São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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MÔNICA BERGAMO

Passeio por quatro shoppings da cidade, dos nobres aos populares, revela os diferentes sonhos das crianças de SP para o Natal

"Papai Noel, eu quero..."

Fernando Moraes/Folha Imagem
Entre as inúmeras cartinhas recebidas pelo Papai Noel do shopping Lapa, essa agradecia a cura do câncer da mãe de um menino


No shopping center Lapa as chupetas, que as crianças dão de presente ao Papai Noel, são depositadas numa caixa de madeira -às vezes as mamães voltam para buscá-las, em caso de arrependimento. João Soares, 46, que trabalha como o bom velhinho no shopping há quatro anos, fica inconformado quando algumas crianças, de famílias simples e com os pais desempregados, pedem brinquedos caros. "Tem muita criança fora do peso que poderia ganhar uma bola e fazer exercício".
 
Que bola que nada: a maioria pede um videogame de presente. Os irmãos Vitória, 8, e Fábio Tadeus Dias de Oliveira Araújo, 4, filhos da desempregada Edilei Cristina de Araújo, 26, pediram dois. "Mas vocês precisam de dois?", indaga o Papai Noel. "Sim. Porque ele quer o PlayStation 2 e, eu, o 3", responde a mais velha.
 
O velhinho ouve o pedido, mas o presente não vai chegar à casa das crianças. "É bom pedir pro Papai Noel porque nós não temos condição de dar. Aí pelo menos a culpa não é nossa", diz a mãe.
 
Depois dos irmãos, Papai Noel atendeu Lucas de Souza, 10. Ele não queria nada -ou melhor, queria "o que o Papai Noel pudesse" lhe dar. O Papai Noel insiste: "Você não quer mesmo nada?". A avó de Lucas explica que o pai dele está doente e que ele não vai "ganhar nada" no Natal. Lucas então diz: "Eu quero saúde para o meu pai". Papai Noel recomenda que o garoto "reze, viu? E depois, quando teu pai estiver bom, te dou uma bola para vocês jogarem juntos."
 
No shopping Interlagos, freqüentado por um público de classe média baixa, as pessoas fazem pedidos ligados a necessidades mais básicas. Daniel Ferreira, 60, que é aposentado e trabalha como Papai Noel há quatro anos, diz que "tem cartinha que você vê que foi a mãe que escreveu, pedindo uma bota ortopédica para a criança, ou até mesmo um tênis, uma roupa que seja." Ele diz que guarda todas e se sente penalizado por não poder ajudar. "Eu decidi ser Papai Noel porque queria fazer o bem. Como não era nem pagodeiro nem jogador de futebol, essa foi a forma que eu encontrei de dar alegria."
 
No Morumbi Shopping, instalado entre bairros de classe média alta da zona sul paulistana, as crianças não precisam "gastar" seus pedidos em busca de melhores condições de vida para a família. Tudo o que querem é aumentar o arsenal de brinquedos. Aos 10 anos, Natália Pinheiros Gomes foi garantir seu presente: "Quero a Poly nova com elevador e mais uma Barbie Magia de Aladus. Você pode deixar na janela do meu quarto. Só não vai confundir meu pedido com o de outra menina."
 
João Pedro Vasques de Queirós, 5, já ganhou quatro presentes de Natal porque vai estar viajando, conta a mãe, mas conversou com Papai Noel para ver se consegue mais um. "Este pode ser surpresa", dizia.
 
Antônio Neves, 65, é Papai Noel há 12 anos -dez deles no Morumbi Shopping. "Nesta última década os pedidos mudaram para brinquedos mais eletrônicos mas as crianças não mudam nunca. Elas vêm, dizem que são boazinhas, algumas puxam minha barba para saber se é de verdade", conta.
 
No shopping center Iguatemi, a fascinação pelo bom velhinho não é tão grande assim.
 
Na tarde de quarta, uma criança, estimulada pela mãe a visitá-lo, explica o desinteresse: "Ah não, mãe. Eu já ganhei tudo o que eu queria".
 
No Iguatemi a barba do Papai Noel é verdadeira. Bianco Bertoncini, 67, ouve os pedidos das crianças e aproveita para distribuir cartões àquelas que querem contratá-lo para que ele apareça na casa delas na noite de Natal.
 
O pedido mais ouvido por ele neste mês foi "o laptop da Xuxa". Foi o presente que Fernanda Araújo Gomes, 5, por exemplo, pediu. "Mas esse você já tem", lembra a mãe, Evelyn Araújo, de 39. "O da Barbie então", retruca a menina.
 
Os meninos querem jogos de computador. "Eu quero o do Willy Wonka e a Fantástica Fábrica de Chocolate", diz Pedro Fernandes, 5, "mas se ele não achar pode ser uma fantasia do Hulk. Se ele não achar isso também pode ser um Tic-tac [balas]."
 
A exceção entre o mar de pedidos por bonecas e jogos de última geração foi Lucas Fernandes, de dois anos e meio, que sentou-se no colo de Bianco com o irmão Felipe, de apenas cinco meses e pediu: "Eu quero um copo de vidro".
 
"É que todos os adultos em casa usam copos de vidro, só ele usa um de plástico", explica o pai, Márcio Fernandes, 34, administrador.


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