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Rodrigo Braga mostra insatisfação existencial em exposição
Em "Portfólio", que abre hoje para convidados no Itaú Cultural, fotógrafo expõe auto-retratos que tentam mostrar a imagem que o homem faz dele mesmo
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No texto de abertura para a
exposição de Rodrigo Braga para o projeto Portfólio, no Itaú
Cultural, o curador Eder Chiodetto cita o mito de Narciso, rapaz da mitologia grega conhecido por sua beleza física, personagem que se encanta com o reflexo de sua própria imagem
nas águas de um rio. A analogia
se confirma a partir desta série
de auto-retratos, exibida a partir de hoje, teatralizando situações transbordantes, recriações da alma do artista para um
cartão de visita atípico, de insatisfações existenciais sobre a
imagem que o homem faz de si
próprio.
O homem e o bicho, o homem e as plantas, o homem e a
terra. Braga usa sua própria
imagem para redefinir a posição de cada um desses elementos, fundindo-os em uma receita só. A figura do homem assume posição ainda privilegiada
nas hierarquias criadas pelos
retratos: na série "Da Alegoria
Perecível", o artista cria máscaras com vegetais e partes de
animais (pés de galinhas); em
"Do Prazer Solene", um mergulho de cabeça na terra mimetiza a fundamentação da origem.
Mas é a série "Comunhão"
que causa mais impacto. A cena
é criada em espaço rural, sobre
o corpo de um bode morto. Braga enterrado com o bicho, só
com a cabeça para fora, ou dormindo afetivamente sobre ele,
ou ainda dividindo suposta cama preparada sob montes de
capim. A simbologia é das mais
graciosas, até o momento em
que o espectador se dá conta de
que o animal está morto. Foi
abatido especialmente para a
produção dos retratos.
Essa teatralização sedimenta-se em um contexto que valoriza o eu-lírico, apontando continuidade para uma série de exposições sobre o corpo, marca
desses últimos anos. Rodrigo
Braga participou da mostra "O
Corpo na Arte Contemporânea
Brasileira", realizada pelo Itaú
Cultural, em 2005, com retratos sobre a confecção de uma
máscara a partir do focinho de
um cachorro morto.
Extravasar
A diferença para o trabalho
de outros artistas do gênero,
como Amilcar Packer, Lia
Chaia, e Rafael Assef, se define
pela história de Braga, de sua
infância no interior de Pernambuco ao lado dos pais biólogos. Também pelo uso da arte
como meio para extravasar síndromes e problemas psíquicos,
desde a adolescência. "Ele fica
vermelho facilmente, é tímido.
Mas cresce nas fotos, fica grande, agressivo. Parece que alcançou a imagem que queria mostrar de si próprio", analisa
Chiodetto.
PORTFÓLIO - RODRIGO BRAGA
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149,
Paraíso, tel. 0/xx/11/2168-1776)
Quando: Abertura hoje, para convidados; ter. a sex.: 10h às 21h; sáb. e dom.:
10h às 19h.
Quanto: grátis.
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