São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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MÚSICA

Crítica/"Bare Bones"

Madeleine Peyroux caminha para fixar identidade musical

Novo álbum estabelece cantora como compositora consistente, e tem rock e r&b

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na faixa de abertura ("Instead", um saltitante blues acústico), o timbre vocal e a maneira de arrastar certas palavras ainda lembram o estilo único de Billie Holiday (1915-1959). Mas basta ouvir as faixas seguintes de "Bare Bones", o quarto álbum de Madeleine Peyroux, para notar que a jovem cantora americana parece enfim ter começado a descobrir sua identidade musical.
Com a produção assinada mais uma vez por Larry Klein, conhecido por sua longa associação com a canadense Joni Mitchell, "Bare Bones" estabelece Peyroux como compositora. Na verdade, ela já havia exibido quatro canções próprias no anterior "Half the Perfect World" (2006), mas ainda sem a consistência que revela agora.
Para uma intérprete cujo repertório foi centrado durante anos em standards do blues e do jazz, ou, mais recentemente, em canções folk de Leonard Cohen e Bob Dylan, quase sempre tingidas por uma considerável dose de melancolia, uma canção como "You Can't Do Me" (você não pode transar comigo), parceria da cantora com Klein e Walter Becker (da banda Steely Dan), é um sinal de novidade.
O ritmo bem marcado entre o rock e o rhythm & blues, colorido por órgão e guitarra, reforça a saliência dos versos: "Eu sei que fico tão triste/ Vou fundo como um escafandrista no mar/ Fora como um sax tenor à Coltrane/ Perdida como uma criança chinesa na guerra/ Morta, morta, morta!/ Desgraçada como um meeiro do Mississippi/ Fodida como uma cheerleader de colégio".
Esse tom confessional se mantém em outras canções do álbum, como a delicada "I Must Be Saved", única composta somente pela cantora, que assina as outras dez com vários parceiros. Ou a triste "River of Tears" (outra com Klein), que Peyroux fez para se despedir do pai, morto há alguns anos.
Para quem ainda não teve a oportunidade de ver alguma das diversas apresentações que Peyroux já fez por aqui, nos últimos anos, vale um aviso: parte do encanto de suas interpretações registradas nos discos de estúdio se desfaz no palco, já que ela está longe ainda de ser uma cantora segura, muito menos carismática.
Mas essa timidez acaba funcionando a favor dela, reforçada por seus folclóricos sumiços da cena musical, que já foram bastante explorados, tanto nos jornais como na internet. Estimulados por esses episódios de aparente rebeldia, não são poucos os fãs que acreditam que a frágil e franca Madeleine Peyroux realmente viveu todas as perdas e fracassos amorosos sugeridos nas confessionais canções que interpreta.


BARE BONES

Artista: Madeleine Peyroux
Lançamento: previsto para segunda quinzena de março
Gravadora: Rounder/Universal
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: bom



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