São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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Oficina reinterpreta fim de "Os Sertões"

DA REPORTAGEM LOCAL

Noite de sábado, dia da libertação dos escravos. Os carros que passam em frente ao teatro Oficina, no Bexiga, dão com latões em chamas e homens armados. É uma tropa de soldados rumo a Canudos, em meio a coristas vistosas, a fundir a guerra de 1897 com a guerra deste 2006, quando São Paulo borra o arcaico e o moderno em seu pandemônio.
São três, quatro minutos de cenas que ocupam parte do viaduto Jaceguai, o asfalto da r. Jaceguai e a calçada de onde um espevitado José Celso Martinez Corrêa, 69, acompanha o início do ensaio corrido de "A Luta -°Parte 2".
Hoje, às 18h, o coletivo de cerca de 60 artistas do Oficina Uzyna Uzona estréia a derradeira parte de "Os Sertões", dos projetos teatrais mais importantes da década.
Desde 2002, o grupo empenha-se em "recriar e devorar" o clássico de Euclydes da Cunha (1866-1909). Já foram encenadas "A Terra" (2002), "O Homem - Parte 1" (2003), "O Homem - Parte 2" (2003) e "A Luta - Parte 1" (2005).
Agora, o "épico musical brasileiro", na definição de Zé Celso ("o livro de Euclydes é um imenso poema clamado por ser cantado e dançado"), se encerra com a última etapa da Guerra de Canudos (1897), quando a quarta expedição do Exército mata 25 mil seguidores de Antônio Conselheiro.
No teatro Oficina, segundo o diretor, o massacre é encenado não como uma missa de repetição do martírio, mas da perspectiva de um "des-massacre".
Trata-se de remissão ao shopping que o Grupo Silvio Santos diz que vai construir a partir do segundo semestre no entorno do teatro, em terreno de sua propriedade. Não se entende inteiramente o monumental projeto de "Os Sertões" sem esse impasse.
Às réplicas de canhões e espingardas que desfilaram nas montagens anteriores, o diretor de arte Osvaldo Gabrieli agrega a "matadeira": o canhão 32 do Exército, uma estrutura de ferro de meia tonelada, em forma de globo.
Em cerca de sete horas, a narrativa conduzida por elenco de fôlego -das crianças do projeto Bixigão à nonagenária bailarina Renée Gumiel - inclui mais de 50 composições, por Péricles Cavalcanti, Celso Sim e pelo diretor musical Marcelo Pellegrini, além da interação com o vídeo e, claro, o público. Eis um mutirão. (VS)


A Luta - Parte 2
Quando: estréia hoje, às 18h; sex. a dom., às 18h
Onde: Teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, tel. 0/xx/11/3106-2818 Quanto: R$ 30


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