São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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POPLOAD

Armas de destruição em massa

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Não demora muito, mas todo assunto sério que pauta um momento importante da história da humanidade acaba escorregando para o pop.
Pois já está devidamente incorporado aos anais da cultura popular o termo "weapons of mass destruction", a desculpa de George W. Bush e seus aliados para invadir o Iraque atrás das armas biológicas, químicas, nucleares e radiológicas que o presidente norte-americano argumentou haver em mãos terroristas.
A primeira atitude pop contra Bush aconteceu na época do Saddam Hussein no buraco de rato, quando alguns hackers tomaram conta do Google, a ferramenta de busca mais usada na internet e a costela do famigerado Orkut.
Eles direcionaram a pesquisa sobre "weapons of mass destruction", que antes indicava minissites da ONU e Casa Branca, para uma página que dizia: "As armas de destruição em massa não podem ser mostradas". E, "se você for George Bush, clique no nome do país na barra de endereços e procure ao menos pronunciá-lo (Iraq) corretamente".
A zoeira anti-Bush, claro, foi parar na moda e na música. O item de vestuário descolado para o verão dos festivais europeus e americanos é a famosa camiseta de lojas para turista, aquela da escrita "lousy T-shirts" [camisetas mixurucas]. Sabe aquela do "my girlfriend went to New York and all I got was this lousy t-shirt"?
A americana CafePress (.com), a mais bem-sucedida marca de camisetas (não só) para venda on-line, lançou recentemente a básica "George Bush went to Iraq to look for weapons of mass destruction and all he found was this lousy t-shirt" [George Bush foi ao Iraque procurar armas de destruição em massa, e tudo o que ele achou foi esta camiseta mixuruca], com variantes e até de tamanho skinny, para meninas. Além da camiseta, tem caneca, blusa, pôster, mousepad e cueca também.
Tem ainda estampas como "weapons of mass deception" e "got WMD?", parodiando a "got milk?", da campanha americana do leite. E ainda outra com...
Nas rádios inglesas, uma das músicas mais executadas é da famosa banda Faithless, do produtor Rollo Armstrong. "Mass Destruction", que saiu como single no final do mês passado e precede o quarto álbum do excelente combo de trip hop nervoso, é uma delícia sonora. Mas o recado da letra é dizer que racismo e desinformação, seja para um branco rico ou um pobre asiático, são armas de destruição em massa. Tem uma versão da canção no site da banda e várias na internet.
No último Coachella Festival, na Califórnia, Wayne Coyne, da banda Flaming Lips, gastou boa parte do horário de seu show para fazer campanha anti-Bush. E pegar um revólver de bolhinhas de sabão e apresentá-lo como uma arma de destruição em massa.
A última edição da revista musical "Alternative Press", americana, reúne os punks ativistas que estão organizando a maior armada sonora contra Bush neste ano "crucial" de eleição.
São discos, festivais e um corpo-a-corpo com fãs para divulgar o que eles chamam de ação Weapon of Mass Instruction.
E acaba de sair nos EUA (e no Brasil também) uma nova arma de destruição do presidente norte-americano. Em forma de disco. "To the 5 Boroughs", dos endiabrados Beastie Boys, derramam seu rap branco contra o chefe da nação na bombástica faixa "That's It That's All".
Não só, mas também, Bush movimenta o pop.

@ - lucio@uol.com.br


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