São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 2005

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DANÇA

Coreografias contemplam angústias da vida

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

A série "STV na Dança" apresenta duas coreografias que remetem ao Nordeste brasileiro: "Severina Havaiana Paraibana ou a Saga do Amor Desmedido do Pedreiro Baiano na Cidade Grande", do Grupo Gestos, e "Carnaval em Sampa", da Cia. Repentistas do Corpo.
"Severina" parte da literatura de cordel, com versos criados no estilo dos repentes e das baladas dos anos 70. Na cena, vê-se roupa no varal, ao lado de uma construção imaginária, em que os tijolos são sandálias havaianas. Um espaço aberto, onde uma lavadeira e um pedreiro passam o dia ouvindo no rádio músicas conhecidas de 30 anos atrás. O encontro se dá aos poucos, por gestos quebrados e indecisos, carregados de uma ternura ainda em busca de expressão.
Na coreografia de Aline Cintra, que contracena com Tadeu Queiroz, cada um a seu modo traz no corpo um desencontro e um jeito próprio de se mover -e esses movimentos ganham amplitude quando falam da vida. Movido pela música, o duo dá forma àquilo que não tem nome, mas que se compõe e decompõe em solidão e encontro, angústia e a alegria.
"Carnaval em Sampa" tem concepção, direção e interpretação de Sérgio Rocha. A partir de uma situação relativamente comum na vida de um dançarino -um machucado no pé-, Rocha se viu obrigado a cancelar sua viagem para passar o Carnaval em Salvador. Sozinho, muito deprimido, com o pé num balde de gelo, numa pequena sala de um apartamento em São Paulo, vê na TV o carnaval passar.
Vai aos poucos se liberando e vivendo seu Carnaval entre quatro paredes: uma peruca, um tambor e uma toalha servem de fantasia e a percussão vem do corpo todo, para completar o ritmo da dança. A música, que conta o acontecido e se repete durante toda peça, foi composta por Rocha e Marcelo Bucoff, entrecortada por trechos incidentais de "Cortina 5", de Tom Zé, e "Água Mineral", do Timbalada.
O programa tem bons motivos para juntar os dois trabalhos. Com escolhas de movimento e estéticas bem diferentes, as duas coreografias fazem referência ao estado da Bahia, a narrativa de ambas vem em grande parte da música, e as duas lidam com o tempo interior, revelando de maneira bem humorada a angústia nossa de cada dia.


STV na Dança
Quando:
hoje, às 05h30.
Reapresentações: amanhã, à 1h; dia 21, às 19h; e dia 22, às 16h30


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