São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2001

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RELÂMPAGOS

O jardim

JOÃO GILBERTO NOLL

Na avenida Farrapos, entre casas de autopeças, perguntei a alguns o nome, sim, que me faltava. Vi uma criança de batom; no lábio superior, as duas ondas do coração. Ela sorriu, a porteira frontal anunciando a nova dentição. "E eu, o que precisava perguntar mesmo?", indaguei com a boca cheia do bolo que ia comendo sem parar. Desisti da questão, pondo um pé diante do outro, em cadência eclesiástica -cortejo solitário até a praça onde costumava sestear. Farelos me condecoravam. Comecei a me balançar pra frente e pra trás, sedando a omissão do nome com o qual poderiam me chamar- assim nesse compasso, ó!, até cair de joelhos no cascalho e lembrar, já quase fora de mim, que o nome estava no bolso da calça, com a letra feia do meu pai.


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