São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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MÚSICA

Álbum póstumo do guitarrista e ex-beatle, morto há quase um ano, chega hoje às lojas de disco de todo o mundo

"Brainwashed" renova o legado de Harrison

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

George Harrison não morreu em 29 de novembro de 2001. Transcendeu. De onde quer que esteja, o ex-guitarrista dos Beatles lança hoje, aqui, o 14º álbum de sua carreira, "Brainwashed".
Composto no auge de sua doença -um câncer na garganta que mais tarde se alastraria para o cérebro-, "Brainwashed" é mais um sinal de vida do que propriamente o chamado trabalho póstumo do guitarrista. Em vez da depressão ou da desilusão próprias de seu estado de saúde, as 12 canções do disco ressaltam o espírito livre, o bom humor e mesmo a veia política de Harrison.
Ao contrário do John Lennon ciborgue, ressuscitado com a dispensável "Free as a Bird", anos atrás, cada nota de "Brainwashed" foi idealizada e realizada de acordo com a vontade do ex-beatle, em parceria com seu filho, Dhani, e do baixista Jeff Lynne -que integrou com Harrison, Roy Orbinson, Bob Dylan e Tom Petty o Travelling Wilburys.
São 11 faixas inéditas, que partem do country/blues acústico ("Any Road e "P2 Vatican Blues (Last Saturday Night)"), passam por baladas reflexivas como "Pisces Fish" e "Rising Sun" e deságuam finalmente no pop rock setentista e engajado daquele beatle que, conta a história, costumava falar pouco, mas pensava -e fazia- muito.
"Brainwashed", faixa que dá título ao álbum, trata da lavagem cerebral diária reproduzida pelas escolas, pelos pais, pela Igreja, pelos políticos, pela mídia... É Harrison, aos 58 anos, depois de quase morrer esfaqueado por um fã maluco em sua mansão na Inglaterra, sem ceder um centímetro em suas convicções: a busca por liberdade e espiritualidade.
Apesar das tablas e cítaras que encerram o disco, "Brainwashed" não é ainda um trabalho superproduzido, repleto de sonoridades acessórias que pudessem ofuscar a presença de Harrison.
Na instrumental "Marwa Blues", inevitável o trocadilho, seu instrumento chora. "Between the Devil and the Deep Blue Sea", com Jools Holland ao piano, soa também familiar, talvez uma daquelas que o guitarrista sempre tocasse em casa, mas que só então houvesse resolvido gravar.
A lista é longa, e tantas são as boas canções acumuladas nestes mais de dez anos em que Harrison preferiu não lançar nada. A sorte é nossa de ouvir agora outro álbum, digno, de um dos mais sensíveis e talentosos guitarristas que a música pop já conheceu.
Legado multidimensional que nenhum câncer tem como nos fazer esquecer. "Brainwashed" não é o último, mas o 14º disco de George Harrison.
Brainwashed     Artista: George Harrison Gravadora: EMI Preço: R$ 27, em média

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