ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A banda de Eminem está de volta. Banda? "Essas meninas nem sabem o nome da minha banda", ele canta na faixa "My Band", que arremessou o segundo álbum do grupo, "D12 World", ao topo das paradas de sucessos. Formado bem antes do rapper atingir sua fama mundial em 1999, o grupo D12 ainda é conhecido como "a banda de Eminem", como brincam seus MCs na letra e no vídeo do primeiro single.
Mas o grupo passa bem longe das tiradas de mídia e marketing do jovem mestre de Detroit. Resume o rapper Bizaare: "D12: não fomos a lugar nenhum". Essa é a realidade do grupo, que versa pela polêmica como Eminem, mas sem entrar na bolha do megaentretenimento, oásis midiático em que o vocalista tripudia, constantemente, dos grandes nomes pop da atualidade, um escopo que compreende não apenas o imaginário de siglas e marcas como MTV e McDonald's, mas também CNN e Al-Qaeda, além de sua própria vida pessoal, Eminem como grife de si mesmo -um Michael Moore do hip hop, para ficarmos numa comparação leiga.
Já o universo do sexteto pertence à camada de sujeira da vida real que nem sequer vislumbra Hollywood. À espreita, sob luzes de néon refletidas no asfalto molhado, os seis MCs disputam rimas de violência, drogas, sexo e depravação gráficas ao extremo, numa tentativa adolescente de chocar através de descrições grosseiras e palavrões inventados. Velha prática do rap pós-gangsta, o grupo só ganha espaço por ter a companhia estelar de Eminem.
Sorte deles. Como outros artistas à margem do sistema solar do hip hop, tudo que precisavam era de uma oportunidade no grande mercado e a companhia psicótica pop do autor de "Without Me". Como 50 Cent (descoberto por Eminem e Dr. Dre no ano passado), mas sem tanto brilho, o D12 aproveita cada minuto de seu segundo disco para mostrar que não está para brincadeira.
Formado pelos MCs Bizaare e Proof em 1990, o grupo cresceu à medida que os dois convidavam amigos para entrar na banda. A "propriedade" da banda nem é discutida entre seus integrantes -todos apontam para Proof, que é o principal nome do freestyle em Detroit, e se referem a ele como "irmão mais velho". Eminem, colega de rua de Bizaare, completa o grupo ao lado dos MCs Kon Artis, Kuniva e Swifty -este, o último a entrar na banda, após o assassinato do antigo sexto integrante, Bugz, em 1998. A morte do amigo levou os integrantes a usar uma tatuagem com seu apelido.
"D12 World" caminha para repetir o sucesso do primeiro disco do grupo, "Devil's Night", de 2001, e já ultrapassou a casa do meio milhão de discos vendidos só nos Estados Unidos. Produzido em grande parte por Eminem, o disco ainda conta com colaborações com Dr. Dre e Kayne West (o cara por trás de Jay-Z) e dos MCs Obie Trice e B-Real, do Cypress Hill.
Como os Beastie Boys antes dele, Eminem vê sua carreira ganhar peso e importância que, embora inesperada, havia sido cogitada, o que o faz criar uma vida paralela para manter-se fiel à rua. Enquanto os beasties gastavam EPs e singles cheios de remixes e inéditas por todos os anos 90, Eminem prefere prestar lealdade à mesma banda que o conheceu quando ainda era anônimo. Assim, dedica sua carreira solo a atracar-se com players de outra dimensão: Britney Spears, Moby, George W. Bush, Osama bin Laden.

D12 World
  
Artista: D12
Lançamento: Shady/Interscope (importado)
Quanto: R$ 60, em www.amazon.com