São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

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Will Smith pára de salvar o mundo

RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

"Hitch - Conselheiro Amoroso" é uma comédia romântica. Numa dessas cenas em que sobe a música e o par romântico se beija, lá pela metade da fita, um repórter que assistia à prévia para a imprensa, no último dia 10, no Rio de Janeiro, soltou o primeiro suspiro. De impaciência.
Mas jornalistas são criaturas que certamente precisariam dos conselhos de Alex Hitchens, o personagem que dá nome a essa obra que desponta para a "Sessão da Tarde". Interpretado por Will Smith ("Homens de Preto", "Eu, Robô", "Ali"), o tutor amoroso ajuda gordinhos, míopes e astigmatas a se livrarem da bombinha de asma e conquistarem modelos loiras, milionárias, donas de dois metros de altura só de pernas.
Para quem já está ansioso pela fórmula do sucesso, o filme da estréia hoje no Brasil.
A "receita" do roteiro é tão simples quanto um manual de auto-ajuda: Smith presta seus serviços para o contador que foi ser gauche na vida Albert Brennaman (Kevin James, do seriado de televisão "The King of Queens").
Enquanto tenta ensinar o neófito nas artes de capturar a mulherada a ganhar uma loirinha sensacional, megaempresária (Allegra Cole, interpretada pela modelo e atriz Amber Valleta), Hitch se envolve com uma repórter de tablóide fofoqueiro (a atriz Eva Mendes na pele de Sara Melas).
Daí para a frente, a história segue aquela máxima do escritor Guimarães Rosa sobre o mestre -não quem sempre ensina, mas aquele que, de repente, aprende.
Óbvio que o gordinho, com sua naturalidade "loser" (que é a de todos nós, na platéia dessa vida ingrata de mulheres cruéis), vai terminar por ensinar o conselheiro machucado pela vida a "abrir seu coração para o amor (e a dor)" -a frase é do texto promocional divulgado para a imprensa.
Acrescente alguns mal-entendidos básicos depois revertidos, daqueles que mantêm mocinhos e mocinhas entre rusgas até o de- senlace, uma pitada de referência a "Jerry Maguire" -ou seja, um clássico!-, e você tem a história mais previsível desde o tempo em que os Capuleto ainda matavam os Montequio a pauladas.
Por quê, Will Smith? Por quê? O ator, que deu o ar de sua graça na sexta-feira passada, no Rio, responde em duas frentes. "O personagem é perfeito para mim" é uma. Queria fazer um filme "sem armas ou alienígenas, robôs ou efeitos especiais", a outra.
Smith diz ter sempre dado conselhos amorosos a seus amigos -que, imprudentes, não o ouvem- e ser um comprador voraz de best-sellers sobre relacionamentos e literatura feminina. Quando o roteiro caiu em suas mãos, o entusiasmo foi imediato.
Adicione que seu filho de cinco anos -seu "guru", segundo o ator-, quando "Eu, Robô" foi lançado, lhe fez um pedido: "Pai, isso é ótimo, os robôs são incríveis, mas não salve mais o mundo. Eu tenho cinco anos, e você já salvou o mundo quatro vezes".
"Senti que era hora de fazer algo diferente", explica o bom ator, verdadeiramente carismático. Neste caso, um longa-metragem em que "as cenas são totalmente baseadas em diálogos".
Se vale um conselho ao conselheiro, meu caro Will Smith, não dê ouvidos para essa criança. Volte, com urgência, a desintegrar alienígenas.


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