São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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PATRIMÔNIO

Arquiteto responsável pela restauração do La Scala, de Milão, dá opinião sobre as reformas no prédio paulista

Teatro Municipal deve "se afastar" de carros

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Há muito pouco a fazer para devolver ao Teatro Municipal de São Paulo, sobretudo à sua fachada, o viço que foi roubado pelo tempo, pelas infiltrações de água e pela poluição. Do ponto de vista estrutural, o que se pode acrescentar de mais importante à construção inaugurada em 1911 é uma barreira para impedir que os automóveis que vêm do viaduto do Chá e da rua Xavier de Toledo continuem passando junto à face leste do teatro, restituindo ao conjunto arquitetônico de Ramos de Azevedo o convívio com a praça e com o jardim que vão desaguar no vale do Anhangabaú.
Essa é a opinião de um dos mais prestigiados arquitetos da atualidade, o suíço Mario Botta, que na quarta-feira fez uma visita técnica ao principal teatro da cidade justamente para dar sua opinião sobre o processo de restauração em estudo pela prefeitura paulistana.
Botta falou ontem na Urbis 2004 sobre o restauro do centro histórico de Milão, fez uma palestra na sede da prefeitura sobre a recuperação e ampliação do teatro La Scala, também de Milão, e deu um parecer sobre o Municipal.
Durante a visita ao teatro -com uma comitiva da prefeitura de Milão, que apóia o projeto de restauro-, ele percorreu palco, platéia, subterrâneos, salão nobre e tomou contato com o levantamento da equipe de arquitetos da prefeitura e com os planos do secretário Celso Frateschi.
"É impressionante o contraste", disse sobre a mistura de estilos, que contempla o "novecento" na fachada e o art noveau no interior, dentro do que se convencionou chamar de ecletismo. Sobre a fachada, disse que nada há a fazer a não ser recuperação e limpeza.
Ficou chocado com o "fiume di macchine" (rio de carros) entre a construção e os jardins na esquerda do teatro. "Seria uma solução muito barata reaproximar o teatro da praça: coloquem uma cancela com a placa: é proibido passar", brincou.
De acordo com o premiado autor do projeto do Museu de Arte Moderna de São Francisco (EUA), não será necessária a intervenção de nenhum outro arquiteto na fachada do Municipal. "O trabalho já está feito, basta a restauração técnica", disse, notando que uma das causas do desgaste reside no fato de a face do teatro não receber a luz do sol.
De realmente novo, para ele, além de uma barreira para o trânsito, haveria o restaurante, previsto no projeto de recuperação. "Eu não faria nada no estilo do prédio, mas sim algo moderno, atual. Isso iria valorizar, por contraste, o restante da arquitetura."
Ao sair do Municipal, Botta teve oportunidade de observar a polêmica marquise projetada por Paulo Mendes da Rocha na pça. do Patriarca. "É a mais bela casa para pobres que eu jamais vi na vida", brincou diante dos mendigos que se abrigavam no local.
Também teve tempo de falar da arquitetura brasileira como um todo: "Há um conceito equivocado sobre essa arquitetura, um conceito pequeno, porque ela é muito maior do que se pensa, tem uma conexão fortíssima com o moderno, é uma referência para nós, com seus jogos de luz e sombra, os vazios e ocupações de seus volumes. A arquitetura européia de Le Corbusier, por exemplo, assumiu outra dimensão depois de sua passagem por aqui".
O que ele ressaltaria de novo? "Lina Bo Bardi, que está sendo agora descoberta pelos europeus. Sua arquitetura tem um conteúdo social enorme. Ela é muito, muito forte. Um verdadeiro homem."


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