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ANÁLISE
Debate sobre audiovisual privilegia cinema
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A polêmica em torno da
criação da Agência Nacional do Audiovisual continua,
nos jornais, na TV e na internet. O "Roda Viva" (Cultura)
de anteontem discutiu o assunto com o secretário-executivo
do Ministério da Cultura, Juca
Ferreira.
Um olhar minimamente distanciado estranha o tom -histérico- dos protestos contra a
tentativa de regular o chamado
quarto poder, esfera estratégica
da vida atual, em que ainda vigora o estado de natureza hobbesiano.
Sem subscrever o projeto,
mas na contracorrente dessa
gritaria geral, o mero conflito
público entre executivo e meios
de comunicação que as proposições instauraram me causa alívio.
Afinal, os interesses dos dois poderes são essencialmente diferentes. Melhor assim.
Causou preocupação, há alguns
meses, o flerte entre segmentos
governamentais e midiáticos, como se fosse iminente um acordo
de cavalheiros, em que se trocaria
cobertura política dócil por investimento público em empresas de
informação. Aí, sim, estaria a sociedade civil nas mãos de uma
aliança que ameaça os princípios
básicos da democracia.
Reconhecido o conflito como
elemento inerente ao assunto, trata-se de garantir os princípios de
uma negociação que contemple,
acima de tudo, os direitos dos cidadãos.
A falta desse lastro na cidadania
é multimídia e é visível em diversos aspectos que precisam ser urgentemente corrigidos. Talvez o
primeiro deles seja a promiscuidade entre outro poder relevante
nesse jogo, o Legislativo, e a mídia. O fato de, estranhamente,
uma parcela significativa dos parlamentares serem acionistas de
concessionárias de radiodifusão
arranha a isenção que se esperaria
de quem é responsável por fazer e
aprovar leis.
A lista é imensa, complexa e diversificada. Alguns segmentos
dessa ampla área do audiovisual
estão endividados, oferecendo
ocasião ideal para que o poder público negocie confortavelmente
condições que potencializem a
produção nacional. Outros crescem e podem continuar nesse
movimento se não forem interrompidos.
O debate sereno -e oportuno- sobre a necessária regulamentação da produção e circulação de conteúdos em salas de exibição, na televisão aberta e a cabo
e na internet não diz respeito somente ao cinema. As emissoras
de TV estão pouco visíveis no debate público.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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