São Paulo, Quinta-feira, 18 de Março de 1999
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VERNISSAGE
Artista plástico inaugura hoje à noite duas mostras simultâneas, nas galerias Luisa Strina e André Millan
Tunga atrai e distrai com seus ímãs

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Tunga voltou atrás para poder avançar. Na verdade, mudou para continuar o mesmo. É assim, movendo-se entre paradoxos, caminhando em cacos de vidro, correndo riscos, que o artista plástico inaugura hoje, simultaneamente, duas mostras na cidade, nas galerias Luisa Strina e André Millan.
Na primeira, exibe esculturas de mesa realizadas com objetos de vidro, ímã e limalha de ferro. Na segunda, realizou uma instalação mais rica e potencial, incluindo feltros, esponjas, fios de náilon, escovas e outros elementos.
Essas formas e materiais não são novidade na obras do artista, que possui um fértil vocabulário de imagens, capaz de se reproduzir sem se repetir.
Assim como Chacrinha, que anunciava o final de cada segmento de seu programa com um "roda, roda, roda e avisa", Tunga pauta sua produção na circularidade, que atualiza os elementos e lhes dá novos significados.
"Não é necessário criar imagens novas, pois a exaustão das imagens na arte contemporânea é notória. Revelar novas possibilidades para essas imagens é uma tática do meu trabalho que tem como estratégia revelar "o estranho no familiar'", disse Tunga, citando a definição poética de Bataille. Logo depois citará, com conhecimento, Wittgenstein, Duchamp, Marco Polo e outros, para embaralhar ainda mais as quase-certezas de sua obra.
Também como o Velho Guerreiro, Tunga não veio para explicar, mas para confundir. "O artista não precisa explicar pelas vias baratas do saber", disse, propondo uma aproximação maior de sua obra à poesia e ao jazz que à lógica.
Seus ímãs, por exemplo, já presentes em "TaCaPe" (86), não funcionam como banais focos de atração, mas como metáforas do que é passageiro. É o desejo de não soldar duas peças de ferro que o leva a juntá-las com ímã.
O ímã é ainda uma referência aos relatos de viagem de Marco Polo. Neles, mais que fenômeno físico, o magnetismo que lhe desorientava as bússolas tinha conotações de loucura, desorientação e poesia.
"Toda essa instabilidade me interessa. A necessidade de ícones é uma característica européia. A cultura brasileira é dinâmica e estratégica. Aqui as coisas não colam, mas se encontram. Só acho estranho que a sociedade brasileira não assuma o transitório como uma característica definitiva de nossa cultura, já que ela é o lugar confortável dos paradoxos", disse.

Mostras: trabalhos recentes de Tunga Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João Manuel, 974A, tel. 011/280-2471, Jardins) e galeria André Millan (r. Mourato Coelho, 94, tel. 011/852-5722, Pinheiros) Vernissages: hoje, às 19h na Luisa Strina e às 21h na André Millan Quanto: US$ 15 mil (esculturas) e preço indefinido para a instalação


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