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TEATRO
Iraniano Massoud Saidpour dirige "As Cadeiras", seu primeiro espetáculo no Brasil, que estréia no CCBB do Rio
Vazio da guerra atualiza Ionesco
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Tendo realizado vários work-
shops no Brasil nos últimos cinco
anos, o iraniano Massoud Saidpour, 40, estréia hoje seu primeiro
espetáculo no país. No CCBB do
Rio ele dirige Ricardo Blat, Ana
Paz e Cesar Tavares numa versão
de "As Cadeiras", de Eugène Ionesco (1912-1994).
Para o encenador, erra quem
pensa que a obra do criador do
teatro do absurdo envelheceu.
"As Cadeiras" foi escrita em 1951,
depois da Segunda Guerra, e essa
ferida está no texto. Mas é uma ferida que depois se moveu para a
Coréia, o Vietnã e o Oriente Médio e agora está no Iraque. A guerra nunca vai desaparecer, assim
como não desaparece o vazio de
que trata a peça. O homem olha
para a galáxia e se sente ínfimo,
num vácuo. Essa peça é uma reação ao absurdo da vida", diz.
Saidpour trocou o Irã pelos
EUA aos 14 anos. Viveu na Califórnia e hoje trabalha em Cleveland. "Mas minhas referências
culturais continuam vindo do
Irã", ressalva ele, que planeja visitar seu país em setembro, iniciando uma reaproximação após dez
anos de ausência.
Para Saidpour, os atentados de
11 de setembro de 2001 foram
uma "dupla dor". "Sofria pelas
pessoas que morreram. Mas,
quando me sentava num avião,
por exemplo, percebia que todos
me olhavam, como se eu tivesse
feito aquilo. Foi um tempo difícil,
mas já suavizou", diz.
Quando critica EUA e Irã, o diretor deixa claro que ataca os governos. "É um paradoxo que o gigante ocidental queira civilizar
pessoas através da guerra", diz sobre a ação americana. "Eles podem censurar um filme temporariamente, mas não vários filmes
nem o pensamento humano", diz
ao comentar o fato de o Ministério da Cultura iraniano ter interrompido as filmagens de "Amnésia", de Mohsen Makhmalbaf.
Saidpour é um discípulo de
Jerzy Grotowski (1934-1999), o
polonês que pregava um "teatro
pobre", baseado na relação ator-espectador. "Grotowski foi meu
professor com letra maiúscula.
Ele costuma ser chamado de vanguardista, mas nada pode ser
mais impreciso. Ele era fiel a
[Konstantin] Stanislavski (1863-1938), a quem entendeu profundamente. Nesse sentido, era um
tradicionalista", afirma.
A nova "As Cadeiras" tem adaptações. Passada originalmente em
Paris, a peça foi para o Rio, com
direito a "Valsa de uma Cidade"
(Ismael Netto/Antônio Maria) na
trilha. E o casal protagonista da
história está mais jovem. "A velhice de que trata a peça é a interna, a
decadência dos personagens",
diz, ressaltando que "As Cadeiras" é uma comédia. "Uma comédia no inferno. As pessoas estão
queimando por dentro."
AS CADEIRAS. Onde: CCBB/RJ (r.
Primeiro de Março, 66, centro, Rio, tel.:
0/xx/21/3808-2020). Quando: qua./
dom., às 19h. Quanto: R$ 10. Até 11/7.
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