São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

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"HITCH - CONSELHEIRO AMOROSO"

Comédia romântica reza pelo dogma do amor e da moral

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A única ousadia de "Hitch-Conselheiro Amoroso" fica confinada em seu título: "Hitch" remete a Hitchcock, e "cock" é como o pênis também é jocosamente apelidado em inglês. O resto do filme de Andy Tennant em nada arrisca no uso do som e nos enquadramentos e narra uma história digna de almanaque feminino.
Sobre a forma, poderíamos nos lembrar de "O Amor É Cego", dos irmãos Farrelly, arrojada no tema e na forma. Ou dos filmes de Jerry Lewis, como "O Terror das Mulheres". Aqui, logo no início, Lewis vê a sua pretendente com outro. Chocado, promete jamais se envolver com outra mulher. Fala isso aos prantos, acompanhado por uma sofisticada orquestração de imagem e som, e o que está em questão é metalingüístico: o tom dramático utilizado pelo cinema para uma cena tão prosaica.
Alex Hitchens (Will Smith) também não se envolve efetivamente com nenhuma mulher, já que certa vez flagrou sua namorada com outro. Mas o tom aqui não é jocoso, e não é por menos que ele orienta só os homens que estiverem mesmo apaixonados pelas mulheres, jamais os cafajestes. O amor é motivo sagrado que justifica o trabalho de Hitch, portanto.
Temos aqui, então, um filme de justificativas, e bastam as armas de destruição em massa no Iraque para bem sabermos o perigo dessa idéia. Porque vivemos, hoje, sob histeria coletiva, com homens e mulheres assombrados pelo medo da solidão. E é o "amor" que cria certa dignidade nessa esquizofrenia, camuflando a cobrança geral em saber o que virá após uma transa, um encontro, uma ida ao cinema.
Tal ansiedade mata a chance do contato humano e, mais triste, é o amor que acaba moralmente vilanizando aqueles que são justos, mas não seguem o mandamento do amor-casamento.
É o que "Hitch" faz, e sem tentar um encontro com a vida e suas incertezas, algo que até uma comédia mediana como "O Casamento do Meu Melhor Amigo" fizera. Prefere o oposto, um dogma do amor perfeito, seguido por personagens-robô que já têm caminho prescrito desde os créditos iniciais. Mas por ironia, Will Smith, também robô aqui, extraordinariamente empresta graça e encaminha solenemente as platéias ao conforto do final feliz.


Hitch - Conselheiro Amoroso
Hitch
 
Direção: Andy Tennant
Produção: EUA, 2005
Com: Will Smith, Eva Mendes
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Interlagos, Lapa e circuito


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