São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

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NINA HORTA

Pelas ondas curtas do rádio


Na próxima entrevista, porei minhas dúvidas na mesa em vez de gaguejar "não sei" o tempo todo...

FUI CONVIDADA para uma entrevista na rádio CBN -programa "Fim de Expediente", com Dan Stulbach (TV, cinema, teatro, rádio), José Godoy (escritor) e Luiz Gustavo Medina (Teco, economista). Acho. Tudo tão depressa, um fim de expediente mesmo, descolado, para ser escutado no rádio em meio ao trânsito. Um rádio-clipe de notícias, as últimas, gozações, pedacinhos de música boa, de informações. Falam alto e rápido. São muito inteligentes e eu sou afásica, já avisei, custo a achar palavras, mas ninguém acredita porque não sofro do mesmo mal por escrito. Colocada em frente à rapidez de metralha dos rapazes, me sinto uma curiosidade arqueológica, voz fanhosa de brontossauro educado no Sacré-Coeur.
Mas, acreditem, é impossível ser entrevistada sobre crônicas. Me perguntem de cardápios, de bufês, de lindas mesas, e a resposta estará na ponta da língua. De livros. Quase na ponta da língua. Mas, crônicas? O que são? Uma pincelada sobre o cotidiano, uma dúvida ou espanto, provavelmente, uma pergunta sem resposta.
E começa o programa. Bush, Obama, crise econômica, muito futebol, Edmundo, o animal, Rubinho, a vítima do dia... Sete horas e cinqüenta e seeeeis segundos!!!! O tempo não pára!!!!, Oi, guria, como tá, loira beeeeleeeza? Ao vivo, Rio Grande do Sul....
Taxistaaaaa, meu amiiiigo!!!!!!! - Há discriminação na escrita sobre gastronomia? É considerado um gênero menor? - Gênero menor, não, ínfimo. Claro que há, o menino chega no emprego, inflado, quer trabalhar na política, economia, cobrir a eleição americana e cai na empadinha de palmito? Só o horóscopo talvez seja pior. Um engano, porque escrever bem não depende do assunto, um cara que escreva bem sobre horóscopos seria o mais lido dos jornais, se é que já não é, mesmo escrevendo mal. E o que é que não está ligado à comida ou à fome? - E os mercados brasileiros? Mercados de comida? Cada mercado tem a cara de seu povo, como a comida? - Bom, cada um vai no mercado de sua terra, quando vai, porque as compras são feitas nos supermercados. Visitando um Acre, uma Manaus, o Ver-o-Peso, caímos o queixo com os exotismos, com as maravilhas dos peixes, as ervas, mas, convenhamos, a maioria dos mercados brasileiros são quarteirões sujos, pobres, cheios de banana, farinha, pimenta e pouco mais. Outra dúvida atroz que tenho. Essa busca de produtos brasileiros que ainda não descobrimos e que vamos descobrir para o mundo. Por que achamos tão depressa a manga, o maracujá, a banana, a jabuticaba, o tambaqui, o camarão seco, o siri-mole, e não há meio de descobrirmos aquele verme que dá na madeira podre? O turu? É porque o bicho é ruim!!! "Pode crer, moreninha de Guaxupé, corintiana! Sete e quareeeenta e cinco, ao vivo.
CBN!!!!" Musiquinhas lindas ao piano. Jazz, negros pianistas. - Temos a cara de nosso "terroir"? "Temos a cara de nosso terreiro".
Na próxima entrevista, porei minhas dúvidas na mesa em vez de gaguejar "não sei" o tempo todo... Mas, são simpáticos, o programa é inteligente e sofisticado, fingem que foi tudo ótimo, apesar do lapsus linguae do Dan, que acaba com um grito.
"Pouco assunto e muito tempo, ooops, muito assunto e pouco tempo." E uau! O bacalhau de um motorista de táxi!!!!! Uma bela posta, demolhada, fervida até poder tirar as espinhas, alho frito de leve por cima, muito azeite e martelo nele!!!!!!! (Podem fazer no pilão).
"Fim de expediente, enviem idéias para o blog ou chat ou site!!!!! Fiquem com Juca Kfouri." O bacalhau, depois de bem martelado, vira um patê para comer com pão português quente. Ciao para todos, queremos votação dos melhores programas para repetir nas férias!!!!!!!! Oito horas, CeeeeeBeeeeeN....

ninahorta@uol.com.br



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