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MÚSICA
Envolto em lendas, "The Vanilla Tapes" será lançado junto com edição especial dos 25 anos de "London Calling"
Disco perdido do Clash é reencontrado
ANTHONY BARNES
DO "INDEPENDENT"
Um dos grandes álbuns perdidos da história do rock, um conjunto de gravações realizadas pelo
Clash, foi redescoberto 25 anos
depois de as canções terem sido
dadas por desaparecidas.
As gravações, conhecidas como
"The Vanilla Tapes", só haviam
sido ouvidas pela banda, no passado. Todos os envolvidos acreditavam que a única cópia havia sido esquecida por um roadie em
um trem de metrô londrino.
Mas as gravações master foram
localizadas agora, em uma caixa
de papelão guardada por Mick Jones, guitarrista e cantor do Clash,
quando ele mudava de casa. As
gravações são de 1979, quando a
banda trabalhava no seu terceiro
álbum, "London Calling", considerado sua obra-prima.
Com o material reencontrado,
21 das faixas de "Vanilla" -incluindo cinco canções até agora
desconhecidas- serão lançadas
pela primeira vez como parte da
edição de 25º aniversário de
"London Calling". Quase todas as
faixas são versões básicas das canções que entraram no disco.
Pat Gilberto, biógrafo da banda,
diz que "não há muito material
inédito do Clash. A idéia de que
um disco inteiro tenha ressurgido
dessa forma é absolutamente incrível". A existência das gravações
ganhou proporções de lenda
quando o roadie Johnny Green
contou, em suas memórias, como
as havia perdido. Ele estava encarregado de entregar uma fita com
as novas composições da banda
ao produtor Guy Stevens. Green
perdeu as fitas a caminho da casa
de Stevens. "Disseram-me que
entregasse as fitas a Guy, mas parei no pub para tomar umas, bom,
muitas. Dormi no metrô e quando acordei vi que estava em Warren Street, onde tinha de fazer minha baldeação, e saí correndo, esquecendo a fita. Alguém da banda
escreveu "Val Doonican" [cantor e
apresentador brega da TV britânica] na caixa, e sempre imaginei
a pessoa que encontrou o material
ouvindo a fita e pensando "O que
será isso?", e jogando-a no lixo".
Mas uma fita master sobreviveu, esquecida em meio à coleção
privada de Jones. As canções foram gravadas no Vanilla Studios,
onde a banda preparava seu disco
na presença apenas de seus dois
roadies, Green e Baker Glare.
Com técnicas primitivas, eles
acionavam os gravadores todos
os dias para registrar o trabalho
em progresso. Em um determinado momento, o outro líder da
banda, Joe Strummer [morto em
2002], estava disposto a usar
aquela estrutura básica para gravar o novo trabalho do grupo,
mas a idéia foi abandonada.
O Clash vivia um período dourado, de expansão de fronteiras.
"Chegou uma hora em que o
punk estava se estreitando, avançando muito pouco", diz Jones.
"Mas acreditávamos que podíamos fazer música de qualquer tipo." Os membros do grupo se relacionavam muito bem, e a camaradagem era reforçada por partidas de futebol em contraste com
as brigas que se seguiriam.
Depois de semanas entocados
no Vanilla, eles se transferiram
para o Wessex Studio, onde o excêntrico produtor Stevens passou
a empregar uma série de métodos
incomuns. "Ele girava uma escada portátil como se fosse uma clava, e depois jogava cinco ou seis
cadeiras contra a parede do estúdio", diz Jones. Imagens de suas
maluquices estão registradas em
um documentário dirigido por
Don Letts, que será lançado com a
edição comemorativa.
"Eram rascunhos. Mas fico feliz
por tê-los encontrado. Contam
muito sobre o que éramos naquele momento", diz Jones. Pat Gilbert, autor do livro "Passion Is a
Fashion: The Real Story of the
Clash" [Paixão é moda: a verdadeira história do Clash], diz que
"de certa forma a lenda é abrandada, quando ouvimos a construção básica das canções, mas elas
funcionam bem, musicalmente".
O estúdio abrigou algumas das
mais famosas sessões de gravação
britânicas, com discos do Queen e
do Sex Pistols -que gravou seu
único álbum, "Never Mind the
Bollocks", por lá, e reza a lenda
que o cantor Johnny Rotten vomitou no piano. Mas agora o
Wessex Studio, que no passado só
era superado por Abbey Road em
termos de recursos, vai se tornar
um condomínio com apartamentos de mais de 300 mil libras.
Tradução de Paulo Migliacci
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