LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Cheira a naftalina esse "Por Dentro da Casa Branca", que o National Geographic exibe hoje. Como o próprio nome entrega, o programa mostra os bastidores e conta a história da sede da Presidência dos EUA. Para tal empreitada, mescla cenas dos preparativos para uma recepção presidencial a um chefe de Estado com imagens e fotos de arquivo.
A recepção, que inclui um jantar de gala, trata-se do encontro entre o então presidente Bill Clinton e Boris Ieltsin, à época presidente russo. O documentário não diz, mas a cerimônia ocorreu em setembro de 1994, quando o atual presidente George W. Bush nem governador do Texas era. Por que um evento tão antigo? Simples: o programa é de 1996.
Mas as marcas do tempo não são o único problema do programa. Faltam informações básicas. Na compilação de imagens históricas, por exemplo, empilha cenas de encontros de cúpula, mas não identifica ninguém -a emissora promete incluir legendas adicionais ao documentário. E qual o tamanho da Casa Branca? Sua área total? De quantos cômodos dispõe? Os quatro blocos do documentário não respondem.
Envolvendo esse emaranhado há uma narração em off que exalta as maravilhas da Casa Branca. Frases como "não há outro lugar que se compare a este na Terra" e "estes cômodos propiciam o paraíso" dão um tom particularmente nauseante ao programa.
Todas essas falhas ofuscam o pouco que o documentário tem de bom: os funcionários da Casa Branca, os anônimos que mantêm a engrenagem andando no dia-a-dia. É o caso de John Muffler, eletricista à época com mais de 40 anos de Casa Branca, responsável, entre outras coisas, por dar corda em todos os relógios do edifício. Quantos são? O programa não diz. E hoje Muffler já tem mais de 50 anos na função.
Há algumas curiosidades históricas divertidas, como quando, nos anos 50, o presidente Dwight Eisenhower decretou guerra aos esquilos que haviam tomado o campo de golfe presidencial. Obviamente, não é o bastante para justificar a audiência.