São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 2011 |
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ANÁLISE Tombamento não pode garantir a continuidade do cinema DECISÃO RECONHECE VALOR QUE A SOCIEDADE ATRIBUIU AO CINEMA, MAS DEIXA PERGUNTA NO AR: O TOMBAMENTO SERÁ MESMO CAPAZ DE SALVARO BELAS ARTES? ANA PAULA SOUSA DE SÃO PAULO O Conpresp, com sua decisão, pontuou, em primeiro lugar, que o valor que a sociedade atribuiu ao cine Belas Artes não pode ser desconsiderado pelo poder público. Os conselheiros seguiram mais ou menos a seguinte lógica: se esse cinema tem tanta importância assim para a cidade, ele não pode, simplesmente, ser destruído. Com isso, ficou afastado do horizonte o risco de destruição imediata do espaço. Mas a pergunta que fica é: essa decisão será mesmo capaz de salvar o Belas Artes? Mesmo dentro da prefeitura, admite-se que o tombamento não é, nesse caso, a medida ideal. O procedimento foi defendido pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP) porque a sociedade protocolou pedidos formais na secretaria de Cultura, mas também por ser essa a única solução emergencial às mãos do poder público. A desapropriação do edifício, defendida por alguns arquitetos, é, não apenas cara, mas demorada. DESTINO IMPREVISÍVEL O que não se pode prever é o desenrolar do cabo de guerra entre os proprietários do imóvel e do cinema. Se houver um novo acordo de aluguel, o filme deve ter um final feliz. Se o negócio continuar desfeito, o prédio na esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação pode, simplesmente, ficar com as portas cerradas. O Estado, afinal de contas, não pode obrigar o proprietário do imóvel a tocar ali a atividade cinematográfica. O tombamento garante a estrutura física do bem, mas se Flávio Maluf quiser manter as luzes do Belas Artes apagadas, ninguém poderá obrigá-lo a acendê-las. Cabe lembrar que a cidade de São Paulo possui, na região central, sete cinemas tombados: Cine Art Palácio, Cine Dom José, Ipiranga, Marabá, Marrocos, Metrópolis e Paissandu. Todos eles foram considerados patrimônio da cidade no processo de tombamento da área do Vale do Anhangabaú, em 1992. Quase 20 anos depois, o único que voltou a funcionar como cinema foi o Marabá, transformado em Multiplex. Os outros estão fechados. O Ipiranga e o Marrocos já foram decretados como bens de utilidade pública e a secretaria de Cultura tem projetos prontos para ambos. Se a história ensina que o tombamento, por si, não basta, o episódio mostra que São Paulo, tradicionalmente desapegada de sua feição antiga, desenvolveu um instinto de preservação patrimonial e cultural. Além de um espaço que resistiu ao tempo, os paulistanos parecem ter decido manter um espaço que resistiu à mesmice cultural. Texto Anterior: Conpresp abre processo de tombamento do Belas Artes Próximo Texto: Crítica/Folk: Novo duplo de Dylan é só para fãs doentes Índice | Comunicar Erros |
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