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CINEMA
Indicados para o prêmio de melhor filme registram o menor resultado nas bilheterias dos últimos cinco anos
Oscar 2005 tem perfil menos comercial
DAVID GERMAIN
DA ASSOCIATED PRESS, EM LOS ANGELES
Pela primeira vez, desde o fenômeno "Titanic", em 1997, não há
um estouro de bilheteria entre os
indicados para o Oscar de melhor
filme, e pela primeira vez em 15
anos os indicados não incluem
pelo menos um filme com faturamento superior a US$ 100 milhões
(R$ 259,2 milhões).
Uma semana antes do Oscar
(dia 27), as bilheterias de "O Aviador", "Menina de Ouro", "Ray",
"Sideways - Entre Umas e Outras"
e "Em Busca da Terra do Nunca",
devem atingir cerca de US$ 315
milhões (R$ 816,6 milhões).
Neste ano, os candidatos a melhor filme venderam 50,6 milhões
de ingressos, cerca de 50% a menos que o total de cada um dos
cinco anos anteriores, quando as
bilheterias dos filmes indicados a
esta categoria variavam entre US$
100 milhões e US$ 118 milhões (de
R$ 259 milhões a R$ 306 milhões),
em média.
As audiências dos cinco indicados a melhor filme não eram tão
pequenas desde 1984, quando
"Amadeus" conquistou o Oscar
de melhor filme. "Amadeus" e
seus rivais -"Um Lugar no Coração", "Gritos do Silêncio", "Passagem para a Índia" e "A História de
um Soldado"- tiveram público
de 41 milhões de pessoas.
Não se trata de exercício inútil
de aritmética. Os executivos da
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas bem sabem que
um filme popular liderando a corrida pelo Oscar de melhor filme
atrai mais telespectadores para a
transmissão da cerimônia de premiação, cuja audiência vem caindo nos últimos cinco anos.
"Não temos um "Titanic" ou um
"Senhor dos Anéis" no mercado.
Acredito que seja lícito dizer que
isso nos preocupa um pouco",
disse Bruce Davis, diretor executivo da Academia.
O Oscar atraiu seu maior público quando "Titanic" ganhou o
prêmio de melhor filme, em 1997.
No dia da cerimônia, o filme havia
faturado quase US$ 500 milhões,
a caminho de bilheterias totais de
US$ 600 milhões (R$ 1,55 bilhão)
nos EUA e de US$ 1,8 bilhão (R$
4,6 bilhões) no mundo.
Em 2004, a maior audiência em
quatro anos foi a transmissão da
cerimônia que premiou a sensação "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei", que faturou US$
377 milhões (R$ 977,4 milhões),
como melhor filme.
"As pessoas gostam de ter um
interesse, mesmo que indireto, no
que estão assistindo. Quando "Titanic" fatura US$ 1,8 bilhão nas bilheterias mundiais, muita gente
passa ter interesse pelo resultado
da premiação", disse Paul Dergarabedian, presidente da Exhibitor
Relations, empresa que afere bilheterias cinematográficas.
Chegando aos US$ 90 milhões
(R$ 233,3 milhões), "O Aviador"
lidera a lista neste ano, seguido
por "Ray", que atingiu bilheteria
de US$ 75 milhões (R$ 194,4 milhões). "Menina de Ouro", "Sideways" e "Em Busca da Terra do
Nunca" arrecadaram entre US$
45 milhões (R$ 116,6 milhões) e
US$ 55 milhões cada um.
Os grandes sucessos de 2004 incluíram "Shrek 2", "Homem-Aranha 2" e "Os Incríveis", mas
são trabalhos mais leves, que raramente atraem a atenção para o
prêmio de melhor filme. E Hollywood, uma indústria de tradições
liberais, não considerou a possibilidade de indicar o grande sucesso
religioso "A Paixão de Cristo" para o prêmio de melhor filme.
O Oscar, porém, nem sempre
reflete o sentimento popular
quanto aos filmes de sucesso, e
muitas vezes dá destaque a pequenas produções como "Vera
Drake" e "Being Julia", que receberam indicações neste ano.
"Jamais equiparei o Oscar ao dinheiro que um filme fatura nas bilheterias", disse Nikki Rocco, diretor de distribuição da Universal,
que comercializa "Ray". "Esse papel é exercido pelo People's Choice Awards. A Academia não é o
público. É uma organização concedendo prêmios ao que entende
como melhores filmes do ano."
Quando um grande sucesso comercial como "Titanic" ou "Senhor dos Anéis: O Retorno do
Rei" triunfa, é porque o apelo crítico e o interesse popular se encontram, de alguma maneira.
"Os filmes indicados neste ano
não se tratam do tipo de trabalho
grande e repleto de efeitos especiais que usualmente fatura alto",
disse Mike Rudnitsky, diretor de
distribuição da Miramax, que comercializa "Em Busca da Terra do
Nunca" e "O Aviador".
"Os críticos costumam desdenhar o Oscar, não importando
que filmes sejam indicados para
disputar os prêmios", diz Davis,
diretor da Academia. "Nos anos
em que os sucessos comerciais
dominam, os votantes que conferem os prêmios são acusados de
ceder ao gosto popular. Quando
filmes menores prevalecem, a
Academia termina criticada por
não manter contato com o mercado", completa Davis.
Estúdios responsáveis pelos indicados do ano dizem que estes
filmes representam uma vitória
artística. "Creio que seja um tributo aos membros da Academia",
diz Dan Fellman, diretor de distribuição da Warner Bros., que comercializa "Menina de Ouro".
"Eles votam com o coração, e não
pensando nas bilheterias."
Tradução Paulo Migliacci
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