratar criticamente e de maneira inovadora as mazelas seculares do país.
O programa focaliza a violência factual -que merece tratamento documental nos depoimentos dos meninos atores. Mas inova ao tratar da elaboração imaginária da violência. Devaneios de Acerola sobre batalhas napoleônicas aparecem em animações. Laranjinha (Darlan Cunha) fantasia um assalto comunicando detalhes das armas supostamente usadas pelo rival em território do "patrão".
Acerola interpreta a vinda da família real portuguesa ao Brasil no século 19 à luz de sua vivência da guerra urbana contemporânea.
Os realizadores de "Coroa do Imperador" ousam ao extrapolar o realismo com humor no tratamento ficcional do universo popular cindido pelo tráfico.

Cidade dos Homens


    
Quando: hoje e sex. às 23h, na Globo




Texto Anterior: Pessimismo marca fim de série
Próximo Texto: Contardo Calligaris: Seis razões para votar em Enéas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.