São Paulo, Quarta-feira, 17 de Novembro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS

Obras de portugueses acompanharão a carta de Caminha durante exposição pelo país, em abril

Caminha inspira artistas portugueses

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre



Alguns dos principais artistas plásticos contemporâneos portugueses se inspiraram na carta de Pero Vaz de Caminha para produzir um conjunto de obras que acompanhará a carta, o primeiro documento sobre o Brasil, em exposição itinerante a ser realizada no país a partir de abril.
A carta, em que o escrivão narrou para a Coroa portuguesa as primeiras impressões sobre o Brasil recém-descoberto, serviu de inspiração para 11 artistas, cujas obras, depois de expostas, serão oferecidas por Portugal ao governo brasileiro.
O objetivo do evento é marcar os 500 anos do Descobrimento, com o retorno da carta original e a apresentação das obras.
Os artistas plásticos envolvidos no projeto são José de Guimarães, Luís Noronha da Costa, Nikias Skapinakis, Fernando Lemos, Graça Morais, Júlio Resende, Álvaro Lapa, Costa Pinheiro, João Vieira, Ana Vidigal e Júlio Pomar.
De acordo com o curador-geral da exposição "Brasil 500 Anos", Nelson Aguilar, os autores são representativos das artes plásticas portuguesas nos anos 50 e 60. Nessa época, Portugal vivia sob o governo fascista de António de Oliveira Salazar.
"São os melhores pintores daquela época, com certeza. Representam muito bem as artes plásticas de Portugal", diz o curador.
Os artistas fizeram uma leitura livre da carta de Caminha, na qual há uma descrição da visão portuguesa sobre o litoral brasileiro e sobre os índios aqui encontrados.
"O ponto de partida foi imaginar que há emissor e receptor. Pero Vaz pouco sabia do Brasil. Coloquei dois búzios como símbolos de comunicação. O resto é visão de oceano e bruma", disse o artista plástico Fernando Lemos, 74, que vive no Brasil há 47 anos.
"Interessou-me mais o que a carta representa em termos de escrita. Outros, talvez, tenham buscado imagens tropicais, mas vejo o documento como uma crônica de alguém que se deslumbrou com uma descoberta, o que é muito natural."
Lemos diz ter uma visão de luso-brasileiro, o que o diferencia dos outros participantes da mostra, que vivem em Portugal.
"Por conhecer bem o Brasil, sei que a carta é envolta em mistérios", afirmou o artista plástico, que deixou Portugal no início dos anos 50 e só pôde retornar após 74, quando houve a Revolução dos Cravos, responsável pela redemocratização do país.






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