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Comentário
Carreira começou, na verdade, em 1950 no rádio
PAULO CESAR DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA A FOLHA
É equivocada a ideia de
que Roberto Carlos
completa agora 50 anos
de carreira. Ele é um cantor que
cresceu com o microfone e
muito antes de existir bossa nova ou iê, iê, iê já se apresentava
no auditório da ZYL-9, Rádio
Cachoeiro de Itapemirim. A
sua estreia ocorreu numa manhã de domingo, em 1950, num
programa para o público infantil. Ele agradou tanto que logo
se tornou uma atração do programa e, a partir daí, nunca
mais parou de cantar.
A religiosidade, a sensibilidade, o carinho pelas plantas e
animais e, principalmente, o
romantismo -características
que marcariam a personalidade do futuro ídolo da música
brasileira- já estavam presentes no menino-cantor em Cachoeiro. Não por acaso, a primeira música que ele cantou no
rádio foi o bolero "Amor y Mas
Amor", de Bobby Capó. Naquela época ainda não havia a tal da
música jovem (que Roberto
ajudaria a criar mais tarde), e
ele tinha mesmo que interpretar um repertório adulto, repleto de dramas passionais.
Assim como as emissoras da
capital, a Rádio Cachoeiro tinha também seu auditório e
um cast de radioatores, humoristas e cantores. Roberto Carlos era um deles, com direito
até a um cachê de 600 cruzeiros
velhos.
Muito se fala das jovens tardes de domingo na TV Record,
nos anos 60. Mas foi nas infantis manhãs de domingo na Rádio Cachoeiro, na década anterior, que Roberto Carlos desenvolveu a sua grande intimidade
com o palco, com o público e
com o microfone. Com apenas
11 anos ele já tinha o seu programa na emissora, aos domingos, com duração de 15 minutos. O detalhe curioso é que seu
programa ia ao ar logo após o do
cantor Francisco Alves na Rádio Nacional. Era uma dobradinha não combinada entre o "rei
da voz" e o futuro "rei" da música brasileira.
Isto significa que Roberto
Carlos estava no lugar certo, no
momento certo. Na época, o rádio era a principal porta de entrada para um candidato a ídolo
-ele tinha que ir lá, mostrar
sua voz e carisma, encarar os
músicos e o auditório antes de
pensar em gravar um disco.
Até porque o rádio servia de
referência para as gravadoras.
Nos auditórios é que se testavam as canções e também os
cantores que poderiam gravá-las. Nomes como Silvio Caldas,
Orlando Silva e Luiz Gonzaga
foram cantores do rádio antes
de serem cantores do disco. Todos os grandes nomes da nossa
música tinham contratos com
alguma emissora. E quem não
tinha queria ter. Por isso, o primeiro e maior desejo de Roberto Carlos era também se firmar
como um cantor do rádio. E a
sua luta começou no distante
1950, em Cachoeiro.
Esquecendo disto tudo, porém, o artista decidiu considerar o marco zero da carreira a
sua estréia como crooner da sofisticada boate Plaza, em Copacabana, em 1959. Ocorre que o
fato mais significativo daquele
ano foi o lançamento de seu
primeiro disco, um single pela
gravadora Polydor. O mais
apropriado, portanto, seria comemorar agora o cinqüentenário da fabulosa discografia de
Roberto Carlos. Esta, sim, completa cinco décadas. Já a sua
carreira tem muito mais tempo, mais sonhos e emoções e vai
completar 60 anos em 2010.
PAULO CESAR DE ARAÚJO, historiador, é autor de "Eu Não Sou Cachorro, Não" e da biografia
"Roberto Carlos em Detalhes", proibida por decisão judicial após processo aberto pelos advogados do cantor
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