|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PATRIMÔNIO
Arquiteto responsável pela restauração do La Scala, de Milão, dá opinião sobre as reformas no prédio paulista
Teatro Municipal deve "se afastar" de carros
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Há muito pouco a fazer para devolver ao Teatro Municipal de São
Paulo, sobretudo à sua fachada, o
viço que foi roubado pelo tempo,
pelas infiltrações de água e pela
poluição. Do ponto de vista estrutural, o que se pode acrescentar de
mais importante à construção
inaugurada em 1911 é uma barreira para impedir que os automóveis que vêm do viaduto do Chá e
da rua Xavier de Toledo continuem passando junto à face leste
do teatro, restituindo ao conjunto
arquitetônico de Ramos de Azevedo o convívio com a praça e
com o jardim que vão desaguar
no vale do Anhangabaú.
Essa é a opinião de um dos mais
prestigiados arquitetos da atualidade, o suíço Mario Botta, que na
quarta-feira fez uma visita técnica
ao principal teatro da cidade justamente para dar sua opinião sobre o processo de restauração em
estudo pela prefeitura paulistana.
Botta falou ontem na Urbis 2004
sobre o restauro do centro histórico de Milão, fez uma palestra na
sede da prefeitura sobre a recuperação e ampliação do teatro La
Scala, também de Milão, e deu um
parecer sobre o Municipal.
Durante a visita ao teatro
-com uma comitiva da prefeitura de Milão, que apóia o projeto
de restauro-, ele percorreu palco, platéia, subterrâneos, salão
nobre e tomou contato com o levantamento da equipe de arquitetos da prefeitura e com os planos
do secretário Celso Frateschi.
"É impressionante o contraste",
disse sobre a mistura de estilos,
que contempla o "novecento" na
fachada e o art noveau no interior,
dentro do que se convencionou
chamar de ecletismo. Sobre a fachada, disse que nada há a fazer a
não ser recuperação e limpeza.
Ficou chocado com o "fiume di
macchine" (rio de carros) entre a
construção e os jardins na esquerda do teatro. "Seria uma solução
muito barata reaproximar o teatro da praça: coloquem uma cancela com a placa: é proibido passar", brincou.
De acordo com o premiado autor do projeto do Museu de Arte
Moderna de São Francisco
(EUA), não será necessária a intervenção de nenhum outro arquiteto na fachada do Municipal.
"O trabalho já está feito, basta a
restauração técnica", disse, notando que uma das causas do desgaste reside no fato de a face do
teatro não receber a luz do sol.
De realmente novo, para ele,
além de uma barreira para o trânsito, haveria o restaurante, previsto no projeto de recuperação. "Eu
não faria nada no estilo do prédio,
mas sim algo moderno, atual. Isso
iria valorizar, por contraste, o restante da arquitetura."
Ao sair do Municipal, Botta teve
oportunidade de observar a polêmica marquise projetada por
Paulo Mendes da Rocha na pça.
do Patriarca. "É a mais bela casa
para pobres que eu jamais vi na
vida", brincou diante dos mendigos que se abrigavam no local.
Também teve tempo de falar da
arquitetura brasileira como um
todo: "Há um conceito equivocado sobre essa arquitetura, um
conceito pequeno, porque ela é
muito maior do que se pensa, tem
uma conexão fortíssima com o
moderno, é uma referência para
nós, com seus jogos de luz e sombra, os vazios e ocupações de seus
volumes. A arquitetura européia
de Le Corbusier, por exemplo, assumiu outra dimensão depois de
sua passagem por aqui".
O que ele ressaltaria de novo?
"Lina Bo Bardi, que está sendo
agora descoberta pelos europeus.
Sua arquitetura tem um conteúdo
social enorme. Ela é muito, muito
forte. Um verdadeiro homem."
Texto Anterior: Popload: Armas de destruição em massa Próximo Texto: Design: Istituto Europeo anuncia sede em SP, a primeira fora da Europa Índice
|