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Ferriani estreia em CD sem se prender ao samba
Cantora busca reunir influências da MPB e do jazz
e 7 em SP
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Especialmente no Rio, onde
cantou por dois anos numa casa da Lapa, mas também para
quem a admira das noites paulistanas no Traço de União, Verônica Ferriani é conhecida como uma intérprete de samba.
Mas seu CD de estreia é prova
de que ela não quer se atrelar a
esse rótulo -e, ao que parece, a
nenhum outro.
"Eu tive oportunidade de fazer um disco de samba no Rio.
Seria de um jeito mais regional
[com formação tradicional: violão, cavaquinho, percussão e
sopros], mas talvez não conseguisse sanar todas as minhas
vontades. Na verdade, eu não
nasci no samba. Venho de
MPB, do jazz, de um monte de
influências. É essa mistura que
eu queria achar, buscar uma
fórmula própria", conta a paulista Ferriani, que fará shows
de lançamento em 6 e 7 de março, no Tom Jazz.
As quatro primeiras faixas
remontam aos anos 70: uma
peça de crítica social típica do
Gonzaguinha de então ("Um
Sorriso nos Lábios"); uma canção romântica bilíngue, lançada pelo coautor Luiz Henrique
ao lado de Liza Minnelli ("If
You Want to Be a Lover"); um
hino da rebeldia desbundada
("Com Mais de 30", de Marcos
e Paulo Sérgio Valle); e um soul
de amor pinçado do primeiro
disco solo de Tim Maia ("Eu
Amo Você", de Cassiano e Silvio Rochael).
"Não parti desse pressuposto
[serem músicas da década de
70]. A escolha do repertório foi
muito cuidadosa. Chegamos a
ter 55 opções. Escolhemos as
que seriam gravadas por valor
absoluto. Tirei, inclusive, músicas minhas, preferindo focar no
trabalho de intérprete", diz
Ferriani, 30, garantindo se sentir à vontade para continuar
cantando versos como "Não
confie em ninguém com mais
de 30 anos" quando completar
31. "É bom para me lembrar."
Na garimpagem, feita em
conjunto com o produtor BiD,
restaram somente dez músicas.
Ela explica que prefere discos
não tão longos e, além do mais,
não tinha dinheiro para gravar
mais faixas. A produção foi viabilizada com dinheiro próprio e
de patrocinadores de Ribeirão
Preto, sua cidade natal. Resolveu pagar o preço para fazer o
que quisesse.
Não chegou a concretizar um
plano antigo de gravar um disco
só com composições de Rubens
Nogueira, mas registrou duas
parcerias dele com Paulo César
Pinheiro, as únicas inéditas de
"Verônica Ferriani": o bolero
"Bem Feito" e o frevo "Na Volta
da Ladeira".
Também de Pinheiro, selecionou "Ahiê", melodia de João
Donato. E, como o samba não
poderia ficar totalmente de
fora, gravou um Paulinho da
Viola pouco conhecido ("Perder e Ganhar") e um Assis Valente bastante conhecido ("Fez
Bobagem").
"Algo novo"
"Esta é uma das poucas que
eu já cantava, porque fiquei na
noite e em rodas [de samba]
por alguns anos. Para mim,
muitas músicas já estavam desgastadas. Eu queria fazer algo
novo", afirma ela, ressaltando
que priorizou músicas que fossem menos conhecidas para
driblar a obviedade.
Ferriani iniciou a carreira há
cinco anos ao lado do músico e
compositor Chico Saraiva, cantou samba funkeado na Bandalheira, participou em 2007 do
programa "Som Brasil", da TV
Globo, dedicado a Ivan Lins, integra o grupo Gafieira São Paulo e tem cativado gente famosa
de samba como Beth Carvalho.
Uma trajetória variada como
ela queria que seu primeiro disco mostrasse.
"Se fosse diferente, não ia retratar o que eu sou."
VERÔNICA FERRIANI
Gravadora: independente
Quanto: R$ 23, em média
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