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A casa da língua
Museu da Língua Portuguesa abre amanhã abrigando um acervo "high-tech" renovável
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Lalo de Almeida/Folha Imagem
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Telão com 110 m de comprimento na Grande Galeria, que exibirá 11 filmes, com seis minutos cada um, sobre a presença da língua portuguesa em temas do cotidiano brasileiro, como o Carnaval e o futebol
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Com sua abertura amanhã, para convidados, e na terça-feira,
para o público, na Estação da Luz,
em São Paulo, o Museu da Língua
dará ao português um abrigo
"high-tech" e com fôlego. Projeto
orçado em R$ 37 milhões, realizado pela Fundação Roberto Marinho e pela Secretaria de Cultura
do Estado de São Paulo, com investimentos da iniciativa pública
e privada, o Museu da Língua tem
boa parte de seu acervo renovável.
A exposição permanente (em sua
forma) permite que o idioma (seu
conteúdo vivo) seja "biografado"
de seus primórdios até o dias de
hoje. E deixa espaço para, no futuro, ser uma matriz "recarregável".
"É um museu vivo, com variados recursos audiovisuais e de informática. Não é um mausoléu,
mas um museu na acepção moderna do termo", diz Isa Ferraz,
diretora de conteúdo do museu.
"A idéia é que, pela natureza "virtual", o acervo possa ser renovado
e atualizado. É um processo complexo e caro, mas que, mais adiante, poderá e deverá acontecer."
Acomodações
A experiência multimídia começa nos elevadores panorâmicos. Neles, com vista para a Árvore da Língua, escultura iluminada
que exibe os contornos de objetos
e palavras que os nomeiam, os visitantes ouvem um mantra de Arnaldo Antunes que brinca com os
termos "palavra" e "língua" em
vários idiomas. E chegam ao terceiro piso, onde a viagem pelo
português passa por um auditório, onde se assiste a um filme de
dez minutos, criado por Antonio
Risério e dirigido por Tadeu Jungle, que fala da importância da
linguagem e da língua portuguesa
como pátria cultural do brasileiro.
O didático logo dá lugar ao lúdico: como uma porta basculante, o
telão do auditório se abre para a
Praça da Língua, e os visitantes,
sentados nas suas laterais, tomam
um banho audiovisual da prosa e
do verso produzidos em português, com 20 minutos de duração.
"Penetra surdamente no reino
das palavras", convida o ator Matheus Nachtergaele, recitando
Carlos Drummond de Andrade.
Animações, palavras e versos, as
imagens que os ilustram e fotos de
autores varrem paredes e teto. Sabiás voam ao som de "Canção do
Exílio", com Chico Buarque. Tudo termina com o chão da praça
iluminado, com mais de 30 trechos de pérolas da literatura.
No segundo andar, o passageiro
chega à Grande Galeria, onde um
telão de 110 m de comprimento
exibirá, com som direcionado e
em looping, 11 filmes de seis minutos cada um. Os "curtas" mostram como o português aparece
em temas como o Carnaval e o futebol, sintetizados em imagens
como a do tronco de um passista
de samba que dança com as pernas de Garrincha.
"É uma sinfonia audiovisual",
define Victor Lopes (de "Língua -Vidas em Português"), que dividiu com Carlos Nader e Marcello
Dantas a direção dos filmes.
A exposição permanece multimídia, com os tótens das influências no português do Brasil, e uma
Linha do Tempo com a história
do idioma, organizada pelo lingüista Ataliba de Castilho, que
termina em uma seleção de 120
obras marcantes da língua, feita
pelo professor de literatura brasileira da USP Alfredo Bosi. Por
fim, é possível brincar de formar
palavras num jogo interativo cujo
efeito lembra a ficção científica
"Minority Report", de Spielberg.
Saída
No primeiro andar, última parada, o visitante chega à exposição
criada pela diretora e cenógrafa
Bia Lessa para "Grande Sertão:
Veredas", de Guimarães Rosa.
Temporária, a mostra revela a
permanência da obra, publicada
há 50 anos. Lessa expõe a obra
completa, reprodução de uma
versão pertencente ao bibliófilo
José Mindlin, com correções do
próprio autor. As páginas estão
em galhardetes presos ao teto, que
o visitante puxa para ler. O texto
pode ser lido ainda em ângulos
insólitos, a partir de miras ou escadas. "O fato de a exposição estar
num museu, numa estação que se
chama "da Luz" me empolgou
muito", diz Lessa. "É metáfora da
própria língua em movimento, de
algo que está se criando, que é
passado, presente e futuro."
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