São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Rodrigo Braga mostra insatisfação existencial em exposição

Em "Portfólio", que abre hoje para convidados no Itaú Cultural, fotógrafo expõe auto-retratos que tentam mostrar a imagem que o homem faz dele mesmo

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No texto de abertura para a exposição de Rodrigo Braga para o projeto Portfólio, no Itaú Cultural, o curador Eder Chiodetto cita o mito de Narciso, rapaz da mitologia grega conhecido por sua beleza física, personagem que se encanta com o reflexo de sua própria imagem nas águas de um rio. A analogia se confirma a partir desta série de auto-retratos, exibida a partir de hoje, teatralizando situações transbordantes, recriações da alma do artista para um cartão de visita atípico, de insatisfações existenciais sobre a imagem que o homem faz de si próprio.
O homem e o bicho, o homem e as plantas, o homem e a terra. Braga usa sua própria imagem para redefinir a posição de cada um desses elementos, fundindo-os em uma receita só. A figura do homem assume posição ainda privilegiada nas hierarquias criadas pelos retratos: na série "Da Alegoria Perecível", o artista cria máscaras com vegetais e partes de animais (pés de galinhas); em "Do Prazer Solene", um mergulho de cabeça na terra mimetiza a fundamentação da origem.
Mas é a série "Comunhão" que causa mais impacto. A cena é criada em espaço rural, sobre o corpo de um bode morto. Braga enterrado com o bicho, só com a cabeça para fora, ou dormindo afetivamente sobre ele, ou ainda dividindo suposta cama preparada sob montes de capim. A simbologia é das mais graciosas, até o momento em que o espectador se dá conta de que o animal está morto. Foi abatido especialmente para a produção dos retratos.
Essa teatralização sedimenta-se em um contexto que valoriza o eu-lírico, apontando continuidade para uma série de exposições sobre o corpo, marca desses últimos anos. Rodrigo Braga participou da mostra "O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira", realizada pelo Itaú Cultural, em 2005, com retratos sobre a confecção de uma máscara a partir do focinho de um cachorro morto.

Extravasar
A diferença para o trabalho de outros artistas do gênero, como Amilcar Packer, Lia Chaia, e Rafael Assef, se define pela história de Braga, de sua infância no interior de Pernambuco ao lado dos pais biólogos. Também pelo uso da arte como meio para extravasar síndromes e problemas psíquicos, desde a adolescência. "Ele fica vermelho facilmente, é tímido.
Mas cresce nas fotos, fica grande, agressivo. Parece que alcançou a imagem que queria mostrar de si próprio", analisa Chiodetto.


PORTFÓLIO - RODRIGO BRAGA
Onde:
Itaú Cultural (av. Paulista, 149, Paraíso, tel. 0/xx/11/2168-1776)
Quando: Abertura hoje, para convidados; ter. a sex.: 10h às 21h; sáb. e dom.: 10h às 19h.
Quanto: grátis.


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