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crítica
Drama se concentra no essencial
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Em "Linha de Passe", o terceiro longa que rodam em
parceria, Walter Salles e
Daniela Thomas combinam futebol, religião e subemprego em torno de
uma família disfuncional
que metaforiza todo um
país sem pai.
Treze anos após a desesperança dominante na estréia da colaboração, em
"Terra Estrangeira", matizam, contudo, o ceticismo
quanto ao futuro possível
da juventude brasileira.
Não que sobre espaço
para qualquer euforia naquele cenário central de
uma pobre casa da periferia de São Paulo. Cleuza, a
matriarca sempre grávida,
balança no emprego de
empregada. Seus quatro filhos tampouco começam o
filme com rumo traçado.
Dario tenta se profissionalizar no futebol. Dênis
ganha uns trocados como
motoboy. Dinho é frentista de posto de gasolina,
mas seu coração está mesmo na igreja evangélica.
Tudo o que interessa ao
garoto Reginaldo é, nas
corridas de ônibus em que
passa o dia, encontrar no
motorista o pai cuja identidade a mãe lhe oculta.
Salles e Thomas conseguem imprimir incrível
homogeneidade a um grupo de intérpretes de origens distintas e quase sem
experiência em cinema.
Seus personagens têm rara consistência e credibilidade, o que poderia ter agilizado o desenvolvimento
da primeira hora do filme.
"Linha de Passe" confirma que o cinema de Salles
se torna mais cru e solto
quando oxigenado pela
parceria com Thomas. É,
digamos, mais Rossellini e
menos Antonioni.
O diálogo com a realidade sempre alimenta a obra
de Salles, mas Thomas parece funcionar como um
fio-terra que depura ao essencial os dramas que encenam juntos. Aqui, até as
cenas ficcionais de futebol
convencem.
Avaliação: bom
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