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DANÇA
Coreografias contemplam angústias da vida
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
A série "STV na Dança" apresenta duas coreografias que remetem ao Nordeste brasileiro: "Severina Havaiana Paraibana ou a Saga do Amor Desmedido do Pedreiro Baiano na Cidade Grande",
do Grupo Gestos, e "Carnaval em
Sampa", da Cia. Repentistas do
Corpo.
"Severina" parte da literatura de
cordel, com versos criados no estilo dos repentes e das baladas dos
anos 70. Na cena, vê-se roupa no
varal, ao lado de uma construção
imaginária, em que os tijolos são
sandálias havaianas. Um espaço
aberto, onde uma lavadeira e um
pedreiro passam o dia ouvindo
no rádio músicas conhecidas de
30 anos atrás. O encontro se dá
aos poucos, por gestos quebrados
e indecisos, carregados de uma
ternura ainda em busca de expressão.
Na coreografia de Aline Cintra,
que contracena com Tadeu Queiroz, cada um a seu modo traz no
corpo um desencontro e um jeito
próprio de se mover -e esses
movimentos ganham amplitude
quando falam da vida. Movido
pela música, o duo dá forma àquilo que não tem nome, mas que se
compõe e decompõe em solidão e
encontro, angústia e a alegria.
"Carnaval em Sampa" tem concepção, direção e interpretação de
Sérgio Rocha. A partir de uma situação relativamente comum na
vida de um dançarino -um machucado no pé-, Rocha se viu
obrigado a cancelar sua viagem
para passar o Carnaval em Salvador. Sozinho, muito deprimido,
com o pé num balde de gelo, numa pequena sala de um apartamento em São Paulo, vê na TV o
carnaval passar.
Vai aos poucos se liberando e
vivendo seu Carnaval entre quatro paredes: uma peruca, um tambor e uma toalha servem de fantasia e a percussão vem do corpo todo, para completar o ritmo da
dança. A música, que conta o
acontecido e se repete durante toda peça, foi composta por Rocha e
Marcelo Bucoff, entrecortada por
trechos incidentais de "Cortina
5", de Tom Zé, e "Água Mineral",
do Timbalada.
O programa tem bons motivos
para juntar os dois trabalhos.
Com escolhas de movimento e estéticas bem diferentes, as duas coreografias fazem referência ao estado da Bahia, a narrativa de ambas vem em grande parte da música, e as duas lidam com o tempo
interior, revelando de maneira
bem humorada a angústia nossa
de cada dia.
STV na Dança
Quando: hoje, às 05h30.
Reapresentações: amanhã, à 1h; dia 21,
às 19h; e dia 22, às 16h30
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