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CINEMA
"Volver", do diretor espanhol, é apresentado hoje no festival francês e tem como atração a volta de Carmem Maura
Almodóvar reencontra Cannes e ex-musa
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
O Festival de Cannes abre hoje
os braços para receber Pedro Almodóvar em competição.
Se não é a primeira vez que isso
acontece -o cineasta disputou a
Palma de Ouro e foi premiado como melhor diretor por "Tudo Sobre Minha Mãe" (1999)- esta é a
segunda parte de uma história
que começou bem diferente.
Quando tentou lançar sua carreira em Cannes, Almodóvar teve
o filme recusado pelo festival. A
decisão é um dos poucos arrependimentos confessos na história do
francês Gilles Jacob como diretor
do mais prestigiado festival de cinema do mundo.
"Lamento não haver percebido
suficientemente rápido a importância de Almodóvar", declarou
Jacob, num mea-culpa.
Reencontro
Há muito tempo reconciliado
com Cannes, Almodóvar traz para a disputa desta 59ª edição do
festival a história de outros reencontros. "Volver" (voltar), seu
novo longa-metragem, já estreado em seu país, conquistou uma
parcela do público espanhol que
havia torcido o nariz para os últimos trabalhos do diretor.
Coincidência ou não, o filme é
estrelado por Penélope Cruz,
atriz-fetiche do cineasta, e por
Carmem Maura, musa da primeira fase de sua obra, de quem ele se
afastou em 1989, no auge do sucesso de "Mulheres à Beira de um
Ataque de Nervos". Diretor e atriz
não comentaram publicamente
as razões de seu desentendimento. No entanto, Maura deixou claro que, com "Volver", ela retomou a parceria profissional com
Almodóvar, não a amizade.
"O que me interessa em Pedro é
o cineasta. Do resto, não quero saber nada, porque não sei se a pessoa que eu conheci ainda está lá",
disse a atriz ao diário francês "Le
Monde", que dedicou a capa de
seu caderno especial sobre Cannes ao filme do espanhol.
Em "Volver", é a personagem
de Maura que, depois de morta,
retorna ao diálogo com sua família. Ela é mãe de Raimunda
(Cruz), que por sua vez foi mãe
aos 14 anos de idade, e de Sole.
Já adulta, Raimunda toca a vida
de casada com um operário desempregado e lida com a filha
adolescente. Sole é cabeleireira.
Almodóvar está de novo às voltas
com o universo das mulheres.
O segundo filme que estréia hoje na competição é "Fast Food Nation", do americano Richard Linklater ("Antes do Pôr-do-Sol"). A
partir de um episódio de contaminação na carne do sanduíche-símbolo de uma rede de fast-food,
Linklater fala de uma América em
processo de apodrecimento. O filme foi aplaudido efusivamente na
sessão para imprensa de ontem.
O dado curioso sobre o diretor
norte-americano é que ele compete com dois filmes neste festival. Na mostra Um Certo Olhar,
paralela à competição principal,
Linklater assina "A Scanner
Darkly", outra mirada sobre os
EUA, desta vez com foco no tráfico de drogas e no terrorismo.
Elogiado Ken Loach
Com o devastador "The Wind
that Shakes the Barley", sobre a
Guerra Civil Irlandesa, o inglês
Ken Loach arrancou aplausos da
crítica na sessão de ontem e demonstrou que vai disputar com
força os prêmios principais do
festival. "Há sempre um Exército
de ocupação em algum país ao
qual a população resiste. Não é
necessário dizer em qual lugar do
mundo o Reino Unido, ilegalmente, mantém um Exército de
ocupação", disse o engajado cineasta, em entrevista coletiva.
Com agências internacionais
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