São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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"Foi uma época viva, a gente tinha tempo para ler cartas e poemas"

DA REPORTAGEM LOCAL

Caio já dizia numa carta a Paula Dip, de 1980, que "não se deve permitir que as cartas se tornem obsoletas, mesmo que talvez já tenham se tornado". Antes disso, escreveu caixas delas a todos os amigos.
Essa correspondência hoje serve de ponto de ligação nostálgico entre figuras da boemia oitentista que rumaram para caminhos diferentes.
A fotógrafa Vania Toledo, o artista plástico Guto Lacaz, a atriz e cantora Cida Moreira e a própria Paula, autora de "Para Sempre Teu, Caio F.", toparam se reunir no restaurante preferido do escritor para uma conversa com a Folha, no restaurante Ritz, em SP.
"Já tomei muitos porres de dry martini aqui com o Caio", lembra Vania, que conheceu o autor quando fotografava para a antiga revista "Pop". Foi no Ritz que Caio escreveu seu livro "Os Dragões Não Conhecem o Paraíso", que lançou lá mesmo em 1988.
"Tinha muita liberdade, a gente fazia o que queria", diz Guto Lacaz. "Aquela foi uma época muito viva. A gente tinha tempo para ler cartas, todos os poemas", diz Vania.
A efervescência da imprensa, que vivia uma espécie de renascimento na abertura democrática, turbinou os escritos de Caio e aparece nas lembranças dos amigos, da época em que "não precisava aprovar tudo na área de marketing", como diz Guto Lacaz.
Enquanto Cida Moreira treinava canto e tocava piano de um lado do terreno, Caio escrevia do outro. Ela vive até hoje num prédio colado na vila de casas da rua Melo Alves, onde Caio morava. "Achei meu apartamento porque vinha muito à casa dele."
A cantora lembra os surtos libertários do autor, as mudanças constantes ao Rio, a passagem por Londres, Paris, Estocolmo, retornos a Porto Alegre. "Ele ficou muito em São Paulo, mas tinha crises e crises de ficar aqui", afirma. "O Caio tinha essa inquietação o tempo todo, acho que ele só foi apaziguar no fim."
Dois anos antes de morrer, o autor contou aos amigos que tinha Aids. "Tinha a voz calma", diz Vania. "Era um sábado, nunca vou me esquecer", completa Cida Moreira. Ela conta que Caio e seu enfermeiro foram ver uma de suas peças em Porto Alegre quatro meses antes de sua morte.
Vania lembra como ajudou a comprar um computador usado para que ele pudesse escrever, também meses antes do fim. "Ele chamava aquilo de Robocop." (SILAS MARTÍ)


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