São Paulo, domingo, 19 de abril de 2009

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Comentário

Carreira começou, na verdade, em 1950 no rádio

PAULO CESAR DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA A FOLHA

É equivocada a ideia de que Roberto Carlos completa agora 50 anos de carreira. Ele é um cantor que cresceu com o microfone e muito antes de existir bossa nova ou iê, iê, iê já se apresentava no auditório da ZYL-9, Rádio Cachoeiro de Itapemirim. A sua estreia ocorreu numa manhã de domingo, em 1950, num programa para o público infantil. Ele agradou tanto que logo se tornou uma atração do programa e, a partir daí, nunca mais parou de cantar.
A religiosidade, a sensibilidade, o carinho pelas plantas e animais e, principalmente, o romantismo -características que marcariam a personalidade do futuro ídolo da música brasileira- já estavam presentes no menino-cantor em Cachoeiro. Não por acaso, a primeira música que ele cantou no rádio foi o bolero "Amor y Mas Amor", de Bobby Capó. Naquela época ainda não havia a tal da música jovem (que Roberto ajudaria a criar mais tarde), e ele tinha mesmo que interpretar um repertório adulto, repleto de dramas passionais.
Assim como as emissoras da capital, a Rádio Cachoeiro tinha também seu auditório e um cast de radioatores, humoristas e cantores. Roberto Carlos era um deles, com direito até a um cachê de 600 cruzeiros velhos.
Muito se fala das jovens tardes de domingo na TV Record, nos anos 60. Mas foi nas infantis manhãs de domingo na Rádio Cachoeiro, na década anterior, que Roberto Carlos desenvolveu a sua grande intimidade com o palco, com o público e com o microfone. Com apenas 11 anos ele já tinha o seu programa na emissora, aos domingos, com duração de 15 minutos. O detalhe curioso é que seu programa ia ao ar logo após o do cantor Francisco Alves na Rádio Nacional. Era uma dobradinha não combinada entre o "rei da voz" e o futuro "rei" da música brasileira.
Isto significa que Roberto Carlos estava no lugar certo, no momento certo. Na época, o rádio era a principal porta de entrada para um candidato a ídolo -ele tinha que ir lá, mostrar sua voz e carisma, encarar os músicos e o auditório antes de pensar em gravar um disco.
Até porque o rádio servia de referência para as gravadoras.
Nos auditórios é que se testavam as canções e também os cantores que poderiam gravá-las. Nomes como Silvio Caldas, Orlando Silva e Luiz Gonzaga foram cantores do rádio antes de serem cantores do disco. Todos os grandes nomes da nossa música tinham contratos com alguma emissora. E quem não tinha queria ter. Por isso, o primeiro e maior desejo de Roberto Carlos era também se firmar como um cantor do rádio. E a sua luta começou no distante 1950, em Cachoeiro.
Esquecendo disto tudo, porém, o artista decidiu considerar o marco zero da carreira a sua estréia como crooner da sofisticada boate Plaza, em Copacabana, em 1959. Ocorre que o fato mais significativo daquele ano foi o lançamento de seu primeiro disco, um single pela gravadora Polydor. O mais apropriado, portanto, seria comemorar agora o cinqüentenário da fabulosa discografia de Roberto Carlos. Esta, sim, completa cinco décadas. Já a sua carreira tem muito mais tempo, mais sonhos e emoções e vai completar 60 anos em 2010.


PAULO CESAR DE ARAÚJO, historiador, é autor de "Eu Não Sou Cachorro, Não" e da biografia "Roberto Carlos em Detalhes", proibida por decisão judicial após processo aberto pelos advogados do cantor


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