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"Nova Osesp" busca identidade sem centralização
Crise com saída de John Neschling foi superada, mas nova direção mostra que transição ainda está em curso
Críticos apontam riscos e
vantagens com gestão
compartilhada entre Arthur
Nestrovski e regente francês
Yan Pascal Tortelier
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de um início de 2009
traumático, com a demissão do
maestro John Neschling em janeiro, a Osesp (Sinfônica do Estado de São Paulo) chega ao final do ano moderadamente otimista -"allegro ma non troppo". A crise foi superada, mas a
transição acabou?
O maestro francês Yan Pascal Tortelier, contratado no início do ano às pressas para cumprir a programação anual, termina a temporada efetivado no
cargo de regente titular, conforme anúncio do Conselho da
Fundação Osesp no último dia
8. E Arthur Nestrovski, que deixa de ser articulista da Folha e
editor da Publifolha, começa
2010 como novo diretor artístico da orquestra, cumprindo o
desejo de conselho de "descentralizar" a sua gestão.
E é exatamente esse ponto,
uma certa "despersonalização"
em uma orquestra que há apenas dez anos se profissionalizou com a mão firme de Nesch-ling, que gera dúvidas em alguns especialistas. É o caso do
crítico francês Alain Lompech,
do jornal "Le Monde", para
quem "ter dois capitães no
mesmo navio traz riscos para
uma instituição tão "jovem"
quanto a Osesp". Segundo ele,
"isso não coloca em questionamento o talento de Tortelier
nem de Nestrovski. Mas os
maiores exemplos de sucesso
artístico aconteceram quando
havia uma identificação entre a
orquestra e seu chefe".
Já o crítico de música erudita
da revista "New Yorker", Alex
Ross, tem uma visão diferente.
Ele aponta que a era dos "supermaestros" é coisa do passado, e que o modelo de gestão
descentralizada pretendido pela Osesp é uma tendência. "Todas as principais orquestras
norte-americanas têm um diretor artístico ou administrador que atua em conjunto com
um diretor musical", afirma.
Lompech aponta outra questão que considera problemática, a opção por um regente que
cumpra só uma pequena parte
da programação anual. Em
2010, Tortelier ficará à frente
da orquestra em apenas nove
concertos. Regentes estrangeiros convidados estarão a cargo
de 20 apresentações. Brasileiros assumem cinco concertos.
"Espero que não se reproduza no Brasil o que já não funciona muito bem em orquestras
que têm uma história e uma organização muito mais antiga e
estável do que a Osesp. Melhor
mirar os excelentes exemplos
dados por Riccardo Chailly em
Leipzig (Alemanha) ou de
Myung Whun Chung (na Orquestra Filarmônica da Rádio
France) do que nos exemplos
de maestros "business class",
que ficam apenas 12 ou 15 semanas por ano à frente de suas
orquestras. A Osesp ainda não
está concluída, falta um dirigente que seja seu chefe e a encarne dentro e fora de casa",
diz Lompech.
O crítico da "New Yorker"
também discorda. "Doze ou 14
semanas é um contrato relativamente normal. Dez seria
(um período) pequeno."
O grande número de regentes convidados em 2010 havia
sido apontado exatamente como um recurso encontrado pelo "comitê de busca" para testar um possível novo titular.
O novo diretor artístico, Arthur Nestrovski, no entanto, já
afirmou que a proporção se
manterá na programação 2011
(que já está quase concluída,
mas que já terá alguma participação sua). "Esse é o modelo
adotado na quase totalidade
das orquestras de porte. Provavelmente nunca se teve tantos
regentes de expressão mundial
em uma temporada no Brasil,
como acontecerá em 2010. Vai
ser semelhante em 2011, isso
tende a ser a rotina por muitos
anos", afirma.
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