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Oficina reinterpreta fim de "Os Sertões"
DA REPORTAGEM LOCAL
Noite de sábado, dia da libertação dos escravos. Os carros que
passam em frente ao teatro Oficina, no Bexiga, dão com latões em
chamas e homens armados. É
uma tropa de soldados rumo a
Canudos, em meio a coristas vistosas, a fundir a guerra de 1897
com a guerra deste 2006, quando
São Paulo borra o arcaico e o moderno em seu pandemônio.
São três, quatro minutos de cenas que ocupam parte do viaduto
Jaceguai, o asfalto da r. Jaceguai e
a calçada de onde um espevitado
José Celso Martinez Corrêa, 69,
acompanha o início do ensaio
corrido de "A Luta -°Parte 2".
Hoje, às 18h, o coletivo de cerca
de 60 artistas do Oficina Uzyna
Uzona estréia a derradeira parte
de "Os Sertões", dos projetos teatrais mais importantes da década.
Desde 2002, o grupo empenha-se em "recriar e devorar" o clássico de Euclydes da Cunha (1866-1909). Já foram encenadas "A Terra" (2002), "O Homem - Parte 1"
(2003), "O Homem - Parte 2"
(2003) e "A Luta - Parte 1" (2005).
Agora, o "épico musical brasileiro", na definição de Zé Celso
("o livro de Euclydes é um imenso
poema clamado por ser cantado e
dançado"), se encerra com a última etapa da Guerra de Canudos
(1897), quando a quarta expedição do Exército mata 25 mil seguidores de Antônio Conselheiro.
No teatro Oficina, segundo o diretor, o massacre é encenado não
como uma missa de repetição do
martírio, mas da perspectiva de
um "des-massacre".
Trata-se de remissão ao shopping que o Grupo Silvio Santos
diz que vai construir a partir do
segundo semestre no entorno do
teatro, em terreno de sua propriedade. Não se entende inteiramente o monumental projeto de "Os
Sertões" sem esse impasse.
Às réplicas de canhões e espingardas que desfilaram nas montagens anteriores, o diretor de arte
Osvaldo Gabrieli agrega a "matadeira": o canhão 32 do Exército,
uma estrutura de ferro de meia
tonelada, em forma de globo.
Em cerca de sete horas, a narrativa conduzida por elenco de fôlego -das crianças do projeto Bixigão à nonagenária bailarina Renée Gumiel - inclui mais de 50
composições, por Péricles Cavalcanti, Celso Sim e pelo diretor
musical Marcelo Pellegrini, além
da interação com o vídeo e, claro,
o público. Eis um mutirão.
(VS)
A Luta - Parte 2
Quando: estréia hoje, às 18h; sex. a
dom., às 18h
Onde: Teatro Oficina (r. Jaceguai, 520,
tel. 0/xx/11/3106-2818
Quanto: R$ 30
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