São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

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CINEMA

Indicados para o prêmio de melhor filme registram o menor resultado nas bilheterias dos últimos cinco anos

Oscar 2005 tem perfil menos comercial

DAVID GERMAIN
DA ASSOCIATED PRESS, EM LOS ANGELES

Pela primeira vez, desde o fenômeno "Titanic", em 1997, não há um estouro de bilheteria entre os indicados para o Oscar de melhor filme, e pela primeira vez em 15 anos os indicados não incluem pelo menos um filme com faturamento superior a US$ 100 milhões (R$ 259,2 milhões).
Uma semana antes do Oscar (dia 27), as bilheterias de "O Aviador", "Menina de Ouro", "Ray", "Sideways - Entre Umas e Outras" e "Em Busca da Terra do Nunca", devem atingir cerca de US$ 315 milhões (R$ 816,6 milhões).
Neste ano, os candidatos a melhor filme venderam 50,6 milhões de ingressos, cerca de 50% a menos que o total de cada um dos cinco anos anteriores, quando as bilheterias dos filmes indicados a esta categoria variavam entre US$ 100 milhões e US$ 118 milhões (de R$ 259 milhões a R$ 306 milhões), em média.
As audiências dos cinco indicados a melhor filme não eram tão pequenas desde 1984, quando "Amadeus" conquistou o Oscar de melhor filme. "Amadeus" e seus rivais -"Um Lugar no Coração", "Gritos do Silêncio", "Passagem para a Índia" e "A História de um Soldado"- tiveram público de 41 milhões de pessoas.
Não se trata de exercício inútil de aritmética. Os executivos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas bem sabem que um filme popular liderando a corrida pelo Oscar de melhor filme atrai mais telespectadores para a transmissão da cerimônia de premiação, cuja audiência vem caindo nos últimos cinco anos.
"Não temos um "Titanic" ou um "Senhor dos Anéis" no mercado. Acredito que seja lícito dizer que isso nos preocupa um pouco", disse Bruce Davis, diretor executivo da Academia.
O Oscar atraiu seu maior público quando "Titanic" ganhou o prêmio de melhor filme, em 1997. No dia da cerimônia, o filme havia faturado quase US$ 500 milhões, a caminho de bilheterias totais de US$ 600 milhões (R$ 1,55 bilhão) nos EUA e de US$ 1,8 bilhão (R$ 4,6 bilhões) no mundo.
Em 2004, a maior audiência em quatro anos foi a transmissão da cerimônia que premiou a sensação "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei", que faturou US$ 377 milhões (R$ 977,4 milhões), como melhor filme.
"As pessoas gostam de ter um interesse, mesmo que indireto, no que estão assistindo. Quando "Titanic" fatura US$ 1,8 bilhão nas bilheterias mundiais, muita gente passa ter interesse pelo resultado da premiação", disse Paul Dergarabedian, presidente da Exhibitor Relations, empresa que afere bilheterias cinematográficas.
Chegando aos US$ 90 milhões (R$ 233,3 milhões), "O Aviador" lidera a lista neste ano, seguido por "Ray", que atingiu bilheteria de US$ 75 milhões (R$ 194,4 milhões). "Menina de Ouro", "Sideways" e "Em Busca da Terra do Nunca" arrecadaram entre US$ 45 milhões (R$ 116,6 milhões) e US$ 55 milhões cada um.
Os grandes sucessos de 2004 incluíram "Shrek 2", "Homem-Aranha 2" e "Os Incríveis", mas são trabalhos mais leves, que raramente atraem a atenção para o prêmio de melhor filme. E Hollywood, uma indústria de tradições liberais, não considerou a possibilidade de indicar o grande sucesso religioso "A Paixão de Cristo" para o prêmio de melhor filme.
O Oscar, porém, nem sempre reflete o sentimento popular quanto aos filmes de sucesso, e muitas vezes dá destaque a pequenas produções como "Vera Drake" e "Being Julia", que receberam indicações neste ano.
"Jamais equiparei o Oscar ao dinheiro que um filme fatura nas bilheterias", disse Nikki Rocco, diretor de distribuição da Universal, que comercializa "Ray". "Esse papel é exercido pelo People's Choice Awards. A Academia não é o público. É uma organização concedendo prêmios ao que entende como melhores filmes do ano."
Quando um grande sucesso comercial como "Titanic" ou "Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" triunfa, é porque o apelo crítico e o interesse popular se encontram, de alguma maneira.
"Os filmes indicados neste ano não se tratam do tipo de trabalho grande e repleto de efeitos especiais que usualmente fatura alto", disse Mike Rudnitsky, diretor de distribuição da Miramax, que comercializa "Em Busca da Terra do Nunca" e "O Aviador".
"Os críticos costumam desdenhar o Oscar, não importando que filmes sejam indicados para disputar os prêmios", diz Davis, diretor da Academia. "Nos anos em que os sucessos comerciais dominam, os votantes que conferem os prêmios são acusados de ceder ao gosto popular. Quando filmes menores prevalecem, a Academia termina criticada por não manter contato com o mercado", completa Davis.
Estúdios responsáveis pelos indicados do ano dizem que estes filmes representam uma vitória artística. "Creio que seja um tributo aos membros da Academia", diz Dan Fellman, diretor de distribuição da Warner Bros., que comercializa "Menina de Ouro". "Eles votam com o coração, e não pensando nas bilheterias."


Tradução Paulo Migliacci


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