|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Will Smith pára de salvar o mundo
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO
"Hitch - Conselheiro Amoroso"
é uma comédia romântica. Numa
dessas cenas em que sobe a música e o par romântico se beija, lá
pela metade da fita, um repórter
que assistia à prévia para a imprensa, no último dia 10, no Rio
de Janeiro, soltou o primeiro suspiro. De impaciência.
Mas jornalistas são criaturas
que certamente precisariam dos
conselhos de Alex Hitchens, o
personagem que dá nome a essa
obra que desponta para a "Sessão
da Tarde". Interpretado por Will
Smith ("Homens de Preto", "Eu,
Robô", "Ali"), o tutor amoroso
ajuda gordinhos, míopes e astigmatas a se livrarem da bombinha
de asma e conquistarem modelos
loiras, milionárias, donas de dois
metros de altura só de pernas.
Para quem já está ansioso pela
fórmula do sucesso, o filme da estréia hoje no Brasil.
A "receita" do roteiro é tão simples quanto um manual de auto-ajuda: Smith presta seus serviços
para o contador que foi ser gauche na vida Albert Brennaman
(Kevin James, do seriado de televisão "The King of Queens").
Enquanto tenta ensinar o neófito nas artes de capturar a mulherada a ganhar uma loirinha sensacional, megaempresária (Allegra
Cole, interpretada pela modelo e
atriz Amber Valleta), Hitch se envolve com uma repórter de tablóide fofoqueiro (a atriz Eva Mendes
na pele de Sara Melas).
Daí para a frente, a história segue aquela máxima do escritor
Guimarães Rosa sobre o mestre
-não quem sempre ensina, mas
aquele que, de repente, aprende.
Óbvio que o gordinho, com sua
naturalidade "loser" (que é a de
todos nós, na platéia dessa vida
ingrata de mulheres cruéis), vai
terminar por ensinar o conselheiro machucado pela vida a "abrir
seu coração para o amor (e a
dor)" -a frase é do texto promocional divulgado para a imprensa.
Acrescente alguns mal-entendidos básicos depois revertidos, daqueles que mantêm mocinhos e
mocinhas entre rusgas até o de-
senlace, uma pitada de referência
a "Jerry Maguire" -ou seja, um
clássico!-, e você tem a história
mais previsível desde o tempo em
que os Capuleto ainda matavam
os Montequio a pauladas.
Por quê, Will Smith? Por quê? O
ator, que deu o ar de sua graça na
sexta-feira passada, no Rio, responde em duas frentes. "O personagem é perfeito para mim" é
uma. Queria fazer um filme "sem
armas ou alienígenas, robôs ou
efeitos especiais", a outra.
Smith diz ter sempre dado conselhos amorosos a seus amigos
-que, imprudentes, não o ouvem- e ser um comprador voraz
de best-sellers sobre relacionamentos e literatura feminina.
Quando o roteiro caiu em suas
mãos, o entusiasmo foi imediato.
Adicione que seu filho de cinco
anos -seu "guru", segundo o
ator-, quando "Eu, Robô" foi
lançado, lhe fez um pedido: "Pai,
isso é ótimo, os robôs são incríveis, mas não salve mais o mundo.
Eu tenho cinco anos, e você já salvou o mundo quatro vezes".
"Senti que era hora de fazer algo
diferente", explica o bom ator,
verdadeiramente carismático.
Neste caso, um longa-metragem
em que "as cenas são totalmente
baseadas em diálogos".
Se vale um conselho ao conselheiro, meu caro Will Smith, não
dê ouvidos para essa criança. Volte, com urgência, a desintegrar
alienígenas.
Texto Anterior: Crítica: Sem seu estilo, Amenábar naufraga Próximo Texto: "Hitch - Conselheiro Amoroso": Comédia romântica reza pelo dogma do amor e da moral Índice
|