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"HITCH - CONSELHEIRO AMOROSO"
Comédia romântica reza pelo dogma do amor e da moral
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A única ousadia de "Hitch-Conselheiro Amoroso" fica
confinada em seu título: "Hitch"
remete a Hitchcock, e "cock" é como o pênis também é jocosamente apelidado em inglês. O resto do
filme de Andy Tennant em nada
arrisca no uso do som e nos enquadramentos e narra uma história digna de almanaque feminino.
Sobre a forma, poderíamos nos
lembrar de "O Amor É Cego", dos
irmãos Farrelly, arrojada no tema
e na forma. Ou dos filmes de Jerry
Lewis, como "O Terror das Mulheres". Aqui, logo no início, Lewis vê a sua pretendente com outro. Chocado, promete jamais se
envolver com outra mulher. Fala
isso aos prantos, acompanhado
por uma sofisticada orquestração
de imagem e som, e o que está em
questão é metalingüístico: o tom
dramático utilizado pelo cinema
para uma cena tão prosaica.
Alex Hitchens (Will Smith)
também não se envolve efetivamente com nenhuma mulher, já
que certa vez flagrou sua namorada com outro. Mas o tom aqui não
é jocoso, e não é por menos que
ele orienta só os homens que estiverem mesmo apaixonados pelas
mulheres, jamais os cafajestes. O
amor é motivo sagrado que justifica o trabalho de Hitch, portanto.
Temos aqui, então, um filme de
justificativas, e bastam as armas
de destruição em massa no Iraque
para bem sabermos o perigo dessa idéia. Porque vivemos, hoje,
sob histeria coletiva, com homens
e mulheres assombrados pelo
medo da solidão. E é o "amor"
que cria certa dignidade nessa esquizofrenia, camuflando a cobrança geral em saber o que virá
após uma transa, um encontro,
uma ida ao cinema.
Tal ansiedade mata a chance do
contato humano e, mais triste, é o
amor que acaba moralmente vilanizando aqueles que são justos,
mas não seguem o mandamento
do amor-casamento.
É o que "Hitch" faz, e sem tentar
um encontro com a vida e suas incertezas, algo que até uma comédia mediana como "O Casamento
do Meu Melhor Amigo" fizera.
Prefere o oposto, um dogma do
amor perfeito, seguido por personagens-robô que já têm caminho
prescrito desde os créditos iniciais. Mas por ironia, Will Smith,
também robô aqui, extraordinariamente empresta graça e encaminha solenemente as platéias ao
conforto do final feliz.
Hitch - Conselheiro Amoroso
Hitch
Direção: Andy Tennant
Produção: EUA, 2005
Com: Will Smith, Eva Mendes
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Interlagos, Lapa e circuito
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