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Tragtenberg tem obra lançada em pacote de sete CDs
CARLOS ADRIANO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Militando na pesquisa de ponta
da composição e esparramando
seus arranjos por várias trilhas,
Livio Tragtenberg é um autor original e instigante. Executa na música um guisado de timbres e procedimentos, que demarcam sua
aventura de invenção.
Não é nenhum bicho, mas são
sete cabeças (compactações sonoro-cerebrais), em distribuição regular. O selo Demolições Musicais, de Livio e Wilson Sukorski,
está lançando "Através da Janela"
e "São Paulo, a Symphonia da
Metrópole", em pacote que traz
outros cinco CDs -à venda no site www.alternetmusic.com.br.
O pacote é um cúmulo de energia sonora. Os CDs solo são "Anjos Negros", "É a Noite - Othello",
"Pasolini Suite / Hänsel und Gretel Suite". E ainda "TemperaMental", com Sukorski e Décio Pignatari, e "Bazulaques Brasileiros",
com Marcelo Brissac.
Na próxima sexta-feira, o requisitado compositor lança o CD
"Bazulaques", com show na Haus
der Kulturen der Welt, Berlim.
Antes, no dia 15, foi aberta a instalação "Amazônia in Loop" (gravações indígenas reeditadas com
sons inventados), no início do
Festival Amazônia/Quase Amazônia.
Na elaborada escritura composicional de Livio, estão em pauta
não só colcheias, mas também letras, em repertório de clara precisão. Provam seus livros de teoria,
crítica e polêmica "Música de Cena" e "Artigos Musicais" (editados pela Perspectiva) e "Contraponto" (Edusp), manual para autodidatas, como seu autor.
Nesta "terra de surdos-músicos", o som de Livio Tragtenberg
é um terremoto que remove o
chão batido da mesmice e nos leva à experiência rara de ouvir informação nova.
Folha - Quais as diferenças entre
compor para um filme ou peça e fazer música por necessidade própria?
Livio Tragtenberg - Nunca me
coloquei a questão, como processo ou tipo de impulso criativo.
Sempre me interessou mais estabelecer diálogos, seja com outros
códigos ou com outros criadores.
Assim, minha música não muda
substancialmente ao responder a
uma encomenda ou a um impulso espontâneo de criação.
Folha - Qual a relação da música
com um texto preexistente?
Tragtenberg - A relação é sempre de diálogo. Não busco o apoio
puro e simples. Busco identificar a
cadeia de conexões e intenções
que estruturam o texto, e a partir
de uma aproximação crítica, organizo o meu material sonoro.
Em meu trabalho no cinema, busco soar o que não pode ser visto.
Folha - Como é seu processo de
criação e trabalho?
Tragtenberg - Não separo criação de trabalho. Há quase dez
anos trabalho sob pressão, com
prazos. Isso me estimula. Componho, ou seja, coloco, coordeno
sons e idéias. Meu processo é mais
de deformação que de criação.
Folha - O que são os rótulos de
música popular e erudita?
Tragtenberg - São categorias que
se relacionam ao século passado e
ao passado. São sobretudo categorias de status social. A música
mais acadêmica é a da academia...
Ela é "erudita" no pior sentido da
palavra. A música de hoje simplesmente obsoletou essas categorias tanto de forma estética como mercadológica. As viúvas da
música erudita são as carpideiras
de um templo perdido, uma burguesia de três tenores. E, por outro lado, a música popular de
bundas loiras, baianas, sertanejas
e pagodeiras e o lixo entorpecente
teen deveriam ser proibidos pelo
Ministério da Saúde como prejudicial à alma da raça. Vivemos
uma overdose sonora. A questão
de hoje é buscar o silêncio.
Folha - Para você, o que é música?
Tragtenberg - Não tenho concepção sobre o que seja. Quando
souber, acho que me desinteresso
pela coisa. Ou seja, é o desconhecido, a surpresa.
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