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ARTES PLÁSTICAS
Na exposição "Happyland Vol. 2", Isay Weinfeld e Marcio Kogan subvertem tema da Bienal de 2002
Mostra ironiza a violência da metrópole
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Logo na entrada, você se depara
com um detector de metais. Passa
por ele despreocupadamente,
mas, dos monitores, vem a surpresa: você entrou, sim, no Museu
da Casa Brasileira, carregando
um revólver, que é mostrado de
maneira inequívoca na tela.
Lá na frente, mais surpresas. As
12 obras da exposição são iluminadas por lâmpadas com sensores. Quando você se aproxima de
qualquer uma delas, a lâmpada se
acende, e uma sirene é acionada.
Esse clima de deboche cáustico
permeia toda a mostra "Happyland Vol. 2", dos arquitetos Isay
Weinfeld e Marcio Kogan, que
abre amanhã e fica em cartaz até
14 de novembro. O tema é a violência urbana, como o texto de introdução do evento deixa claro,
enfileirando com crueza estatísticas de estupro, homicídio e seqüestro nas grandes cidades brasileiras. "Com 3% da população
mundial, o Brasil é responsável
por 13% dos assassinatos cometidos do planeta. Sejam bem-vindos à Happyland!"
Happyland era o nome da megalópole distópica em maquete
criada pela dupla para a 25.ª Bienal Internacional de São Paulo,
em 2002. Naquela ocasião, a Bienal resolveu retratar 11 diferentes
metrópoles do planeta, abrindo
ainda espaço para uma 12ª, um
espaço inexistente e utópico.
Weinfeld e Kogan conceberam,
então, Happyland como o local
em que seria possível "aquela vidinha pacata, de cidade do interior", e equiparam sua urbe com
itens como as Novas Torres Gêmeas (em vez de verticais, eram
deitadas, "para que elas não atrapalhem o trajeto dos aviões").
""Happyland Vol. 2" reúne os
objetos do dia-a-dia de Happyland. Estamos olhando para
aquela cidade em outra escala",
diz Kogan, no registro entre sério
e burlesco que caracteriza o depoimento dos autores. "O futuro
é isso. Você não vai mais querer
equipamento de som ou TV."
"Trata-se de objetos de consumo, e estão todos à venda", afirma
Weinfeld, enquanto passeia entre
as duas guaritas planejadas para
pessoas de diferente poder aquisitivo, a Maison Mouton-Marchetin, "para mansões de fino trato",
e a Soho-Loft, mais "acessível".
A galhofa atinge eventos como a
Casa Cor, à qual é feita uma alusão quase explícita no Carro-Cor,
idealizado pelo "famosérrimo decorador Juvenildo Lamberto",
personagem da dupla, que redecora o porta-malas de um carro
visando o conforto do seqüestrado. "A idéia era ter expostos vários carros, cada qual decorado de
uma forma", ironiza Weinfeld.
"Já temos várias encomendas
do kit-assalto", brinca Kogan, a
respeito da mala 007 que, em três
modelos (Gold, Luxo e Pé-de-Boi), reúne tudo o que o assaltante necessita. "Tendo em vista a ansiedade das pessoas em consumir,
nós damos a elas a felicidade de
adquirir", emenda Weinfeld.
"Nas exposições anteriores, as
pessoas iam rindo até a porta do
museu, mas passavam a chorar a
partir do momento em que pegavam o carro", continua Weinfeld.
"As pessoas estão anestesiadas
com os absurdos da realidade e
passam batidas por muita coisa. A
gente acha que isso é absurdo,
mas é mais real do que a gente
imagina. De "Arquitetura e Humor", teve um candidato a prefeito que chupou quatro de nossas
idéias "absurdas" e incorporou a
seu programa de governo."
"Arquitetura e Humor" (95) foi
a exibição da dupla (que já havia
feito, em 88, o filme cult "Fogo e
Paixão"), com maquetes propondo soluções para os problemas
urbanos de São Paulo, como a pavimentação do rio Tietê.
Em 98, veio "Arquitetura Ornitológica", com 15 casas de passarinhos-símbolo da era FHC -a casa do tucano tinha a forma do Palácio da Alvorada. Três anos depois, "Umore und Architektur"
trazia soluções brasileiras para cidades estrangeiras, como o "Respeita-Fila", trem urbano idealizado para Genebra, na Suíça.
"Happyland Vol. 2" marca o
salto, pela primeira vez, das maquetes para objetos de tamanho
real. "Mudam os meios que escolhemos para nos exprimir, mas,
no fundo, cinema, maquetes e arte conceitual são a mesma coisa,
traduzem um jeito de ver o mundo", explica Weinfeld. "Estudantes vêm às nossas exposições para
ver que a arquitetura pode ser falada de outras formas."
HAPPYLAND VOL. 2 - Exposição de Isay
Weinfeld e Marcio Kogan. Abertura:
amanhã, às 19h. Quando: de 20 de
outubro a 14 de novembro, de ter. a
dom., das 10h às 18h. Onde: Museu da
Casa Brasileira (av. Brigadeiro Faria Lima,
2.705, tel. 0/xx/11/3032-3727). Quanto:
R$ 4 (entrada franca aos domingos).
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