|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RELÂMPAGOS
O jardim
JOÃO GILBERTO NOLL
Na avenida Farrapos, entre
casas de autopeças, perguntei
a alguns o nome, sim, que me
faltava. Vi uma criança de batom; no lábio superior, as
duas ondas do coração. Ela
sorriu, a porteira frontal
anunciando a nova dentição.
"E eu, o que precisava perguntar mesmo?", indaguei
com a boca cheia do bolo que
ia comendo sem parar. Desisti da questão, pondo um pé
diante do outro, em cadência
eclesiástica -cortejo solitário até a praça onde costumava sestear. Farelos me condecoravam. Comecei a me balançar pra frente e pra trás, sedando a omissão do nome
com o qual poderiam me chamar- assim nesse compasso, ó!, até cair de joelhos no
cascalho e lembrar, já quase
fora de mim, que o nome estava no bolso da calça, com a
letra feia do meu pai.
Texto Anterior: Literatura: Romance radiografa solidão contemporânea Próximo Texto: Gastronomia: Catena coloca Argentina no mapa mundial de vinhos Índice
|