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MÚSICA
Álbum póstumo do guitarrista e ex-beatle, morto há quase um ano, chega hoje às lojas de disco de todo o mundo
"Brainwashed" renova o legado de Harrison
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
George Harrison não morreu
em 29 de novembro de 2001.
Transcendeu. De onde quer que
esteja, o ex-guitarrista dos Beatles
lança hoje, aqui, o 14º álbum de
sua carreira, "Brainwashed".
Composto no auge de sua doença -um câncer na garganta que
mais tarde se alastraria para o cérebro-, "Brainwashed" é mais
um sinal de vida do que propriamente o chamado trabalho póstumo do guitarrista. Em vez da depressão ou da desilusão próprias
de seu estado de saúde, as 12 canções do disco ressaltam o espírito
livre, o bom humor e mesmo a
veia política de Harrison.
Ao contrário do John Lennon
ciborgue, ressuscitado com a dispensável "Free as a Bird", anos
atrás, cada nota de "Brainwashed" foi idealizada e realizada de
acordo com a vontade do ex-beatle, em parceria com seu filho,
Dhani, e do baixista Jeff Lynne
-que integrou com Harrison,
Roy Orbinson, Bob Dylan e Tom
Petty o Travelling Wilburys.
São 11 faixas inéditas, que partem do country/blues acústico
("Any Road e "P2 Vatican Blues
(Last Saturday Night)"), passam
por baladas reflexivas como "Pisces Fish" e "Rising Sun" e deságuam finalmente no pop rock setentista e engajado daquele beatle
que, conta a história, costumava
falar pouco, mas pensava -e fazia- muito.
"Brainwashed", faixa que dá título ao álbum, trata da lavagem
cerebral diária reproduzida pelas
escolas, pelos pais, pela Igreja, pelos políticos, pela mídia... É Harrison, aos 58 anos, depois de quase
morrer esfaqueado por um fã maluco em sua mansão na Inglaterra, sem ceder um centímetro em
suas convicções: a busca por liberdade e espiritualidade.
Apesar das tablas e cítaras que
encerram o disco, "Brainwashed"
não é ainda um trabalho superproduzido, repleto de sonoridades acessórias que pudessem
ofuscar a presença de Harrison.
Na instrumental "Marwa
Blues", inevitável o trocadilho,
seu instrumento chora. "Between
the Devil and the Deep Blue Sea",
com Jools Holland ao piano, soa
também familiar, talvez uma daquelas que o guitarrista sempre
tocasse em casa, mas que só então
houvesse resolvido gravar.
A lista é longa, e tantas são as
boas canções acumuladas nestes
mais de dez anos em que Harrison preferiu não lançar nada. A
sorte é nossa de ouvir agora outro
álbum, digno, de um dos mais
sensíveis e talentosos guitarristas
que a música pop já conheceu.
Legado multidimensional que
nenhum câncer tem como nos fazer esquecer. "Brainwashed" não
é o último, mas o 14º disco de
George Harrison.
Brainwashed
Artista: George Harrison
Gravadora: EMI
Preço: R$ 27, em média
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