São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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Ferriani estreia em CD sem se prender ao samba

Cantora busca reunir influências da MPB e do jazz e 7 em SP LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Especialmente no Rio, onde cantou por dois anos numa casa da Lapa, mas também para quem a admira das noites paulistanas no Traço de União, Verônica Ferriani é conhecida como uma intérprete de samba. Mas seu CD de estreia é prova de que ela não quer se atrelar a esse rótulo -e, ao que parece, a nenhum outro. "Eu tive oportunidade de fazer um disco de samba no Rio. Seria de um jeito mais regional [com formação tradicional: violão, cavaquinho, percussão e sopros], mas talvez não conseguisse sanar todas as minhas vontades. Na verdade, eu não nasci no samba. Venho de MPB, do jazz, de um monte de influências. É essa mistura que eu queria achar, buscar uma fórmula própria", conta a paulista Ferriani, que fará shows de lançamento em 6 e 7 de março, no Tom Jazz. As quatro primeiras faixas remontam aos anos 70: uma peça de crítica social típica do Gonzaguinha de então ("Um Sorriso nos Lábios"); uma canção romântica bilíngue, lançada pelo coautor Luiz Henrique ao lado de Liza Minnelli ("If You Want to Be a Lover"); um hino da rebeldia desbundada ("Com Mais de 30", de Marcos e Paulo Sérgio Valle); e um soul de amor pinçado do primeiro disco solo de Tim Maia ("Eu Amo Você", de Cassiano e Silvio Rochael). "Não parti desse pressuposto [serem músicas da década de 70]. A escolha do repertório foi muito cuidadosa. Chegamos a ter 55 opções. Escolhemos as que seriam gravadas por valor absoluto. Tirei, inclusive, músicas minhas, preferindo focar no trabalho de intérprete", diz Ferriani, 30, garantindo se sentir à vontade para continuar cantando versos como "Não confie em ninguém com mais de 30 anos" quando completar 31. "É bom para me lembrar." Na garimpagem, feita em conjunto com o produtor BiD, restaram somente dez músicas. Ela explica que prefere discos não tão longos e, além do mais, não tinha dinheiro para gravar mais faixas. A produção foi viabilizada com dinheiro próprio e de patrocinadores de Ribeirão Preto, sua cidade natal. Resolveu pagar o preço para fazer o que quisesse. Não chegou a concretizar um plano antigo de gravar um disco só com composições de Rubens Nogueira, mas registrou duas parcerias dele com Paulo César Pinheiro, as únicas inéditas de "Verônica Ferriani": o bolero "Bem Feito" e o frevo "Na Volta da Ladeira". Também de Pinheiro, selecionou "Ahiê", melodia de João Donato. E, como o samba não poderia ficar totalmente de fora, gravou um Paulinho da Viola pouco conhecido ("Perder e Ganhar") e um Assis Valente bastante conhecido ("Fez Bobagem").
"Algo novo"
"Esta é uma das poucas que eu já cantava, porque fiquei na noite e em rodas [de samba] por alguns anos. Para mim, muitas músicas já estavam desgastadas. Eu queria fazer algo novo", afirma ela, ressaltando que priorizou músicas que fossem menos conhecidas para driblar a obviedade. Ferriani iniciou a carreira há cinco anos ao lado do músico e compositor Chico Saraiva, cantou samba funkeado na Bandalheira, participou em 2007 do programa "Som Brasil", da TV Globo, dedicado a Ivan Lins, integra o grupo Gafieira São Paulo e tem cativado gente famosa de samba como Beth Carvalho. Uma trajetória variada como ela queria que seu primeiro disco mostrasse. "Se fosse diferente, não ia retratar o que eu sou."


VERÔNICA FERRIANI

Gravadora: independente
Quanto: R$ 23, em média



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