São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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crítica

Drama se concentra no essencial

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Em "Linha de Passe", o terceiro longa que rodam em parceria, Walter Salles e Daniela Thomas combinam futebol, religião e subemprego em torno de uma família disfuncional que metaforiza todo um país sem pai.
Treze anos após a desesperança dominante na estréia da colaboração, em "Terra Estrangeira", matizam, contudo, o ceticismo quanto ao futuro possível da juventude brasileira.
Não que sobre espaço para qualquer euforia naquele cenário central de uma pobre casa da periferia de São Paulo. Cleuza, a matriarca sempre grávida, balança no emprego de empregada. Seus quatro filhos tampouco começam o filme com rumo traçado.
Dario tenta se profissionalizar no futebol. Dênis ganha uns trocados como motoboy. Dinho é frentista de posto de gasolina, mas seu coração está mesmo na igreja evangélica. Tudo o que interessa ao garoto Reginaldo é, nas corridas de ônibus em que passa o dia, encontrar no motorista o pai cuja identidade a mãe lhe oculta.
Salles e Thomas conseguem imprimir incrível homogeneidade a um grupo de intérpretes de origens distintas e quase sem experiência em cinema. Seus personagens têm rara consistência e credibilidade, o que poderia ter agilizado o desenvolvimento da primeira hora do filme.
"Linha de Passe" confirma que o cinema de Salles se torna mais cru e solto quando oxigenado pela parceria com Thomas. É, digamos, mais Rossellini e menos Antonioni.
O diálogo com a realidade sempre alimenta a obra de Salles, mas Thomas parece funcionar como um fio-terra que depura ao essencial os dramas que encenam juntos. Aqui, até as cenas ficcionais de futebol convencem.

Avaliação: bom


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